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terça-feira, 30 abril, 2024

A literatura para crianças e jovens

São muitos os desafios que a literatura infanto-juvenil enfrenta para cativar o exigente público que cresce exposto às telas

Por Francisco Aurelio Ribeiro

“Quando escrevo para crianças sou compreendida, mas quando escrevo para adultos fico ‘difícil’? Deveria eu escrever para os adultos com as palavras e os sentimentos adequados a uma criança? Não posso falar de ‘igual para igual’?” (Clarice Lispector).

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Uma das grandes dificuldades para quem se propõe escrever para crianças é justamente essa apontada por Clarice Lispector: encontrar “palavras e sentimentos” que tornem o texto literário um diálogo de “igual para igual” entre adultos e crianças. Como conseguir isso sem reduzir os valores que devem ter uma obra literária? O desafio é ainda maior quando se sabe que, muitas vezes, os textos literários, principalmente os dirigidos ao leitor jovem ou à criança, têm servido de pretexto para lições de moral e de didatismo, em que o adulto tenta capturar a suposta inocência da criança para transmitir-lhe valores e comportamentos culturais ou ideológicos.

Monteiro Lobato, ao criar a moderna literatura infantojuvenil brasileira, na década de 1920, rompeu com uma tradição moralizante, educativo-pedagógica da literatura de língua portuguesa escrita para o público leitor jovem, que era mais um “pastiche” da literatura reescrita em Portugal e vinda de outros países europeus. No entanto, só teve seguidores à altura a partir dos anos 70, quando surgiram os textos de Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Ziraldo, Sylvia Orthof e Lygia Bojunga Nunes, dentre outros, que elevaram o estatuto da literatura infantojuvenil brasileira, premiada e reconhecida internacionalmente.

A literatura, por ser um produto cultural humano, criada por seu “imaginário”, é fruto da necessidade de transformar em símbolos e representações suas descobertas, angústias, ansiedades, desejos e frustrações. Por isso, não se pode desvincular literatura de literatura infantojuvenil. Esta, embora tenha uma linguagem própria, e um sentimento adequado ao público a que se destina, deve estabelecer uma comunicação de troca entre o adulto-emissor e a criança ou jovem, leitor-receptor. Em síntese: a) A literatura infantojuvenil é um fenômeno cultural-artístico, que deve ser construído em linguagem predominantemente poética, com função estética. B) Toda arte é simbólica.

A literatura como “arte da palavra”, poderá perder seu valor de dialogar mais profunda e abrangente com maior número de receptores, não despertando a reflexão e a criação que se devem esperar de um texto artístico, se pretender privilegiar o caráter educativo ou informativo em detrimento do estético. C) Os textos literários são importantes pontos de partida para a leitura do mundo, da vida social e do mundo individual. Sob a rubrica da literatura infantojuvenil, muito se tem escrito e publicado para crianças e jovens.

No entanto, a escola não tem conseguido criar o gosto pela leitura entre eles, como se desejaria. O educador deve descobrir, para poder transmitir, que a leitura é o estabelecimento de diálogos entre os homens, no tempo e no espaço, e uma forma simbólica de registrar a realidade pela palavra escrita. Ler é ver o mundo e, mais do que isso, uma forma de reescrevê-lo, segundo o mestre Paulo Freire.

Francisco Aurelio Ribeiro é capixaba de Ibitirama, pequena cidade na serra do Caparaó, onde nasceu em agosto de 1955. Formado em Letras e Direito, fez especialização em Língua Portuguesa e Administração Universitária, e mestrado e doutorado em Letras. É professor universitário há mais de 20 anos. Possui 35 livros publicados, dentre literatura infanto-juvenil (14), crônicas (03), poesia (01) e os demais de crítica e historiografia literária, além de inúmeros artigos, crônicas e poemas em várias publicações. É um incansável pesquisador de Literatura e História do Espírito Santo. Pertence à Academia Espírito-santense de Letras, Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, ABRALIC, FNLIJ, PROLER-ES,AEI-LIJ, dentre outras instituições.

Foi secretário de Produção e Difusão Cultural da Universidade Federal do Espírito Santo no início dos anos 90. Graças ao trabalho desenvolvido lá, a Literatura Capixaba conheceu novos escritores que se consolidaram como revelações da década. A SPDC sob sua direção publicou também livros inéditos de autores consagrados, firmando seus nomes no cenário da nossa Literatura, e mantém intensa atividade intelectual e literária. Atualmente possui uma coluna de crônicas no Caderno 2 do jornal A Gazeta.

 

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