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quinta-feira, 2 maio, 2024

Inovação garante qualidade e alta no consumo do café

Os “cafés especiais”, onde são empregadas maior tecnologia na produção e no preparo, registram alta no consumo mundial em torno de 15% ao ano

Das lavouras rudimentares em 1727 para as modernas tecnologias em 2023. A produção do café no Brasil aposta na inovação para melhorar a qualidade dos grãos, ampliar a exportação e diversificar o mercado. Rastreamento digital, embalagens tecnológicas, inteligência artificial para facilitar a vida dos produtores e drones conectados a satélites para monitorar a biodiversidade são alguns exemplos.

“A busca por inovação é essencial para atender às demandas dos consumidores cada vez mais exigentes e, com isso, aumentar o consumo mundial. A inovação no processamento e torrefação do café pode levar a produtos com sabores únicos e distintos”, explica Fabiano Tristão, engenheiro agrônomo e extensionista do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), com atuação ligada à qualidade do café.

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Segundo o agrônomo, a inovação é utilizada em toda a cadeia do café, da produção ao consumo. As novas técnicas de torrefação, por exemplo, podem criar perfis de sabores inovadores. Da mesma forma na preparação – por meio de máquinas de café expresso avançadas – é possível proporcionar experiências sensoriais diferenciadas aos consumidores.

“A inovação também é crucial no desenvolvimento de novos produtos e formatos de café, como a introdução de café em cápsulas que revolucionou o mercado, oferecendo uma maneira prática de preparar uma xícara de café de qualidade em casa ou no escritório”, ressalta Tristão.

Outro ponto importante abordado pelo engenheiro do Incaper é quanto à inovação nas estratégias de venda do produto, visto a grande utilização das redes sociais pelos consumidores.

“A inovação desempenha um papel importante na criação de estratégias de marketing e comercialização dos produtos de café. Com a crescente popularidade das mídias sociais e o aumento da conscientização dos consumidores em questões como comércio justo e sustentabilidade, as empresas de café precisaram inovar em suas abordagens para se conectarem a essas pessoas e transmitirem os valores de suas marcas”, justifica.

Inovação impacta no crescimento

Os números mostram que a inovação tem ligação direta com o aumento no consumo do café. Só para ter uma ideia da importância desse avanço, segundo os dados do Incaper, o consumo mundial dos “cafés commodities” tem crescido em torno de 1,5% a 2,0% ao ano. Já o de “cafés especiais”, onde são empregadas mais inovações na produção e no preparo, a alta gira em torno de 15% ao ano, quase sete vezes mais.

café - inovação
O engenheiro agrônomo e extensionista do Incaper, Fabiano Tristão, explica que a inovação é utilizada em toda a cadeia do café, da produção ao consumo.

No Espírito Santo não é diferente. No período entre 2010 e 2022, houve uma evolução significativa na produtividade do café conilon no Estado. Segundo o Incaper, ela passou de, aproximadamente, 22 sacas por hectare em 2010 para cerca de 40 sacas por hectare em 2023. “Toda essa evolução coloca o estado capixaba como referência na aplicação de tecnologia e inovações na cafeicultura, tornando-o o maior produtor de café conilon do Brasil, com produção estimada, para 2023, em 10,5 milhões de sacas de café beneficiadas”, ressalta Tristão.

O agrônomo lembra ainda que o Espírito Santo também tem se destacado na produção de cafés especiais, nas regiões de Montanhas e Caparaó, sendo referência mundial por conta da diversidade de aromas e sabores.

“Devido aos investimentos em tecnologia e inovação no manejo e nas práticas de colheita e pós colheita, o Estado virou uma grande referência mundial na produção de cafés especiais. Atualmente, são produzidas cerca de 1,5 milhão de sacas de café de qualidade superior sendo que, dessas, cerca de 300 mil são de cafés especiais com pontuação acima de 80 pontos”, enfatiza.

Tecnologia que faz a diferença

O sucesso nacional e internacional do café capixaba não é por acaso. É fruto de anos de trabalho e estudo. Essa melhoria na produtividade pode ser atribuída a vários fatores, como investimentos em pesquisa, melhores práticas de manejo, tecnologia, assistência técnica, capacitação e conhecimento.

Fabiano Tristão diz que os produtores entenderam a importância da modernização para a expansão dos negócios. “Os produtores têm adotado práticas de manejo mais eficientes, como poda adequada, controle de pragas e doenças, manejo da irrigação e adubação balanceada. Tudo isso contribui para o desenvolvimento saudável das plantas e o aumento da produtividade”, afirma.

