Marcos do Val afirma que o ex-deputado federal Daniel Silveira o levou até reunião e que Bolsonaro ficou calado
Por Regina Trindade
Após afirmar em uma live em seu Instagram que teria sido coagido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para auxiliar em um movimento para um golpe de Estado, o senador da bancada capixaba Marcos do Val (Podemos-ES) mudou o tom e afirmou, nesta quinta-feira (02) que foi o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) quem o chamou para uma reunião na Granja do Torto em Brasília e forneceu todas as instruções.
Durante entrevista coletiva, o senador capixaba afirmou que a imprensa citou erroneamente o nome de Bolsonaro, afirmando que o ex-presidente sequer conversou com ele durante a reunião, que apenas acenava com a cabeça e que fazia rápidos comentários em algumas ocasiões.
“O presidente estava em uma posição semelhante a mim, escutando uma ideia esdrúxula do Daniel Silveira. Ele (o presidente) não falou ‘poxa senador, pensa’, não, nada disso. Por isso que quando saiu na imprensa que ele me coagiu, isso não confere”, falou.
Porém, durante a live o senador, com a voz alterada, disse:
“Vocês esperem que eu vou soltar uma bomba aqui para vocês. Sexta-feira vai sair na Veja a tentativa do Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto com ele”. Confira no vídeo abaixo:
Marcos do Val contou que foi abordado por Daniel Silveira para uma reunião com Jair Bolsonaro na Granja do Torto, mas que não poderia utilizar o veículo oficial para chegar ao encontro. Isso porque a entrada e saída de veículos oficiais é monitorada e registrada. De acordo com o senador, o ex-deputado disse que seria melhor entrar com um carro particular.
Na reunião, que aconteceu no dia 9 de dezembro do ano passado, Daniel Silveira teria assumido o protagonismo na articulação de um suposto golpe, que começaria com o plano de grampear, ilegalmente, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Ao senador capixaba caberia a tarefa de grampear o ministro. Durante toda essa conversa, do Val afirmou que Bolsonaro ficou calado e que não tentou o coagir. O senador não rejeitou a proposta durante o encontro, na frente de Silveira e Bolsonaro, mas recusou a proposta. Do Val disse, ainda durante a coletiva, que o ex-deputado disse que o plano seria uma “missão que salvaria o Brasil”.
“Não aceitei. Isso [grampear alguém] é ilegal. Você precisa ter autorização de um juiz”, declarou Do Val.
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O senador disse que reportou o plano para o ministro Alexandre de Moraes. “Peguei um voo, fui para Vitória, mandei uma mensagem para ele no aeroporto, para o ministro, contando mais ou menos o que foi a conversa e perguntei quando é que o ministro estaria de novo em Brasília. Então eu voltei à Brasília, nos encontramos no STF e eu relatei para ele. O ministro ficou surpreso, ele é muito introspectivo, não é de falar, então ele olhou para cima e balançou a cabeça”, contou.
Silveira perde foro privilegiado e é preso
Ainda durante a coletiva, Marcos do Val assinalou que o plano de um suposto golpe seria uma forma que Silveira encontrou para não ser preso.
“O que ficou claro era o Silveira tentando achar uma nova forma de não ser preso novamente, já que ele descumpria todas as decisões de Moraes”, completou Do Val.
O ex-deputado Daniel Silveira foi preso na manhã desta quinta-feira, um dia depois de ficar sem o mandato e perder o foro privilegiado. Ele foi preso pela Polícia Federal (PF) em Petrópolis (RJ), em razão do descumprimento de medidas cautelares também definidas pelo tribunal – como o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de usar redes sociais. A prisão foi determinada pelo ministro Alexandre de Moraes.
Depoimento à Polícia Federal
Com autorização do ministro do STF Alexandre de Moraes, a Polícia Federal (PF) vai colher o depoimento do senador Marcos do Val em relação aos atos golpistas. O depoimento está marcado para esta quinta-feira (02) às 17h e a PF tem um prazo de cinco dias para ouvir o senador.
A Polícia Federal quer saber de Marcos do Val quais são as informações relevantes que o senador afirmou ter sobre ações golpistas que criariam um ambiente hostil para a posse do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.