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quarta-feira, 1 maio, 2024

“Uma grande celebração”, diz ator do musical de Belchior em entrevista

Estrela do espetáculo ‘Belchior – Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro’ compartilha bastidores e desafios do papel em entrevista ao ES Brasil

Por Mariah Friedrich

“Belchior – Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” tem levado a mensagem da arte do músico para os palcos de todo o país e chega ao Teatro Universitário no próximo fim de semana, com sessões na sexta (26), às 20h, sábado (27), às 20h e 17h e domingo (28), às 17h e ingressos a partir de R$ 25,00 (meia), na Sympla.

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"Uma grande celebração", diz ator do musical de Belchior em entrevista
Pablo Paleólogo (esq.) e seu parceiro de cena Bruno Suzano (dir.) – Foto por: Ivana Mascarenhas/ Divulgação

Assumir a missão de encarnar um artista tão complexo e multifaceatado foi um desafio
que o ator, cantor e compositor Pablo Paleólogo abraçou com paixão e dedicação, que têm se refletido no sucesso nacional que o espetáculo tem alcançado. Em entrevista exclusiva à ES Brasil, ele compartilhou os bastidores da experiência e os desafios de dar vida a um dos maiores ícones da música brasileira. Confira na íntegra a seguir:

ESB: O músico cearense Antônio Carlos Belchior foi um grande artista da MPB e continua a influenciar novas gerações mesmo depois de sua morte. Como tem sido a experiência de mergulhar na vida e na arte de Belchior?

Tem sido um aprendizado constante. Belchior nos deixou uma obra tão vasta e tão significativa que todo dia, toda apresentação, todo ensaio a gente acaba reparando alguma coisa nova, alguma coisa diferente. Eu aprendo muito com ele, com sua forma de compor, de falar, de se expressar dessa maneira tão delicada e, ao mesmo tempo, cortante e direta.

ESB: Poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória como ator e como chegou a esse papel? É o primeiro personagem de uma pessoa real que você assume?

Eu trabalho como ator há mais de 20 anos. Me formei na escola carioca O Tablado, da Maria Clara Machado. Estive em muitas peças infantis, como ator e como compositor, trabalhei no Tablado, produzi trilhas para espetáculos do Matheus Souza, Victor Garcia Peralta, Daniel Herz, Otaviano Costa.

Participei de vários musicais, como “Os Saltimbancos”, dirigido pela Cacá Mourthe, com Bianca Byington e Alessandra Verney, “As Coisas Que Fizemos e Não Fizemos”, do Matheus Souza, com Lua Blanco e Gisele Batista. Mas, de fato, essa é a primeira vez que eu encaro um personagem desse tipo. Uma pessoa real transformada em personagem cênico. É um desafio maravilhoso.

ESB: Belchior é um personagem complexo por vários motivos, além de controverso, fala sobre questões sociais e temas multifacetados em suas músicas. Imagino que isso exija do ator uma compreensão profunda do contexto por trás das composições e dos altos e baixos vividos pelo artista. Como foi a preparação para para encarnar a complexidade de um personagem como Belchior?

Muitos vídeos, muitos áudios, muita leitura. Muito cuidado com o sotaque, muita atenção nos movimentos, uma tentativa de compreender como funciona a cabeça dele. É uma pessoa real que precisa virar um personagem. Então a essência dele precisa estar presente o tempo inteiro, mas com floreios dramáticos, para que seja, também, um personagem.

ESB: Qual o maior desafio ao interpretar o papel de Belchior nos palcos?

Existe uma complexidade em representar alguém real porque essa pessoa está conectada à outras. Ele tem uma família, amigos, admiradores. Ele existe. Não dá pra criar do zero. É preciso muito respeito para colocar uma lembrança em cena. Então existe um desafio muito grande em deixar o ego de artista de lado e entender que é pros outros, não pra mim.

A parte vocal é muito desafiadora pra mim porque, apesar de cantor, eu não tenho o mesmo registro vocal do Belchior, não tenho o sotaque dele, não tenho a técnica dele. E, para ser mais real, eu e o Pedro Nego (diretor musical) optamos por manter a maioria das canções como eram para ele, e manter, igualmente, essa certa dificuldade que ele transparecia em alguns momentos mais agudos do canto.

ESB: A família de Belchior expressou sua emoção ao ver a obra alinhada à proposta artística do cantor. Como foi receber esse feedback?

Foi o momento em que fez completo sentido. Eu tinha muito medo da obra ser vista de uma forma que não era o propósito dela. E Belchior era uma pessoa muito enigmática, muito reservada, muito privada.

Então a gente ter conseguido respeitar isso, sem sensacionalismo, sem suposições, sem dramatizar em excesso a pessoa dele… isso não tem preço. Você conseguir emocionar as pessoas mais próximas da vida dele? É uma realização sem tamanho.

