Os movimentos da economia que envolvem a moeda sempre suscitam muito alvoroço
O vivenciado na semana passada foi mais um.
O Copom manteve a taxa de juros básica em 6,5%. Paralelamente, houve um movimento de alta da taxa de câmbio.
Sob o prisma das condições necessárias e suficientes para o cumprimento da meta, a decisão do Copom foi apenas necessária. Mas não há motivos para alvoroços.
É função da Autoridade Monetária (AM) prover, confiança, liquidez, e mecanismos para ajustes. Neste momento, a economia brasileira precisa, sobretudo, de confiança.
A resposta do Copom foi para garanti-la pois, enquanto a solução para o endêmico desequilíbrio fiscal não estiver encaminhada as expectativas de inflação serão voláteis.
Enquanto houver volatilidade, maior a necessidade de se ter um comprometimento inequívoco para com a estabilidade.
E neste momento há uma ameaça do setor externo sobre a política monetária. Está em curso a retomada, para níveis mais altos, das taxas de juros básicas das economias desenvolvidas, puxada pelos EUA. Esse movimento reduz a atratividade do mercado brasileiro para o capital financeiro, aumenta a saída desse capital, que pressiona a taxa de câmbio para cima.
Aumento de taxa de câmbio pode se transformar em um choque inflacionário, que a AM não tem como impedi-lo – no máximo, atenuá-lo – porque o regime de câmbio é flutuante.
Na realidade, a AM está enfrentando o “trilema” de política monetária dos países que têm livre mobilidade de capital, regime de câmbio flutuante, e regime de metas para inflação.
Nesses casos, para a AM cumprir sua meta de inflação tem que enfrentar a volatilidade do movimento de capitais e/ou do mercado cambial. E vice-versa.
É como estar embaixo de um cobertor curto. Se cobrir a cabeça, descobre o pé.
O cenário externo não recomenda uma redução da taxa de juros, neste momento.
A perspectiva de aumento das taxas básicas de juros dos países desenvolvidos está atraindo capital para esses mercados. Neste momento, outra queda da taxa do Selic reduziria a diferença entre os juros internos e os externos, e a atratividade do mercado brasileiro para aplicações do capital estrangeiro. Adicionalmente, estimularia a saída de capital, que por sua vez, aumentaria a demanda por moeda estrangeira, repercutindo em aumento da taxa de câmbio.
Estando as expectativas de inflação sob controle, segurar a taxa de juros atenua a diferença entre as taxas interna e externa e com isso, a saída de capital e a pressão de alta sobre a taxa de câmbio.
Ou seja, quando o contexto é esse, a AM precisa saber quando deve cobrir a cabeça e quando deve cobrir o pé.
A atitude do Copom passou essa mensagem. Cioso de sua responsabilidade e dos impactos de suas decisões, fez as escolhas que lhe permitiram priorizar a estabilidade e mitigar os riscos. Resguardou a confiança, garantiu a liquidez, e os mecanismos de ajuste para o mercado.
Sua decisão foi a forma de enfrentar os riscos iminentes garantindo o cumprimento da meta de inflação para 2018 e 2019. Resposta acertada, coerente e transparente.
Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape
Leia mais
China e EUA: quando o macaco esconde o rabo para falar do rabo do outro