ES mantém contas equilibradas, atrai novos negócios e cresce 2,6%
Eleições, Copa e guerra foram os três assuntos mais pesquisados pelos internautas brasileiros neste ano. As eleições 2022 ocuparam o primeiro lugar nas buscas e nos acontecimentos destes 12 meses. O auge ocorreu entre 2 e 8 de outubro (primeiro turno). De 30 de outubro, data do segundo turno, a 5 de novembro, o tópico voltou a crescer.
Em segundo lugar, está a Copa do Mundo, que registrou pico de pesquisas entre os dias 27 de novembro e 3 de dezembro. A guerra, na terceira colocação no ranking, ganhou repercussão na última semana de fevereiro, quando a Rússia invadiu a Ucrânia.
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Entre os capixabas, certamente, houve mais dois assuntos de muita relevância: o atentado às escolas de Aracruz e o prejuízo causado pelas fortes chuvas.
As águas de novembro fechando o outono, mais uma vez, castigaram o Espírito Santo. Até 11 de dezembro, duas mil pessoas permaneciam fora de seus lares, segundo a Defesa Civil Estadual. Pelo menos sete municípios mantinham-se em situação de emergência ou calamidade pública.
Nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais, a enxurrada de vídeos traduzia a gravidade dos seguidos temporais no Estado: trechos das principais estradas sendo “engolidos” pela erosão, moradores passando por ruas em barcos e caiaques, animais arrastados pela correnteza, comunidades isoladas.
Além das perdas das famílias que terão de reconstruir suas vidas, esse desastre trouxe uma série de prejuízos à economia. Segundo a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Espírito Santo (Fecomércio-ES), a queda no faturamento do comércio, em novembro, pode ter chegado a 5%, mesmo com a Black Friday, que não por acaso se estendeu para dezembro.
As vendas nos supermercados e atacados também foram afetadas, com recuos de até 10%, segundo o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Estado do
Espírito Santo (Sincades).
Economia
Já há alguns anos, o Espírito Santo se destaca no Brasil por manter excelentes resultados no equilíbrio fiscal. “Em 2022, não foi diferente. Parece que somos outro país. As contas estão equilibradíssimas, inclusive poupando, por meio do Fundo Soberano, permitindo auxiliar na instalação de novas empresas, especialmente as de base tecnológica, e fazendo uma reserva para futuras gerações”, analisou o presidente do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Claudeci Pereira Neto.
O economista cita, ainda, o projeto que vem sendo estudado pelo Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo (Bandes) para aporte de recursos em debêntures. A entidade empresta dinheiro às empresas (geram ações) e pode receber juros maiores do que em títulos de instituições financeiras. Um investimento com retornos mais interessantes comparados a outros produtos de renda fixa.
“A gente vê a maioria dos estados com graves problemas de orçamento, e o Espírito Santo – na direção contrária – destacando-se. A Samarco, que estava paralisada, retomou suas atividades, temos muitas grandes empresas vindo para o Estado, especialmente para a Região Norte, em consequência dos benefícios oferecidos nos municípios incluídos na área da Sudene. E Linhares é o município polo do Norte”, apontou Pereira Neto.
O economista reiterou: “As contas públicas equilibradas, no azul há muitos anos, e uma fiscalização de incentivos fiscais que trazem segurança jurídica sinalizam para o mercado que investir no Espírito Santo é um bom negócio”.
Vantagens locais
Apesar de a inflação global ter elevado o preço das principais commodities minerais e agrícolas exportadas pelo Espírito Santo, os desafios não foram poucos ao longo dos meses de 2022.
Foi um ano difícil, em virtude das disputas políticas e também de ações na saúde, ainda reflexo da pandemia. Mesmo assim, diante desse cenário, na avaliação do economista Sebastião Demuner, o Governo Estadual alcançou grandes conquistas. “Aumento nas escolas de tempo integral, criação de leitos hospitalares, melhorias em infraestrutura, como a ciclovia na Terceira Ponte e reformas em estradas, capacitação de empreendedores e linhas de crédito são pontos importantes que merecem ser destacados como avanços”, enumerou.
Para Demuner, um dos maiores desafios para os próximos anos consiste em ampliar a atração de novos investimentos e garantir que o Espírito Santo mantenha condições favoráveis em todas as regiões, uma vez que os novos negócios geram emprego e renda e movimentam a economia.
Nessa mesma estratégia, Demuner defende ser também fundamental ampliar a capacitação e as condições de créditos aos micro e pequenos empreendedores. Por fim, sublinha como essencial “manter o foco em busca de inovação e tecnologia”.
Nesse sentido, o Espírito Santo vem se sobressaindo no cenário nacional (veja matéria na pág. 62).
Resultados
No terceiro trimestre de 2022, o Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo foi estimado em R$ 44,4 bilhões. No acumulado em quatro trimestres, totalizou R$ 174,4 bilhões. A atividade econômica estadual apresentou variação abaixo da média nacional nas quatro bases de comparação temporal. No acumulado do ano, o crescimento de 2,4% foi influenciado pela expansão de 9,4% dos serviços.
