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terça-feira, 14 maio, 2024

Entenda porque Sound Of Freedom é filme mais polêmico do ano

O filme, sobre tráfico e exploração de crianças, gerou discussão entre o pensamento conservador e progressista

Por Carolina Leão

O filme “Sound Of Freedom (Som da Liberdade), lançado nos cinemas dos Estados Unidos no último dia 4 (ainda sem previsão para lançamento no Brasil), atingiu um indiscutível alcance quanto ao sucesso de bilheteria. No entanto, a abordagem do filme transcendeu a sua proposta temática, de alarmar para o tráfico sexual infantil, está sendo alvo de polêmicas e discussões entre conservadorismo e progressismo, de maneira que tem dividindo opiniões entre a grande mídia e grandes canais de crítica de cinema.

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Parte das publicações críticas acusa o filme de distorcer a verdade sobre a exploração infantil e contribuir para teorias da conspiração. O portal Rolling Stone, por exemplo, divulgou a seguinte manchete: “Sound Of Freedom’ é um filme de super-herói para pais com vermes no cérebro” (Original: ‘Sound Of Freedom’ Is a Superhero Movie for Dads With Brainworms). Também o “The Guardian”, de Londres, publicou sobre o longa com a manchete: “Sound of Freedom: o thriller adjacente ao QAnon seduzindo a América” (Original: “Sound of Freedom: the QAnon-adjacent thriller seducing America’). A crítica faz menção à “QAnon”, igualando a proposta a uma teoria da conspiração de extrema-direita.

Por outro lado, o crítico de cinema da “Variety” elogiou o longa, dizendo que se trata de “um filme atraente que lança uma luz autêntica sobre um dos horrores criminais cruciais de nosso tempo, do qual Hollywood quase sempre se esquivou”.

Todavia, o objetivo do filme não tem a ver com questões políticas, e sim, de conscientizar e alarmar a população a respeito de um crime cometido contra crianças. O CEO da Angel Studios, produtora que distribuiu o filme, Neal Harmon, constatou, neste sentido: “Todo mundo que viu este filme sabe que não tem nada a ver com política ou conspiração e que é apenas uma grande história verdadeira, bem contada…”, em entrevista ao “The Daily Signal Podcast”. 

Quando questionado, no mesmo podcast, sobre a polêmica de que Tim Ballard salvando crianças representa mais uma façanha do que heroísmo real, Harmon contrapôs: “Vá para angel.com/blog e há uma peça inteira sobre como separar fato de ficção, narrativa… Somos muito, muito transparentes sobre os verdadeiros componentes desta história e quais partes dela fizeram parte do processo de criação do filme ou para atravessar a narrativa em um formato sucinto…”. 

O próprio Tim Ballard, em vídeo divulgado nas redes sociais, se manifestou diante das polêmicas: “Não há absolutamente nada que eles não vão me acusar para fazer você parar de assistir Sound of Freedom. Neste ponto, fui acusado de tudo, menos (talvez) assassinato. Espere mais mentiras…”, escreveu na legenda. Segundo afirmou, ele está recebendo várias acusações falsas, inclusive de que ele seria a favor de colocar microchips em crianças para que possam rastreá-las, o que é falso. 

Vale ressaltar que Sound Of Freedom foi produzido no ano de 2018, e seria distribuido pela Fox, mas a Disney comprou a Fox e arquivou o filme. Agora, em 2023, a Angel Studios comprou os direitos de distribuição do filme, que está fazendo grande sucesso. Em duas semanas de bilheteria, o filme, que custou US$ 14 milhões para ser produzido, já faturou mais de US$ 90 milhões em bilheterias.

A questão é que, nos Estados Unidos, a grande mídia, tanto televisiva quanto on-line ou de rádio, está repercutindo a dimensão que o filme tem tomado, que transcendeu a proposta do longa-metragem. Diante dessa repercussão, a Comunhão conversou com o Cientista da Religião e professor da Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), Marcos Simas. Ele é brasileiro e está temporariamente residindo no país, onde pôde assistir ao filme nos cinemas e acompanhar a discussão. “O filme começa com cenas fortes, até estressantes para meu gosto. Acontece que é retratada ali uma realidade, ninguém pode dizer que o tráfico sexual humano, a pornografia e a pedofilia não sejam verdade. E a gente sabe que o narcotráfico domina mesmo boa parte das Américas. Então, a meu ver, nesse caso em especial não se trata de teoria da conspiração”.

Simas comenta, ainda, sobre a discussão que permeia toda a polêmica nos Estados Unidos. “Aqui é muito explícita a divisão entre o lado progressista e o conservador. Ficou claro que havia um aspecto ideológico para não passar o filme e que a polarização está mais evidente inclusive nos filmes. Mais um elemento de uma crise profunda”, avalia.

Neste caso, especificamente, chama a atenção que o aspecto da polarização não era uma proposta do enredo, que não buscou tocar em questões políticas, como a própria Angel Studios colocou. Por exemplo, ainda neste ano, discutiu-se na mídia sobre a Disney ter perdido cerca de US$ 900 milhões em filmes e alguns veículos associaram o ocorrido à presença de determinadas pautas que não eram comuns ao público conservador. Nesse aspecto, a discussão da polarização atingindo os cinemas é mais antiga e evidente. Mas, com Sound Of Freedom, trata-se de um tema criminal. Neste sentido, Marcos Simas comenta sobre dois aspectos: “trata-se de um filme produzido por um estúdio cristão e o ator Jim Caviezel se posicionou sempre como um cristão após sua participação no filme do Mel Gibson, A Paixão de Cristo”, avalia.

Campanha “God’s children are not for sale.”

No trailer do filme, o ator protagonist Jim Caviezel declara: Os filhos de Deus não estão à venda”. Essa é a causa defendida pelo filme. A produtora tinha uma meta, que colocou como “#2MillionFor2Million”. A meta era vender dois milhões de ingressos, para simbolizar o compromisso da produção com a estimativa de dois milhões de crianças traficadas em todo o mundo, de acordo com o portal Angel Studios. Atualmente, já foram vendidos mais de 8 milhões de ingressos.  A partir dessa iniciativa, qualquer pessoa que não possa pagar um ingresso terá a oportunidade de solicitar um ingresso gratuito em angel.com/freetickets.

Dados sobre tráfico humano, incluindo crianças

De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, o tráfico humano é uma indústria de US$ 150 bilhões em lucro ilegal por ano em todo o mundo e que cerca de 21 milhões de pessoas são escravizadas. De acordo com a World’s Children, 27% das vítimas do tráfico humano são crianças.

Contexto do filme

O filme se baseia na história de Tim Ballard (Jim Caviezel), um ex-funcionário do governo estadunidense, que fundou a Operation Underground Railroad (O.U.R.), uma organização sem fins lucrativos anti-tráfico sexual com sede nos Estados Unidos. No contexto do filme, Ballard luta para salvar crianças sequestradas na selva colombiana.

Assista ao trailer:

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