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sexta-feira, 19 abril, 2024

Presidente do banco dos Brics analisa oportunidades para o ES

Marcos Troyjo, em entrevista exclusiva, comenta as oportunidades para o Espírito Santo diante do cenário econômico atual

Por Amanda Amaral

Quais as oportunidades para o Espírito Santo diante do cenário econômico atual? Quem responde à pergunta é o economista e diplomata Marcos Troyjo, que esteve este mês, em Vitória, para uma palestra a convite da Valor Investimentos e Vieira & Rosenberg.

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Na entrevista exclusiva para a ES Brasil, o economista destaca como oportunidade para o estado capixaba o crescimento de grandes mercados emergentes como a China, Indonésia e Egito, que podem servir como destino para as exportações, além de avanços fundamentais em infraestrutura.

Marcos Troyjo atualmente é presidente do New Development Bank (NDB), o banco dos Brics – conjunto de países formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Recentemente, em parceria com o Banco do Brasil (BB), foram liberados R$ 1 bilhão para o agronegócio, outra oportunidade para o Espírito Santo, segundo o economista, que relatou durante a conversa as áreas estratégicas para obtenção do financiamento.

Em plena recuperação econômica após os impactos das sanções sanitárias em razão da Covid-19, inicia-se uma guerra no Leste Europeu, que abala as perspectivas mundiais. Quais as oportunidades para o Espírito Santo diante desse cenário?

Hoje há uma confluência de fatores no mundo, fatores fragmentados. Nós ainda estamos vivendo resquícios daquela que é a maior crise sanitária do mundo, desde a gripe espanhola no século passado. Há um risco de recessão nos EUA e na Europa. Para combater a Covid-19 e seus efeitos econômicos, muitos bancos centrais, principalmente nos países desenvolvidos, promoveram uma grande expansão de sua base monetária. A cada UU$ 6,00 em flutuação, um não existia há 18 meses. Então, existe o risco que alguns economistas estão chamando de reedição de uma estagflação, que nós observamos no final de dos anos 70 e começo dos anos 80. Mais uma vez, fatores fragmentados.

Mas quando você olha para as economias emergentes, sobretudo para as economias emergentes de grande porte, a Índia esse ano vai crescer entre 8% e 8,5%. A China, apesar de todos os lockdowns relacionados aos surtos de Covid-19, vai crescer entre 4% e 4,5%. O Egito, que hoje é a maior economia do continente africano pelo critério da paridade do poder de compra, vai crescer 6%. A Indonésia, que é a terceira maior economia emergente do mundo pelo critério de paridade do poder de compra, vai crescer 5,5%.

Há uma parcela substantiva do mundo, na qual se encontram grandes contingentes populacionais, que vai ter uma expansão significativamente robusta em 2022. E quais são os principais mercados destinos hoje das exportações brasileiras e, é claro, também de parte importante das exportações do Espírito Santo?

São justamente estes grandes países emergentes. Mesmo em um ano difícil como foi 2021, o Brasil teve uma corrente comercial de meio trilhão de dólares, recorde histórico. O país teve exportações de duzentos e oitenta bilhões de dólares, recorde histórico. Teve superávit comercial de sessenta e um bilhões de dólares, recorde histórico. Pelos números que eu vi dos seis primeiros meses deste ano, o comércio exterior continua a vir muito forte.

Você tem uma dupla, digamos assim, de vetores que pode ser muito bem explorada pelo Espírito Santo. Uma é aproveitar o crescimento desses grandes mercados emergentes para o destino de suas exportações. Dois, considerar que uma parte importante dessas oportunidades carece de investimentos em infraestrutura.

Falando sobre infraestrutura, há alguma ação do Brics prevista para o Espírito Santo?

O Espírito Santo, como a grande maioria dos estados brasileiros, tem dificuldade em atrair investimento infraestrutural. E hoje há uma série de capitais estacionados no mundo, a taxa de juros ainda baixas, que procuram por boas oportunidades de infraestrutura. É o momento, e me parece fundamental, como destino do investimento, que o Espírito Santo assuma um certo protagonismo.

Existem dois projetos aprovados pelo BNDS – Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico, que podem contemplar o Espírito Santo. Um deles é um projeto de R$ 1 bilhão, que lançamos na semana retrasada junto ao Banco do Brasil, e que tem recursos para projetos em três áreas fundamentais para a competividade do agronegócio no Espírito Santo como sistemas de irrigação. Como todos sabem, a água é um dos fatores mais determinantes, digamos assim, para a competividade agrícola.

Presidente do banco dos Brics analisa oportunidades para o ES
O economista destaca os grandes mercados emergentes como a China. Foto: Divulgação

Outra é a parte de armazenagem. O Brasil tem um déficit grande de silos, um déficit grande de armazéns, e perde uma parte importante da sua produção justamente pela falta de armazenagem. Há também a parte de energias renováveis, pois o Brasil é um país abençoado com grande incidência solar e com circuito de ventos importantes. Portanto, propriedades de agronegócios podem ser contempladas por esses recursos que estamos colocando à disposição do Banco do Brasil, que vai operar como o “distribuidor” com taxas de juros bastante competitivas.

Há outro grande projeto que se chama Infraestrutura Sustentável. Ele é um projeto que abrange todo o Brasil, mas obviamente empresas do Espírito Santo podem ser contempladas. Além dessas áreas que eu mencionei, também estão disponibilizadas linhas para cidades inteligentes, para infraestrutura portuária e para infraestrutura de conectividade digital, que também é algo fundamental para a economia 4.0. Ou seja, temos um acervo importante de recursos para serem colocados à disposição daqueles que querem fazer investimentos no Estado.

E qual o papel da sociedade capixaba no que diz respeito ao fomento da tecnologia no campo e da adesão dos produtores rurais?

O Brasil tem uma conjuntura muito favorável no campo do comércio exterior do agronegócio, porque as pessoas estão comendo mais no mundo. Há mais demanda por alimentos e o Brasil tem vantagens comparativas inigualáveis nesse setor. Eu, de vez em quando, gosto de dizer que o Brasil pode se tornar a Arábia Saudita dos alimentos.

Mas é claro, além da demanda que é gerada naturalmente, cada vez mais podemos abrir nichos de mercado com o espumante brasileiro, por exemplo, com o café gourmet do Espírito Santo, com a carne bovina maturada, embalada e com selo verde. Ou seja, precisamos trazer agregação de valor a esse setor, onde já temos a competividade tradicional. Essa é uma tarefa para o empresariado.

 

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