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sexta-feira, 6 DE dezembro DE 2024

Setembro Amarelo

Você pode tanto divulgar o movimento como simplesmente ouvir uma pessoa próxima ou um estranho que precisa de um amigo para
escutá-lo

“Esses incidentes me levaram ao desespero e pouco faltou para que, com minhas próprias mãos, eu encerrasse minha existência.” A frase acima retrata o estado emocional e o sofrimento profundo de um homem que pensou em tirar a própria vida.

Esse homem poderia ser uma das pessoas que sobem na mureta da Terceira Ponte e ficam no limiar entre a vida e a morte. Esse homem poderia ser qualquer cidadão do mundo que enfrenta uma grave crise emocional e pensa no suicídio. Poderia ser qualquer um de nós.

Porém, esse homem era um dos maiores gênios da história da música, Ludwig Van Beethoven. A frase foi escrita no famoso “Testamento de Heilingenstadt”, datado de 1802. Trata-se de uma carta manuscrita que Beethoven redigiu para seus dois irmãos e que nunca foi enviada. O documento só foi encontrado após a morte do músico.
Na carta, ele retrata a profunda angústia que vivia em razão da surdez.

Para a alegria da humanidade, Beethoven não tirou a própria vida. A força da sua música cantou mais alto em seu ser. Porém, os dados sobre o suicídio mostram que milhões de pessoas não conseguem lidar com o seu sofrimento.

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio mata mais que as guerras. Em 2012, último ano em que os dados foram consolidados, 804 mil pessoas tiraram a própria vida no planeta. Já o número de óbitos registrados por homicídios ou em conflitos armados chegou a 437 mil.

Diante desta tragédia silenciosa, setembro foi definido como o mês mundial de prevenção do suicídio, um problema que mata uma pessoa a cada 40 segundos. Os dados são alarmantes, mas, segundo a OMS, nove em cada 10 casos podem ser prevenidos.

O que é preciso fazer? Não é uma resposta simples, mas há caminhos já trilhados. No Brasil, uma das instituições que trabalham na prevenção do suicídio é o Centro de Valorização da Vida – CVV, que existe há 55 anos e tem mais de 70 postos no país e mais de 2.000 voluntários. A atuação dos voluntários consiste em ouvir as pessoas e deixá-las compartilhar momentos difíceis pelos quais estão passando.

A ideia central é simplesmente se colocar à disposição do outro e ouvi-lo sem julgar, condenar ou dar conselhos. As pessoas que pensam no autoextermínio se sentem profundamente sozinhas e, quando um outro ser humano se coloca ao seu lado, pode ter início um processo de reajustamento interno. Fundamental é que elas consigam falar e esvaziar a sua dor, pois o suicida não quer tirar a vida, quer apenas acabar com o seu sofrimento.

É obvio que há uma infinidade de situações. Em muitos casos o indivíduo precisa de acompanhamento de um profissional especializado (médicos, psicólogos etc). Entretanto, quando nos colocamos à disposição do outro, já estamos dando um passo importante para evitar o suicídio.

No Setembro Amarelo, seja você também voluntário do amor. Você pode desde divulgar o movimento como simplesmente ouvir uma pessoa próxima ou um estranho que precisa de um amigo para lhe escutar.

Portanto, vamos nos ajudar uns aos outros para que cada ser humano termine sua jornada com a mesma determinação de Beethoven, que assim escreveu no testamento: “Pareceu-me impossível deixar este mundo sem que houvesse concluído a missão que me confiei”.

Para a alegria da humanidade, Beethoven não tirou a própria vida. Para a alegria da humanidade, nenhum ser humano deveria tirar a própria vida, pois, quando uma pessoa se suicida, morre também um pouco de cada um de nós.

Luciano é voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV)

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