Além disso, a disponibilidade de tecnologias modernas, como equipamentos de colheita mecanizada e sistemas de irrigação mais eficientes, aliada à assistência técnica fornecida pelo Incaper e outras instituições, têm ajudado os produtores a otimizar o manejo e obter melhores resultados.

“O Incaper tem realizado pesquisas para desenvolver variedades de café conilon mais produtivas e resistentes a doenças. A capacitação dos produtores em técnicas agrícolas atualizadas e o acesso a informações sobre boas práticas de manejo têm contribuído muito para o aumento da produtividade”, explica Tristão.

Inovação na prática

As modernas técnicas de inovação e tecnologia têm sido fundamentais em todo o processo da cadeia produtiva do café. Esses investimentos podem ser vistos, na prática, em várias áreas, confira:

  • No campo: tecnologia de irrigação, sistemas de podas, adensamento das lavouras entre outras práticas que têm sido importantes para aumentar a produtividade das lavouras, e com isso, possibilitar maior viabilidade econômica da atividade.
  • Na colheita: tecnologia e melhora na eficiência de práticas como processamento, secagem e armazenagem.
  • Processo de torra: as inovações ocorrem nos métodos de torras e formas de preparo.
  • Pós colheita: processamento via úmida, onde o café, após a colheita, passa pelo processo de lavagem, separação de verdes e descascamento e, posteriormente, é encaminhado para tangues de fermentações (espontâneas ou induzidas) dando origem aos cafés cerejas despolpados.
  • Coberturas: outra tecnologia importante para a produção de cafés especiais é o uso de terreiros com coberturas plásticas para secagem do café com maior eficiência e proteção. Também vale ressaltar o uso de secadores com controle automatizado da temperatura ideal de secagem.
  • Armazenagem: na fase de armazenamento, o destaque é o uso das embalagens de alta barreira de proteção, que mantêm a qualidade do café armazenado por um maior período de tempo.
  • Setor de produção: uso da irrigação localizada com fertirrigação, adensamento das lavouras, plantio em linha, manejo integrado de pragas e doenças, processamento via úmida do café, uso da centrífuga para enxugar e transportar o café, terraciamento das lavouras.
  • Comércio e indústria: desenvolvimento de torras de acordo com o terroir dos cafés e novas máquinas de preparo e torra de café.
  • Selo de Indicação Geográfica (IG): trata-se de uma plataforma digital que permite rastrear a origem do grão de café, sua herança, tipicidade, autenticidade, área em que foi produzido e o método utilizado, além de facilitar a comunicação entre os produtores de café.
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As modernas técnicas de inovação e tecnologia têm sido fundamentais em todo o processo da cadeia produtiva do café. Desde o campo, até o preparo / Foto: AdobeStock
  • Cosméticos: são enormes as possibilidades que o café permite ao setor de cosméticos. A biomassa dos grãos verdes é utilizada como esfoliante vegetal em sabonetes e cremes, o extrato oleoso é um poderoso antioxidante, há perfumes provenientes da florada de café, cremes anti-celulite e anti-rugas, entre outros produtos.
  • IoT (Internet das coisas): a conexão entre drones e câmeras conectadas à internet via satélite fornece aos agricultores informações sobre a biodiversidade da região em tempo real.
  • Tecnologia da Informação: na área de T.I, algumas empresas se especializaram em café. Um desses exemplos é a Algrano. Com as ferramentas fornecidas pela empresa, o produtor pode, por exemplo, conferir, em tempo real, em quais datas é possível fazer pedidos, saber quando o café será colocado a bordo e desembarcado. E ainda se planejar meses antes do início da torra, projetar a duração do estoque e organizar todas as suas demandas de originação, além de encontrar os cafés desejados e conectar os parceiros compatíveis.
  • Inteligência Artificial: há vários setores na cadeia produtiva do café em que a Inteligência Artificial está sendo utilizada.Pesquisadores da USP e do Centro de Computação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) desenvolveram um método para seleção de grãos com base em imagens multiespectrais e machine learning (que é um das áreas da inteligência artificial). Ele dispensa a torra, pode ser realizado em tempo real durante a produção e evita possíveis falhas humanas na avaliação.A startup Adroit Robotics disponibiliza a tecnologia Leafsense para a cultura do café. Ela utiliza uma combinação de sensores inteligentes para detectar o melhor momento para a colheita dos grãos.A CoffeeClass, tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP), utiliza visão computacional e inteligência artificial (IA) para aferir a qualidade global diretamente no café torrado e moído.

A matéria acima é um conteúdo da edição impressa de ES Brasil n°213/2023. Clique aqui para ler a revista completa.

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