Partido dos Trabalhadores (PT) quer evitar novo fiasco nas Eleições municipais observadas nos últimos anos; No ES, cenário não é tão simples
Por Robson Maia
De olho nas Eleições 2024 e em “recuperar” o protagonismo no âmbito municipal, o Partido dos Trabalhadores (PT) começa a traçar suas estratégias políticas, sobretudo no Espírito Santo. Apostando no peso político do retorno de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República e na máquina federal, a legenda possui nomes importantes a serem observados no estado.
Mesmo com nomes importantes entre os candidatos próprios e de legendas aliadas, o PT já enxerga um entrave de imediato: o partido não lidera nenhuma das pesquisas de intenção de votos nos principais municípios brasileiros. Em Vitória, onde o partido tem o deputado estadual João Coser como pré-candidato, as pesquisas apontam o atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), como favorito à reeleição.
No outro município da Grande Vitória em que o PT tem um pré-candidato, Cariacica, não há sequer certeza de que o nome escolhido concorrerá de fato no próximo pleito. Célia Tavares teve a pré-candidatura anunciada pelo partido na última semana, contudo, o presidente da legenda no município, Luiz Gaurink, não descartou um eventual apoio à reeleição de Euclério Sampaio (MDB).
Enquanto isso, nos municípios da Serra, Vila Velha e Viana é bem improvável que o partido tenha candidatura própria. Até o momento, nenhum nome foi anunciado pela legenda para disputar as Eleições que se aproximam, sugerindo, então, que o envolvimento do PT será no apoio às candidaturas, nesses casos. Mas nem isso será tão simples.
Em Viana, por exemplo, o partido se vê em um cenário conflitante. O PT, atualmente, compõe a base aliada do atual prefeito, Wanderson Bueno (Podemos), e ocupa a Secretaria de Esportes e outros cargos de relevância no município, como a subsecretaria de Cultura e Turismo. No entanto, o PV – que em 2024 atuará em aliança federal com PT e o PCdoB – anunciou a candidatura do ex-secretário estadual de Meio Ambiente Fabricio Machado.
Fabricio, inclusive, já declarou, em entrevista, a importância de Viana para o PV nas eleições estaduais.
Lula como estratégia
Uma das apostas do partido para valorização do capital político e da imagem partidária em todo país é no atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Após vencer Jair Bolsonaro (PL) numa disputa apertada em 2022, Lula é visto como um potencial trunfo para o próximo pleito.
Contudo, o resultado nacional não reflete, necessariamente, o desenho político do Espírito Santo. Nos dois turnos das eleições presidenciais, Bolsonaro venceu com grande margem em solo capixaba. No primeiro turno, Bolsonaro obteve 52,23% dos votos válidos, contra 40,40% de Lula. Já no segundo turno, a margem foi maior. O candidato do PL somou 58,04% ante 41,96% do petista.
Nos municípios em que o PT já definiu candidaturas – Cariacica e Vitória – os recortes também são desfavoráveis ao partido quando analisados no cenário de 2022.
Analisando apenas o segundo turno, Jair Bolsonaro foi o candidato mais votado para a Presidência da República em Vitória. Ele recebeu 115.293 votos, o equivalente a 54,70% do total da cidade. Já Lula foi a escolha de 45,30% dos eleitores e recebeu 95.478 votos.
Em Cariacica, o cenário foi bem similar ao visto na capital capixaba. Bolsonaro recebeu 116.698 votos, o equivalente a 56,39% do total da cidade, enquanto Lula (PT) foi a votado por 43,61% dos eleitores, recebendo 90.253 votos.
Máquina Pública
Ao longo de seu terceiro mandato, Lula tem, de certa forma, olhado com mais atenção para o estado capixaba. O presidente esteve presente, recentemente, na inauguração das obras do Contorno do Mestre Álvaro, entrega que representa uma antiga demanda da população espiritossantense.
Ao longo do último ano o Espírito Santo recebeu também a visita de diversos ministros. Em alguns casos, as vindas às terras capixabas resultaram no anúncio de novas medidas ou no desenvolvimento de projetos.
Desprestígio?
São quase 30 anos desde a última vez que o PT conseguiu conquistar o Palácio Anchieta. Em 1995, Vítor Buaiz vencia as eleições e era empossado como o 44º governador do Espírito Santo. Desde então o partido não voltou a governar o estado.
Nos municípios da Grande Vitória, atualmente, nenhum dos chefes dos Executivos são da legenda. Nem mesmo os cargos de vice-prefeito estão sob posse do partido. Os cargos no Executivo são frutos de alianças, como as citadas em Viana.
Nos municípios em que concorrerá em 2024, a distância temporal desde o último eleito pela legenda é considerável. Em Cariacica, o último eleito pelo PT foi Helder Salomão, em 2008. Na ocasião, o petista foi reeleito com margem expressiva – cerca de 70% dos votos válidos. em 2020, Célia Tavares foi derrotada pelo atual prefeito, Euclério Sampaio, no segundo turno.
Já em Vitória, o último a ocupar o cargo foi justamente o pré-candidato João Coser. Entre 2005 e 2012, a capital capixaba foi comandada pelo petista. Desde então, o partido não emplacou mais vitória, sendo a derrota mais recente a de 2020, quando Coser, novamente candidato, foi superado por Pazolini.
Para o analista político Darlan Campos, o PT não tem sofrido com “desprestígio”, mesmo com o cenário de derrotas visualizado nas disputas pelas prefeituras da Grande Vitória. Segundo ele, os movimentos anti-petistas podem ser o fator determinante nos resultados obtidos pela legenda nos últimos anos.
“Desde a eleição de Vitor Buaiz para governador, o PT tem tido desafios em ter uma candidatura competitiva ao PalácioAnchieta, o que não significa que o partido não tenha sido relevante. A lembrar que nas últimas eleições teve o Hélder como excelente votação para deputado federal, duas cadeiras de deputado federal. Tivemos ainda a chegada no partido, por mais que não tenha sido eleito por ele, do Contarato. […] Então, se você pega o momento do partido ali, após o impeachment, com as eleições de 2016 e 2018 sendo desafiadoras do partido, você vai observar uma queda no número de municípios, queda no número de parlamentares eleitos, mas o partido tem retomado a sua força e o seu protagonismo”, destaca Campos.
“Uma matriz que pode ser analisada da política brasileira são as mobilizações em torno do processo eleitoral. Elas se manifestam sempre dentro de uma linha PT, Anti-PT. Ou seja, antes essa relação era com o PSDB, agora com o bolsonarismo, mas sempre a parte desse viés, o PT como protagonista no campo progressista e o anti-petismo protagonista no campo conservador”, completa