Infelizmente, o comportamento de alguns dos imperadores do Brasil está longe daquele que a mensagem do servo sugere
Diz o folclore que Cesar, o Imperador Romano, quando saía às ruas – ocasião em que era ovacionado pelo povo – levava um servo para ir falando, durante o trajeto, no seu pé-de-ouvido: “lembra que tu és homem”. Essa fala do servo era para que o Imperador tivesse noção da responsabilidade e limitações que seu cargo requeriam, do quanto seria necessário que controlasse sua vaidade e os instintos de onipotência e onisciência que ela alimenta, para que ele pudesse ser o Chefe de Estado que seu povo precisava.
Folclore ou não, a mensagem passada pela fala é muito oportuna para os imperadores do Brasil neste momento. Dado que quando saem às ruas deixam-se dominar pela sensação de onisciência e onipotência que seus cargos lhes induzem a acreditar, esquecendo-se do decoro que esses cargos exigem, acabam falando mais do que a boca.
Se estivessem com os servos, certamente seriam lembrados por eles de que não são o poder. Apenas estão no poder. E, estando, têm a obrigação de cumprir a liturgia do cargo.
Infelizmente, o comportamento de alguns dos imperadores do Brasil está longe daquele que a mensagem do servo sugere.
As falas do Chefe do Executivo, faltam com o respeito ao regime democrático – que ele jurou respeitar e que permitiu sua eleição -; as do Chefe do Judiciário desestabilizam a jurisprudência, dada as inúmeras alterações na interpretação de atos jurídicos que vem fazendo, demonstrando desprezo para com a opinião pública; a do Comandante da Política
Econômica, disseminam especulações no mercado cambial, é inoportuna e preconceituosa, uma ameaça para a frágil estabilidade macroeconômica do País; as do Comandante da Educação atrasam a reforma da estrutura de ensino no País, devido a sua equivocada visão de Estrutura de Ensino; as dos Chefes do Legislativo, com seus malabarismos para atenderem, simultaneamente, a defesa do (vexatório) fisiologismo corporativo do Congresso Nacional, e a aprovação das reformas necessárias para a sustentabilidade da estrutura administrativa federal; e, correndo na raia de fora, mas com poder de fogo imensurável, as pérolas proferidas pelos zero 1, zero 2 e zero 3.
Essas conjunções de desatinos disseminam tantos ruídos na economia brasileira que, neste momento, é um desafio assegurar um prognóstico para sua trajetória. Estão sobrepostas questões de toda ordem – política, econômica, social e internacional.
Para agravar a situação, a sociedade mundial está sob a ameaça de uma pandemia de um vírus, que trará efeitos negativos sobre a economia mundial e brasileira – ainda que, por enquanto, não haja estimativas conclusivas sobre seu efeito. Só se sabe que ele chegará.
Por isso, do que se enxerga do cenário, vê-se imprevisibilidade – tudo que a economia teme.
Ainda que sua rotina é estar sob um cobertor curto – se cobrir a cabeça descobre o pé e vice-versa – quando os entraves são exclusivamente de ordem econômica, o diagnóstico para o ajuste é mais célere porque os elementos para concluí-lo estão sob o domínio da economia.
Mas quando a dificuldade é causada por fatores de ordem político-institucional, o custo e o tempo para corrigi-la são maiores, além de fugirem do seu controle.
O subproduto deste Governo sem Governança é esta economia sem pujança que temos.
Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape Business School