ESB: Além de Belchior, o espetáculo também apresenta o personagem “Cidadão Comum”, representando seu alter ego. Como essa dualidade entre o artista e o cidadão comum se manifesta durante a peça?

Eu acho sensacional essa idéia de dar vida ao Cidadão Comum, coisa que o Bruno Suzano, meu parceiro de cena, faz tão maravilhosamente bem. Existem várias formas de entender essa dualidade. Eu acho que a mais clara é o personagem artístico e a “pessoa física”. É um Belchior para o público e outro para a vida pessoal que, muitas vezes, se misturam.

O artístico surge na sua música, nas suas performances, na sensualidade, e vai se fundindo com canções mais políticas, mais humanas, mais de vivência, e esses dois personagens vão complementando essa pessoa que foi, em uma palavra, brilhante.

ESB: Quais são os aspectos mais interessantes em interpretar Belchior? O que você acha que vai surpreender o público ao assistir à peça?

É uma loucura, né? Você mexer com o emocional das pessoas, reviver uma memória, fazer com que o público volte para determinado momento da vida que foi marcado por alguma canção… Eu acho mágico. O público tem se surpreendido com o cuidado do espetáculo, com a forma da narrativa, com as palavras do Belchior.

E com a possibilidade de viver, mesmo que de forma “artificial”, a experiência de ver uma representação ao vivo de um cara genial que muita gente não conseguiu ver. O público fica muito surpreso também com uma cena do Bruno Suzano que, para mim, é uma das mais bonitas da peça.

ESB: Como você se preparou para transmitir não só a música, mas também a filosofia e poesia do artista para o público?

Então, por sorte o texto da peça é todo dele. É o nosso autor. Tudo que é dito em cena foi dito pelo próprio Belchior em algum momento de sua vida em entrevistas, escritos, músicas… O meu grande desafio é passar verdade nisso, porque era o que ele acreditava. Então eu precisei estudar muito o que ele dizia para acreditar no que é dito.

É preciso convencer o público que não é um ator falando um texto e sim um gigante da nossa música expressando a sua visão de vida.

ESB: Como foi para você passar a carga emocional das músicas e da persona de Belchior nos palcos?

Isso é QUASE fácil. Com essas melodias e essas letras, se você está completamente imbuído no que você está cantando, se você sabe do que se trata a música, o momento em que ela foi escrita, essa emoção vem de forma natural. E isso acontece comigo em todas as apresentações. Não dá pra ser mecânico, tem que ser real.

A música é um texto, principalmente no musical. Não dá pra subir ali e cantar, você precisa passar aquela informação adiante, precisa chegar no público. E se eu estou vivendo aquele momento existe uma grande possibilidade do público vir comigo e a gente ter essa troca, que é o mais importante pra mim.

ESB: Há uma banda ao vivo que acompanha sua atuação e recria os maiores sucessos do artista. Como é a interação entre os atores e os músicos durante as apresentações?

A gente tem muita sorte de ter uma banda tão talentosa e tão envolvida no espetáculo. Rico Farias, Thomas Lenny, Silvia Autuori e Emilia Rodrigues. Eles são parte crucial do espetáculo, estão em cena o tempo inteiro. Não existe Belchior sem a música. Então eles se tornam uma das partes mais importantes da cena, recriando arranjos, dividindo esses momentos…

E, é claro, contribuem muito para os momentos que são representações de apresentações para levar a platéia pra dentro de um show do próprio Belchior. É lindo, eles são muito especiais.

ESB: O espetáculo destaca a filosofia de Belchior e convida o público a explorar a profundidade de suas letras e pensamentos. Na sua opinião, qual é a mensagem mais importante que ele queria transmitir e como você acha que isso ressoa nos dias de hoje?

Eu costumo dizer que eu acho que é um musical que traz esperança. Belchior sempre trouxe para as músicas uma visão muito crua do mundo, sem colorir o que estava ruim, sem fingir que a vida é maravilhosa e sem problemas…

Mas ele sempre trás a mensagem de que vai melhorar, de que pode melhorar, de que depende de cada um de nós fazer por onde para que a vida seja, de fato, maravilhosa. Eu acho a obra do Belchior atemporal. Ele cantava, 50 anos atrás, coisas que parece que foram escritas ontem. Ele é um cara tão essencial em 2024 como foi em todos os anos passados e em todos os anos que virão.

ESB: Por fim, como você descreveria “Belchior – Ano passado eu morri, mas esse ano eu não morro” em uma frase, tanto para os fãs do cantor quanto para aqueles que ainda não conhecem sua obra?

Uma grande celebração à obra, a vida e a filosofia de um dos grandes pilares da nossa música popular brasileira, que está muito acima do patamar onde ele é, discretamente, colocado.

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