A política fiscal contracíclica em âmbito nacional também desempenhou um papel significativo na redução do desemprego, embora traga consigo desafios
Por Eduardo Araujo
O Espírito Santo registrou recentemente a menor taxa de desemprego da sua série histórica, atingindo 4,5% no segundo trimestre de 2024, conforme dados do IBGE. Esse resultado é expressivo, especialmente considerando que o estado subiu da 14ª para a 7ª posição entre as unidades federativas com as menores taxas de desemprego. Esse progresso reflete um esforço contínuo de melhoria no mercado de trabalho local, impulsionado por fatores como a robustez fiscal do estado e uma estratégia de desenvolvimento econômico que tem gerado resultados concretos.
O crescimento econômico do Espírito Santo tem sido notável, com um avanço de 5,4% no PIB acumulado nos últimos 12 meses, muito acima da média nacional de 2,5%. A principal força motriz desse crescimento foi a indústria, que registrou um aumento de 11,3% em seu nível de atividade, criando empregos diretos e movimentando toda uma cadeia produtiva. Além disso, a política fiscal contracíclica em âmbito nacional também desempenhou um papel significativo na redução do desemprego, embora traga consigo desafios de sustentabilidade fiscal para o país como um todo. O Espírito Santo, no entanto, encontra-se em uma posição privilegiada, com um dos melhores indicadores de solvência fiscal do Brasil.
Apesar desses avanços, o estado não está imune aos desafios que ameaçam a continuidade desse crescimento. Na área educacional, por exemplo, o Espírito Santo já avançou muito nos últimos anos, mas os dados recentes do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) indicam uma preocupação crescente. Embora o estado tenha mostrado progresso, a última avaliação revelou uma queda nos resultados, um problema que afetou a maioria das unidades federativas do país. Este declínio acende um alerta sobre a necessidade de reforçar as políticas educacionais para garantir que o estado continue a melhorar seus indicadores.
A desigualdade educacional também permanece como um obstáculo significativo. Um estudo nacional, embora aplicável ao Espírito Santo, revelou que as médias de aprendizado nas escolas públicas que atendem alunos mais pobres estão quatro anos atrás das escolas que atendem alunos mais ricos. Esse dado nacional serve como um parâmetro preocupante para a realidade local, indicando que, sem intervenções eficazes, essa disparidade pode se perpetuar, ampliando as desigualdades sociais e econômicas. A lacuna educacional não apenas limita as oportunidades desses jovens, mas também compromete o futuro econômico do estado ao impedir que uma parcela significativa da população alcance seu pleno potencial.
A situação é ainda mais crítica quando consideramos a educação infantil, uma área que demanda atenção urgente. A qualidade da educação na primeira infância é fundamental para garantir que todas as crianças tenham um começo de vida equitativo, o que, por sua vez, é essencial para o desenvolvimento de uma economia próspera e inclusiva. Em um ano de eleições municipais, é crucial que essa questão seja central no debate público, com propostas concretas para expandir o ensino integral e melhorar a qualidade da educação nas creches e escolas públicas, que são responsabilidade dos municípios.
Portanto, o Espírito Santo está em uma encruzilhada. Para transformar o atual sucesso econômico em uma realidade duradoura, é essencial que as políticas públicas priorizem a educação e a inclusão social. Somente assim será possível garantir um crescimento sustentável e inclusivo, no qual todos os cidadãos possam contribuir para o desenvolvimento e a prosperidade do estado.
Eduardo Araujo é consultor do Tesouro Estadual, conselheiro no Conselho Federal de Economia. Possui Mestrado em Políticas Públicas na Universidade de Oxford.