A produção apresentou retração na indústria extrativa (-17,0%), em razão das quedas na pelotização de minério de ferro (-7,3%) e na extração de petróleo (-34,3%). A indústria de transformação avançou 0,8%, com protagonismo para fabricação de celulose, papel e produtos de papel (16,7%), único segmento industrial que marcou crescimento.
Também houve contração, de 8,9%, nas vendas de veículos.
No entanto, os serviços prestados às famílias aumentaram 29,3%. Ocorreu ampliação de 10,7% em transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio. Relatório do Instituto Jones dos Santos Neves (IJNS) aponta que “a economia capixaba está transitando de um cenário positivo, que perdurou entre os segundos trimestres de 2021 e 2022, para um quadro de desaceleração e retração no terceiro trimestre de 2022”.
Na agricultura, há expectativa de alta para os cafés conilon (7,0%) e arábica (38,4%), pimenta-do-reino (5,3%), banana (0,6%), cana-de-açúcar (6,3%) e cacau (2,7%). Já para mamão, a retração esperada é de 3,1%. Há projeção, ainda, de baixas para coco (-14,1%) e mandioca (-2,3%).
A inflação acumulada do ano é de 3,6%, sendo as principais variações em vestuário (10%), alimentação e bebidas (9,5%) e saúde e cuidados pessoais (7,4%).
Empregabilidade
O Brasil criou 159.454 postos de trabalho com carteira assinada no mês de outubro. Durante o ano de 2022, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged) divulgados no dia 29 de novembro, o acumulado é de 2.320.252 novos profissionais contratados no mercado formal.
Já o número total de trabalhadores formais atingiu estoque recorde, com 42.998.607 em outubro, 0,37% a mais que no mês anterior.
De acordo com o Ministério do Trabalho, 1,680 milhão de trabalhadores seguiam com garantia provisória de emprego em novembro graças às adesões ao Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEM).
No Espírito Santo, nesse mesmo período, desenhou-se um estoque de 818.723 vagas formais. Tal performance expressa um saldo de 44.921 novas posições, sendo o setor de serviços responsável por 26.212 dessas vagas, seguido da indústria (7.405) e da
construção (7.023).
Para cada mês de suspensão ou redução de jornada pelo programa, o trabalhador tem o mesmo período de proteção ao seu posto de trabalho. O programa foi relançado em abril pelo Governo para vigorar por mais quatro meses neste ano.
No período compreendido entre 2021 e 2026, o Espírito Santo deverá receber 717 novos projetos, registrando um montante de superior a R$ 50 bilhões. Com isso, a expectativa é para a criação de mais empregos nos próximos anos.
Segurança
Entre as boas marcas deixadas nos primeiros seis meses,
está o fato de os números de homicídios no Espírito Santo, nesse período, terem sido os menores registrados desde 1996, de acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp).
Na comparação anual, a redução foi de 14,8%. De janeiro a junho de 2022, foram registrados 467 assassinatos, 81 casos a menos em relação às 548 ocorrências nos primeiros seis meses de 2021.
Verificando os dados mais recentes, divulgados pelo Observatório da Segurança, de janeiro a setembro deste ano, os resultados mostram queda na criminalidade.
Ocorreram 722 homicídios dolosos no Estado, o que representa uma baixa de 12% em relação a igual período de 2021, quando foram contabilizados 821 casos. Os registros de latrocínio diminuíram 35%, passando de 31 para 20 ocorrências.
No entanto, a incidência de lesões corporais aumentou 90%, saltando de 10 para 19 casos. As mortes no trânsito também subiram, de 584 para 622 vítimas (7%), de janeiro a setembro deste ano, no confronto com o mesmo período de 2021.
Esperando o hexa
A polarização das eleições foi a razão para comportamentos nada esperados entre familiares, amigos e até entre desconhecidos. Instagram, Facebook, Twitter e outros canais de comunicação foram invadidos por “argumentos” de ambos os lados, boa parte deles destinados a fake news. Uma postura agressiva que perdura após o fim do pleito.
Mas a Copa chegou e reuniu o capixaba numa mesma torcida. Direita ou esquerda, todo mundo era verde e amarelo. Afinal, sede de duas Copas do Mundo (1950 e 2014), o Brasil tem a única seleção a participar de todas as edições do evento, sendo o maior vencedor da competição, com cinco títulos.
Os capixabas tinham um motivo a mais para torcer: o Pombo Richarlison, que abriu as comemorações com dois gols contra a Sérvia, na estreia da Seleção Brasileira. Mas toda a alegria acabou nas oitavas de final. Quando não cabia mais o direito de escorregar, o Brasil empatou em 1×1 com a Croácia na prorrogação e perdeu o jogo por 4 x 2 nos pênaltis. Acabou o milho, acabou a pipoca.
No cenário político, são boas as expectativas para o Espírito Santo em 2023. Com o governador Renato Casagrande (PSB) reeleito e integrando o grupo do presidente eleito Lula (PT), a aproximação do Estado com a União deve se estreitar e, assim, é maior a probabilidade de resolução dos gargalos estruturais.
