A empresa familiar é um sistema em que convivem três dimensões: a família, a propriedade e a gestão.
Boa parte do sucesso de uma empresa longeva está em justamente saber administrar, com equilíbrio, as interseções entre esses três sistemas. Na coluna deste mês trataremos a combinação dos interesses e expectativas da propriedade e da gestão.
Várias crises envolvendo as organizações têm, na sua raiz, os chamados conflitos de agência. Enquanto a empresa é pequena e sua gestão permanece sob o controle dos sócios, é mais fácil assegurar que o dia a dia das operações reflita o pensamento dos proprietários. Porém, à medida em que o empreendimento cresce, a tendência é que novos gestores, que não sejam sócios ou familiares, incorporem-se ao negócio. Surge, então, uma nova possibilidade de conflitos decorrentes da eventual inadequação das decisões tomadas pelo administrador com as necessidades dos sócios.
Por exemplo, é possível que a necessidade dos sócios de dividendos se choque com uma visão de crescimento ou de proteção do caixa pela gestão. Outra situação: estratégias agressivas que tragam bom retorno no curto prazo e, portanto, maior remuneração variável, podem prejudicar a lucratividade no longo prazo da empresa, comprometendo o retorno sobre o investimento.
A teoria da agência pressupõe a existência de duas figuras fundamentais: a do principal e a do agente. O principal é o proprietário, que estabelece determinado objetivo; o agente é o gestor, a quem foi delegado o poder de decisão, como meio de atingir o objetivo estabelecido.
Sendo assim, o primeiro passo para harmonizar propriedade com gestão é estabelecer, de forma muito clara, o propósito e os objetivos dos donos, os seus valores essenciais e o nível de risco que aceitam correr. Estes serão os guidances que nortearão a formulação e a execução da estratégia por parte dos administradores.
Também é essencial que sócios e gestores alinhem uma expetativa de retorno sobre o investimento e de performance da operação, além de balancear as decisões acerca do uso dos lucros.
Dedicar uma atenção especial à governança corporativa é o caminho para se resolver os problemas de agência oriundos da separação da propriedade e da gestão das empresas.
ESTRATÉGIA E CONTROLE
O papel do conselho de administração
O alinhamento entre expectativas dos sócios e da gestão, a sua tradução em estratégia e o controle da sua implementação ocorrem de uma maneira mais saudável quando se tem um conselho de administração engajado e eficaz, com a presença de membros independentes.
TRANSPARÊNCIA
Alinhando sócios e gestores
Conflitos de agência decorrem da assimetria de informações entre os gestores, que estão no dia a dia, e os sócios. A comunicação franca, tempestiva, que não se restrinja apenas ao desempenho econômico-financeiro, mas que incorpore os demais fatores, tangíveis e intangíveis, que norteiam a ação empresarial, previne tais conflitos.
INCENTIVO E MONITORAMENTO
Prevenindo conflito de agência
As diferenças entre as expectativas dos sócios e dos gestores também podem ser amenizadas (i) com o estabelecimento dos incentivos corretos para que a administração aja em favor da geração de valor para a empresa, e não em busca de retornos de curto prazo, e (ii) com o monitoramento das ações dos administradores