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sábado, 27 abril, 2024

O que pode ser feito para evitar novas tragédias como a do Sul do ES

Governo estadual vem realizando diversos investimentos como resposta às intempéries climáticas que assolam os capixabas

Por Kebim Tamanini

A região Sul do Espírito Santo enfrenta uma crise devastadora desencadeada por altos índices de chuvas, resultando em uma tragédia que já contabiliza 20 mortes e sete pessoas desaparecidas. Cidades como Alegre, Alfredo Chaves, Apiacá, Atílio Vivacqua, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Mimoso do Sul, Muniz Freire, Muqui, Rio Novo do Sul, São José do Calçado e Vargem Alta foram duramente atingidas, deixando um rastro de destruição e desespero.

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Além das perdas humanas, os danos materiais são imensuráveis. Mais de 7 mil pessoas estão desalojadas, forçadas a abandonar temporariamente suas residências, enquanto cerca de 400 desabrigados perderam praticamente tudo o que haviam construído, enfrentando uma difícil jornada de reconstrução.

Diante desse cenário desolador, uma pergunta paira sobre a comunidade: o que pode ser feito para não se repetir essa tragédia? O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA) aponta para desafios únicos enfrentados por cada cidade diante das adversidades recentes, especialmente relacionadas a problemas estruturais e geológicos, notadamente em encostas, que continuam representando sérios riscos, inclusive de desabamentos iminentes.

E a situação meteorológica não oferece alívio. Segundo o boletim da Defesa Civil, a região permanece sob alto risco de mais chuvas, com previsões indicando uma significativa probabilidade de novas precipitações nos próximos dias.

Diante dessa realidade, o engenheiro florestal e ex-secretário estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo, Luiz Fernando Schettino, enfatiza a necessidade urgente de reconhecer e agir diante das mudanças climáticas. 

“Até hoje, não conseguimos sensibilizar amplamente as pessoas sobre a urgência de reconhecermos o novo tempo em que vivemos. As mudanças climáticas não são mais uma simples questão, mas uma realidade que demanda ação imediata. Portanto, se não podemos evitar completamente essas tragédias, como as recentes que presenciamos, precisamos nos preparar melhor para enfrentar as próximas que certamente virão”, pontuou Schettino.

A conscientização e o planejamento são essenciais. Governos, comunidades e indivíduos devem trabalhar juntos para desenvolver e implementar medidas de adaptação e mitigação. “Isso inclui investir em infraestrutura resistente, sistemas de alerta precoce, educação pública sobre riscos climáticos e práticas de uso da terra sustentáveis”, alertou o engenheiro florestal.

Na busca por soluções eficazes para lidar com os desafios trazidos pelas chuvas na cidade, algumas medidas emergenciais se destacam como fundamentais para minimizar os impactos e proteger a população.

“É importante priorizar a recuperação da cobertura florestal em nossa região urbana, fortalecendo nossa capacidade de enfrentar eventos extremos. Além disso, é fundamental combater a degradação dos solos causada por práticas como estradas mal planejadas, extração mineral descontrolada e aração inadequada de morros, que comprometem a capacidade do solo de absorver água e aumentam o risco de inundações urbanas. Interromper o aterramento de áreas de recarga hídrica, como taboais e brejos, também é essencial para preservar o equilíbrio hídrico e reduzir os riscos de enchentes. Essas medidas são indispensáveis para garantir a segurança e resiliência de nossa cidade frente aos desafios climáticos”, destaca Schettino sobre os pontos que precisam ser melhorados para amenizar os impactos.

Para o presidente do Crea-ES, Jorge Luiz e Silva, diante desse contexto, é imprescindível avançar em direção a cidades inteligentes e planejadas, com sistemas de drenagem eficientes e capacidade para lidar com os riscos associados. “Aprendendo com os equívocos do passado, precisamos evitar construções em áreas de risco e promover práticas sustentáveis de ocupação do solo. Além disso, a conscientização ambiental e a preservação de áreas naturais são fundamentais para reduzir os impactos desses eventos”, refletiu.

Governo estadual vem realizando diversos investimentos como resposta às intempéries climáticas que assolam os capixabas
Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (Cepdec). Foto: Secom ES

A Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (Cepdec) esclareceu que durante a última semana, esteve engajada na disseminação dessas informações vitais para as Defesas Civis Municipais e outros órgãos que integram o Sistema Estadual de Proteção e Defesa Civil, sobre possíveis altos índices de chuva na região. No entanto, ressaltaram que todos os levantamentos e projeções realizados antecipadamente apontavam para acumulações pluviométricas significativamente inferiores em comparação com o que efetivamente ocorreu.

O que vem sendo feito até o momento?

No mês de março de 2023, o governo estadual lançou o Fundo Cidades – Adaptação às Mudanças Climáticas, marcando um marco importante na resposta às intempéries climáticas que assolam a região. Ao longo do último ano, esse fundo tem desempenhado um papel crucial na mitigação dos impactos das adversidades climáticas, especialmente na região Sul do estado, que tem sido particularmente afetada.

Com a previsão de investimentos de aproximadamente R$ 1 bilhão até o final de 2026, o Fundo Cidades está focado em ações de prevenção e recuperação em áreas atingidas por desastres naturais, preservação ambiental e conservação dos recursos hídricos. Esses recursos são direcionados para obras de grande importância, como macrodrenagem, contenção de encostas e construção de reservatórios para captação de águas pluviais, que visam fortalecer a resiliência das comunidades locais.

Reformulado pelo Governo do Estado para se concentrar exclusivamente na prevenção de tragédias climáticas, o Fundo Cidades já tem 22 obras em execução e outras 54 sendo projetadas. Essas medidas incluem não apenas obras de infraestrutura, mas também investimentos em tecnologia e inteligência para o monitoramento e previsão de eventos climáticos extremos.

Outro exemplo é a criação do Centro de Inteligência da Defesa Civil Estadual (Cidec), que recebeu um investimento de R$ 56 milhões para sua construção e implantação. Além disso, o governo implementou o sistema de monitoramento ALERTA!ES, que utiliza tecnologia avançada para coletar, armazenar, tratar e gerenciar dados sobre as condições hidrológicas e meteorológicas, fornecendo informações cruciais para a tomada de decisões e ações preventivas.

Cartão Reconstrução, ES Solidário, subsídios e linhas de financiamento são algumas das ajudas que estarão disponíveis para os afetados
Governador decretou Situação de Emergência devido às chuvas no sul do Estado. Foto: Secom ES

Pedido de ajuda federal

Após a tragédia desencadeada pelas chuvas em 13 cidades capixabas, o governo federal, por meio do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, recebeu um relatório inicial detalhando os prejuízos causados e as medidas necessárias para a reconstrução e recuperação das áreas afetadas.

Segundo o documento, precisa construir 560 novas unidades habitacionais e a reparação de quase 1,7 mil residências danificadas, demandando um investimento estimado em R$ 275,3 milhões. Além disso, o governo estadual destaca a urgência na recuperação de trechos de rodovias estaduais e pontes, bem como na contenção de deslizamentos em diversos pontos. Para esse fim, estima-se um investimento necessário de R$ 124,3 milhões.

Outras demandas destacadas incluem obras de pavimentação e recuperação de vias urbanas, contenção de encostas, serviços de macrodrenagem e desassoreamento, além da recuperação e reconstrução de pontes, totalizando um investimento previsto de R$ 250 milhões.

Na área rural, o governo capixaba aponta a necessidade de manutenção ou reabilitação geral de estradas vicinais, pavimentadas ou não, além de intervenções em pontes rurais, demandando um investimento estimado de R$ 93,7 milhões.

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