Projeções apontam que na reunião marcada para setembro, o Comitê de Política Monetária deverá elevar a taxa básica de juros, em queda desde agosto de 2023
Por Kikina Sessa
Projeções do mercado financeiro apontam para uma provável elevação da taxa básica de juros, a Selic, atualmente em 10,5% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), marcada para 17 e 18 de setembro. O próprio diretor de Política Monetária do BC, Gabriel Galípolo, afirmou que um aumento da Selic está entre as opções na mesa do Banco Central.
A expectativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é de que ocorra um aumento de 0,5 ponto percentual na Selic. De acordo com Felipe Tavares, economista-chefe da CNC, a principal consequência é o encarecimento do crédito e, com isso, uma maior dificuldade dos consumidores comprarem.
A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) calculada pela entidade recuou pela segunda vez seguida em agosto. Para Tavares é certo que o Natal será mais desafiador, afirmando que o cenário atual é decorrente de um problema de desequilíbrio fiscal.
“Os juros afetam o setor produtivo do varejo e com o aumento da taxa não vão resolver o problema da inflação, porque não foi causado por descontrole da demanda. Quem vai pagar essa conta vai ser o varejo”, concluiu.
O preço dos produtos e serviços é estabelecido pela relação entre a oferta e a demanda por eles. Sempre que a demanda aumenta frente à oferta, os preços sobem e o poder de compra da população diminui por conta da inflação.
Na intenção de controlar a alta dos preços, o Banco Central atua na elevação da taxa de juro, que encarece o crédito, força uma redução da demanda e, consequentemente, da própria inflação.
“Apesar de efetiva, a alta do juro desaquece a economia, afetando negativamente diversos setores, em especial aqueles cuja demanda depende fortemente de crédito. Entre eles, destacam-se o mercado imobiliário e o varejo de itens de maior valor, como automóveis e eletrodomésticos”, comenta Marcel Lima, assessor de investimentos e Conselheiro do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES).
Naturalmente, por efeito cascata, a alta do juro também provoca um arrefecimento nos demais segmentos da economia, já que parte dos recursos alocados por meio de crédito deixam de existir e a escassez do dinheiro passa a impactar a tomada de decisão do consumidor também em outros setores.
“No contexto atual, a expectativa de elevação Selic na próxima reunião do Copom já deve ter efeitos diretos no crédito de curto prazo, como o rotativo do cartão de crédito e cheque especial. Esse efeito especulativo pode de fato afetar o varejo nas compras de Natal, prejudicando as vendas de um setor de margens apertadas e que é altamente dependente de sazonalidade”, afirma Marcel Lima.
Em 3 de agosto de 2023, o BC iniciou o ciclo de queda dos juros, com seis cortes seguidos de 0,50 ponto percentual. Contudo, em maio, o comitê decidiu reduzir o ritmo das reduções, com um corte de 0,25 ponto percentual. Com isso, a Selic chegou aos 10,50% ao ano e permaneceu inalterada.