Série Queimado: fique por dentro da obra de restauro

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Vista dos fundos do sítio histórico do Queimado já restaurado. Foto: Wesley Ribeiro

Com o restauro, destacaram-se também as pedras amontoadas do entorno da igreja guardando a luta dos negros que habitaram a região

Por Wesley Ribeiro 

A alvenaria típica do século 18 e 19, o piso original da época, digitais em todos os tijolos encontrados estão entre os principais elementos encontrados durante a obra de restauro do sítio histórico São José do Queimado, na Serra, na Grande Vitória.

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Com as obras, que somaram investimentos da ordem de R$1,3 milhão, foram reconstruídos o arco do cruzeiro e, acrescentados, com aço, elementos contemporâneos: um frontão, um mezanino e uma escada. Além de embelezar o patrimônio, esses elementos permitem a observação e uma movimentação mais amplas pelo local.

Esta é a terceira de uma série de reportagens especiais que o Portal ES Brasil vem publicando sobre o sítio histórico. Para acessar as demais, basta clicar nos links abaixo:

Destacaram-se também as pedras das ruínas que estão no entorno da igreja, amontoadas, guardando a luta dos negros que habitaram a região. Todo o patrimônio está acessível e sinalizado com placas educativas. Todo o patrimônio está acessível e sinalizado com placas educativas.

As informações são da Prefeitura Municipal da Serra, responsável pelo projeto arquitetônico, que já existia há quase dez anos. As obras, posteriormente entregues ao Instituto Modus Vivendi, a partir de um acordo de cooperação técnica e financeira assinado entre a prefeitura e o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades), começaram com a limpeza e monitoramento arqueológico do monumento.

Pedras do meio da nave

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Pedras do meio da nave. Foto: Wesley Ribeiro

As peças desse ponto compõem um significativo elemento arquitetônico conhecido como frontão e tinham como finalidade a decoração da fachada da Igreja de São José do Queimado, em sua parte mais elevada. A entrada da igreja é um dos elementos de maior destaque na composição de sua arquitetura, sendo considerada como parte constituinte da paisagem.

Cabe destacar que, segundo o município, dentro dos aspectos construtivos, vê-se na obra a compatibilidade entre a alvenaria e a arte aplicada, onde a significativa espessura das paredes de pedra permitiu a modelagem do frontão que decorava a entrada da igreja.

Arco cruzeiro

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Arco do cruzeiro. Foto: Wesley Ribeiro

Durante os estudos arqueológicos na igreja, foi realizada a retirada de parte do cruzeiro que havia caído. No manejo das ruínas, os arqueólogos evidenciaram a escada que dava acesso ao altar, onde também foram encontrados vestígios como tecidos ornamentais com franjas douradas, moedas centenárias, vidros de oratório, cravos do piso, moldura do painel do altar contendo pinturas e parte do retábulo. Uma curiosidade que chamou a atenção dos pesquisadores foram as marcas de dedos (digitais) em todos os tijolos encontrados, onde o oleiro marcava a sua produção com o intuito de garantir o pagamento do lote entregue.

Outra descoberta importante foi o sistema construtivo implantado no arco do cruzeiro, com a preparação da alvenaria para receber tijolos maciços e tijoleiras, atentando para a forma e encaixe necessário no vão do altar.

Piso antigo

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Piso original da época, entre o século 19 e 18. Foto: Wesley Ribeiro

A evidenciação do piso da igreja foi realizada pela equipe de arqueologia e apresentou dois períodos distintos. O primeiro, produzido por aterro antigo, onde a profundidade percebida chegou a 70 cm do nível atual, sendo que os indícios apontaram para uso de plataformas de madeira tipo tábuas ou pranchas na circulação interna.

O outro piso foi observado com aterro produzido por restos construtivos para colocação de uma fina camada de cimento queimado, com aspecto rústico e craquelado, sendo este relacionado ao final do século XX.

A percepção da arqueologia teve sua base teórica nos componentes de formação dos aterros e nos vestígios encontrados como os cravos de grandes dimensões, além da cronologia dos pregos forjados de cabeça quadrada e as feições no solo provocadas por restos orgânicos da madeira.

Pedras do átrio

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Pedras do átrio. Foto: Wesley Ribeiro

A entrada da igreja é um dos elementos de maior destaque na composição de sua arquitetura, sendo considerada como parte constituinte da paisagem.

 

Vemos nos vestígios expostos dessa arte, na Igreja de São José do Queimado, a modelagem da estrutura e os trabalhos feitos na pedra. E por falar em pedra, cumpre lembrar que o especialista que esculpe a rocha chama Canteiro e seus trabalhos eram amplamente difundidos durante o período colonial, pois ele dava formas ornamentais ou estruturais para obras de todo porte.

Paredes de pedras

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Paredes de pedra. Foto: Wesley Ribeiro

Durante as escavações arqueológicas, foi evidenciada a fundação das paredes com bases reforçadas que garantiram a permanência das estruturas visíveis, mostrando o cuidado dos seus construtores.

No modelo arquitetônico proposto para a Igreja de São José do Queimado, foi observada a constituição das pedras irregulares vindas de leitos de rio e depósitos marinhos, onde foram assentadas em argamassa composta de argila, areia, cal e aglomerados, introduzindo resistência e vedação.

As condições e os custos da alvenaria levaram à preferência pelo método conhecido na arquitetura colonial como do tipo ‘canjicado’, onde a escolha das pedras garantiu o arranque dos blocos, intercalando as rochas maiores com as menores.

Sem dúvida, esse método construtivo é percebido na paisagem pela sua imponência e robustez, sendo no Brasil uma das alvenarias mais empregadas entre os séculos XVIII e XIX.