A divulgação do PIB do II trimestre de 2021 suscitou toda sorte de reações
Por Arilda Teixeira
Houve quem o chamou de “pibinho”; quem se alvoroçou com os 6,4% de crescimento no acumulado ao longo do ano; e, também, quem digeriu seus números com parcimônia – dentre eles, este artigo.
Que as trajetórias da economia brasileira são erráticas até as areias da praia sabem. O que, neste momento é preciso saber é como fazer uma leitura imparcial, para que se capte a mensagem que as estatísticas passaram.
Como ainda estamos no II trimestre, o ângulo mais adequado para analisar o desempenho do PIB é comparar o II trimestre de 2021 com o II trimestre de 2020, que, nas expressões do IBGE, é o trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano anterior.
Sob esse ângulo de comparação, a taxa de crescimento da economia foi de 12,4%, sugerindo uma melhora significativa de desempenho, haja vista que no II trimestre de 2020 essa taxa caiu 10,9%.
Contudo, não se pode esquecer que, no II trimestre de 2020, o Brasil enfrentava um dos momentos mais críticos da pandemia que disseminava seu vírus país afora.
Correndo na raia miúda, governadores e prefeitos, atônitos diante a omissão do Chefe de Estado sobre a gestão da pandemia, adotaram medidas de isolamento, que freou a economia; e o Ministro da Economia, acreditando que o mercado se auto-regularia, foi para a janela esperar a banda passar.
Esse cenário explica por que, no II trimestre de 2021 o PIB cresceu 12,4% – é mais efeito negativo do impacto da conjuntura econômica-sanitária de 2020 do que retomada de crescimento.
Se olharmos pela perspectiva do IBGE – acumulado ao longo do ano em relação ao mesmo período ao ano anterior -, encontra-se uma taxa de crescimento de 6,4% – positiva, e mais realista. Que, por sua vez, passa dois recados.
O primeiro, muito confortante – o comportamento da atividade econômica está reagindo, buscando espaço para crescer. Ótimo!
O volume de investimento em 2021 aumentou 32,9% – em 2020 esse aumento foi de 17%.
As importações aumentaram 20,2% em 2021 – em 2020 esse crescimento foi de 7,7%. Como importações são, predominantemente, insumos para produzir, é possível ver nelas sinais de reação da atividade econômica.
Contudo, uma rota de crescimento sustentado, é pavimentada com investimentos, capital humano, estabilidade macroeconômica, e segurança jurídica em ato contínuo. Por enquanto, o acesso a esses elementos ainda não está assegurado. Este é o segundo recado.
É aí que a porca torce o rabo. A taxa de investimento do Brasil é baixa e insuficiente para formar o estoque de capital necessário para sua economia entrar na rota do crescimento sustentado.
Comparando com países da América Latina o Brasil tem a menor taxa de investimento em proporção do PIB (17,8%) – Colômbia (26,7%), Peru (24%), Chile (23,3%), México (23,3%), Uruguai (19,7%) e Argentina (16,9%). Também é o lanterna desse quesito entre os BRICS.
Estudos já indicaram que, para o Brasil constituir uma estrutura produtiva de crescimento sustentado é necessário investir por, pelo menos durante 25 anos, em torno do 25% do PIB ao ano. Está longe desse percentual – a queda 4,5% do PIB de 2020 foi maior do que a de 2015 e 2016, no Governo Dilma. Ainda há dever de casa para fazer.
Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape Business School.