Marcos do Val retornou ao Senado após polêmicas envolvendo investigações da PF
Por Redação
Após mais de um mês afastado das atividades políticas por conta de uma licença médica, o senador capixaba Marcos do Val (Podemos-ES) comemorou, em pronunciamento no Plenário na última terça-feira (1º), seu retorno ao Senado. O parlamentar é investigado pela Polícia Federal (PF) por ter declarado que sabia da articulação de um golpe de Estado.
O senador destacou que o empenho para apurar as responsabilidades dos fatos ocorridos no dia 8 de janeiro gerou problemas que afetaram “sua saúde, sua família e sua honra”. Do Val alegou que só se afastou do cargo após garantir que sua missão seria continuada com o apoio de colegas senadores.
— O desgaste da luta política e do trabalho excessivo que eu empreendi desde o começo do ano, para que se fizesse a justa apuração das responsabilidades pelos fatos lamentáveis ocorridos no fatídico 8 de janeiro, tem me custado muito caro. […] Só me afastei depois de assegurar que o meu posto, na luta pela verdade e pela justiça, a respeito do dia 8 de janeiro, não seria deixado descoberto. Contei com a preciosa colaboração dos meus colegas senadores Marcos Rogério [PL-RO], Eduardo Girão [Novo-CE], Esperidião Amin [PP-SC], dentre outros, que ecoaram a minha voz na CPMI — disse o parlamentar.
Do Val se vê em um momento de isolamento político. O senador capixaba tem sido alvo de investigação pelos órgãos de inteligência desde fevereiro, quando o ministro Alexandre de Moraes autorizou a abertura de um inquérito para apurara afirmação de Do Val de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) arquitetou um golpe de Estado para impedir a posse de Lula (PT).
Após as acusações, Do Val recuou e chegou a afirmar que a iniciativa teria partido de Daniel Silveira, ex-deputado federal.
Busca e apreensão da PF
Diante de um cenário de pressão interna e externa, Do Val sofreu uma “nova derrota” quando a Polícia Federal realizou buscas em diversos endereços relacionados ao senador capixaba, incluindo o seu gabinete no Congresso Nacional, em Brasília. Os mandados foram cumpridos na capital federal e no Espírito Santo.
As redes sociais de Do Val também foram bloqueadas por determinação de Moraes. O perfil no Twitter, por onde o senador costuma se comunicar com seus eleitores, aparece como indisponível. No Instagram e Facebook, as páginas do senador encontram-se indisponíveis.
Relatório da PF e Depoimentos
No início do mês, a PF apresentou um relatório com as mensagens encontradas no celular apreendido do senador. O documento constatou que o parlamentar compartilhou informações sobre a trama de golpe de Estado por meio de dois grupos de WhatsApp: o “Chefias” e o “Amigas para a eternidade”.
As conversas com o grupo “Chefias”, composto por 2 assessores de seu gabinete, foram curtas. Nos diálogos, Do Val antecipou os diálogos com Daniel Silveira e descreveu o plano como uma “missão que entrará para a história do Brasil/mundo”.
No entanto, foi no grupo “Amigas para eternidade” (nome fictício, conforme apurou a investigação) que o senador se expressou de maneira mais aberta. Em textos e áudios cheios, outros participantes chegaram a comemorar a possibilidade do golpe: “Eu tô vibrando, vibrando, mas já vou apagar a mensagem!”, disse uma das “amigas”.
Na última semana, Bolsonaro prestou depoimento à PF sobre o caso. O ex-presidente demonstrou mais um distanciamento de Do Val ao exibir para a imprensa presente no local uma captura de tela em que mostra a resposta dada às proposições do senador. Após a sugestão de manobra antidemocrática, Bolsonaro respondeu a Do Val “coisa de louco”, insinuando discordância das propostas do capixaba.
Em carta escrita na prisão, Daniel Silveira negou a versão do senador e o chamou de palhaço. O carioca ainda classificou a trama de Do Val como “ridícula” e “baboseira”.
Na última semana, o senador esteve envolvido em mais um episódio polêmico. Enquanto caminhava na orla da Praia de Camburi, em Vitória, o parlamentar foi hostilizado por um homem não identificado. A ação foi gravado e compartilhada em grupos de aplicativos de mensagens e nas redes sociais.
O autor do vídeo chama Do Val de “a maior vergonha capixaba”. O parlamentar não respondeu aos ataques e não se pronunciou sobre o caso.
Analista vê erro de cálculo político
Para o analista político Darlan Campos, Do Val traçou de maneira equivocada sua estratégia política em oposição ao governo Lula. Campos ainda cita os possíveis impactos para a sequência do mandato do senador.
“O senador Marcos Do Val, especialmente após a derrota de Bolsonaro e a vitória de Lula, impetrou com uma estratégia de mandato de construir uma imagem de enfrentamento, tanto com o Governo Federal e também com a Suprema Corte. E essa estratégia tem se mostrado politicamente onerosa para ele” apontou o analista político.
“É importante a gente avaliar que o “enfrentamento” com o poder constituído é feito por meio de denúncias, que às vezes chegam até no campo da calúnia e da difamação. Até o presente momento, (o senador) não sustentou, em grande parte, as denúncias feitas. Acho que houve um erro de cálculo político, até quando e onde ele conseguiria ir”, complementou Darlan.