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sábado, 27 abril, 2024

Brazil, 2023

Por Eustáquio Palhares

A sentença clássica de que nos tempos de guerra a primeira vítima é a verdade tornou-se o manto da realidade brasileira e da polarização que mira essa realidade com lentes distintas.

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E divergentes. A verdade passou a ser inteiramente depreciada em função de suas versões.

Uma ideia ou manifestação não é avaliada pelo seu mérito intrinseco mas pelo lado de onde ou de quem a propõe.

O jornalismo sucumbiu a isso. O engajamento de parte considerável da mídia nacional na avaliação e interpretação dos fatos prevaleceu sobre valores sagrados do ofício, como o compromisso com a isenção possível do relato, o distanciamento crítico que era proporcionado com a desidentificação do jornalista, de modo que a apreciação do fato não envolvesse seu sistema de valores pessoais, crenças, idiossincrasias e referências, mas um relato objetivo, a descrição do evento para além dos filtros ideológicos.

Assim, os manifestantes de oito de janeiro em Brasília, tornaram-se “golpistas”. As dúvidas que em outras épocas ministros destacados como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes arguíam, suspeitando do sistema eletrônico de votação, foram substituídas por novas certezas, agora convenientes à situação que defendem. O mito da imparcialidade da Justiça foi solene e afrontosamente escanteado por óbvias condutas e posturas agora reveladas quando ministros do STF sentem-se “traídos” pelo voto do líder do Governo no Senado a favor da PEC que elimina o voto monocrático da Corte. Instaurando inquérito, julgando e sentenciando, o STF revive o cinismo do “L’Etate c´est moi” com que o rei francês desdenhava do clamor revolucionário antes de ter a cabeça decepada. Os ministros do Supremo Tribunal Federal tornaram-se entidades, converteram-se, eles, na própria lei.

É óbvio que a manifestação genuinamente cidadã, cívica, do oito de janeiro foi o estuário de manifestações legítimas que se espalharam pelo Brasil com a vigília na porta dos quartéis e a preocupação de não poluir a autenticidade do ato com extravazamentos de vandalismo, o que, infelizmente, não preveniram no evento de Brasília.

A questão no Brasil hoje transcende largamente à polarização entre direita e esquerda e a personificação desse embate entre o ex-presidente e o presidente atual. Coloca-se como a mais grave investida contra a Democracia pelo STF amordaçando a manifestação popular, intimidando de modo ostensivo e inédito a sociedade que, enquanto povo – pelo menos o brasileiro – age como povo, passivo, paciente e sobretudo temeroso de retaliações. Os opressores têm plena consciência disso. Prevalecem-se disso…

Quando o verdadeiro líder do PT, José Dirceu (convenientemente clandestino) vociferou que o projeto não era de Governo, mas de Poder, na prática antecipou tudo o que se vê no Brasil atual, com o conluio assumido, nada tácito, de uma Suprema Corte que há muito outorgou-se o poder de se colocar acima dos demais poderes. A esquerda não dissimula que um dos seus princípios é o de que os fins justificam os meios e para tanto assume o arbítrio como forma de preservar e manter o poder que ameaça lhe escapar pela decepção da sociedade. Veja-se Lula nomeando o seu advogado para o STF. Claro que uma pessoa atenta ao mínimo critério de ética e favorecimento se pejaria de fazê-lo. Agora, o ministro Flávio Dino será nomeado para a Suprema Corte e o rito de sabatina e aprovação pelo Congresso nada representa senão uma farsa não menos cínica. A retomada pelo Governo petista dos financiamentos do BNDES aos países sul-americanos e africanos, veementemente denunciada por se tratar de desvio de dinheiro público para financiar o projeto ideológico da expansão continental socialista de José Dirceu, reforça a realidade de que a omissão e o silêncio de uma sociedade acovardada constituem permissão para todas as arbitrariedades e desatinos. Era, na verdade e desde sempre, disso que Zé Dirceu falava. A capacidade de maquinação da esquerda não prevê um entendimento com a realidade e isso é que desnudará, na linha do tempo, a farsa que hoje se encena.

Eustáquio Palhares é especialista em comunicação empresarial, gestão de crise e de imagem.

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