27.7 C
Vitória
quinta-feira, 28 março, 2024

O bom exemplo

A visão industrializante é predominante desde a revolução industrial (1760-1840) com seus novos processos de manufatura


Quando se fala sobre superação de crises econômicas, logo vêm às mentes dos gestores públicos, sejam economistas ou não, a imagem de apoio financeiro à atividade produtiva representada pelas grandes e médias empresas fabris. Bem como a outras, de mesmos portes, representantes das prestações de serviços gerais a elas vinculados. Gigantescas boias de salvação são infladas e lançadas a um mar revolto, cheio de incessantes e sufocantes ondas políticas, econômicas e sociais. Há situações em que isso tudo não será a solução para atravessá-lo, como agora com a pandemia. Ao final, será ele, o mar, que as deixará passar.

A visão industrializante é predominante desde a revolução industrial (1760-1840) com seus novos processos de manufatura. A qual, reconhecida e meritoriamente, dinamizou a trilha do caminho da prosperidade humana. Limitada inicialmente à Inglaterra, espalhou-se pela Europa em poucos anos e veio a se consolidar, em décadas recentes, com o advento da tecnologia digital. Não há como negar sua importância na vida humana. Inúmeros intelectuais já comentaram com maestria sua gênese e evolução.

- Continua após a publicidade -

Mas, se não há como negá-la, também não há como esquecer ou desprestigiar importantes mudanças como o Renascimento (séculos XIV-XVI) e o Iluminismo (séculos XVII e XVIII). Neles, a criação humana intelectual, artística e cultural trouxe uma inestimável contribuição para a condição humana. No Renascimento, sinônimo do alvorecer da Idade Moderna, com o culto à importância do ser humano e de seu insubstituível e inalienável papel na construção do futuro da humanidade, com estudos densos e admiráveis da filologia, o amor aos estudos, e de nossos traços arqueológicos.

Já no Século das Luzes, tempos de Rousseau, Voltaire e Kant, com a razão e a luz vencendo a ignorância e as trevas. Algo tão necessário nos dias em que vivemos. A luta pelo fim da prevalência dos dogmas no ambiente religioso; do autoritarismo do absolutismo no ambiente político; da desigualdade social emanada de insustentáveis privilégios no âmbito social; e do excludente mercantilismo no ambiente econômico. Não se abominava a religião, vale lembrar, mas seu excessivo dogmatismo e intolerância. Creio que o atual Papa assim também entende.

Já na Idade Contemporânea, em momentos de crise econômica, muitos observam a crise de 1929 e o “New Deal” liderado por Franklin Delano Roosevelt. E nele encontram exemplos de forte apoio às grandes e médias corporações empresariais e a realização de grandes obras públicas depois de três terríveis secas que minaram a agricultura em 1930, 34 e 36 e queda de 88% da produção siderúrgica após outubro de 1929. O livro “As Vinhas da Ira” de Steinbeck é uma ode à essa época. E Roosevelt fez uma escolha entre proposições, principalmente, as de Hayek e Keynes. Sendo este último seu protagonista mor.

Porém, salvo raríssimas exceções, poucos são aqueles que destacam o seu robusto estímulo e real investimento na indústria das artes, da cultura e do turismo. Roosevelt criou 8 milhões de novos empregos com inauguração de 5.900 escolas, 13.000 novas áreas de lazer e 2.700 peças de teatro, pelo Plano Federal de Teatro. Também os criou para 3,4 milhões de jovens no Corpo de Conservação Civil, os quais construíram 21 mil quilômetros de trilhas, plantaram 2 bilhões de árvores e cuidaram de 250 mil quilômetros de estradas de terra. Assim, os parques estaduais transformaram-se em uma imensa atração de turistas de todo o mundo, gerando receitas e empregos. Além de pesquisas.

Fica o bom exemplo a ser seguido, senhor presidente da república.

Antônio Marcus Carvalho Machado é economista (Ufes) e mestre em Administração (UFMG)

Mais Artigos

RÁDIO ES BRASIL

Continua após publicidade

Fique por dentro

ECONOMIA

Vida Capixaba