Parte dos consumidores requer mais conceito do que produto em si. A qualidade é importante, mas a forma de produzir assume um papel maior na decisão de compra
Por Enio Bergoli
A cafeicultura para o Espírito Santo é, proporcionalmente, mais importante do que para qualquer outro estado da federação. Aqui temos cerca de 70% das propriedades rurais envolvidas na atividade, com mais de 26 mil cultivando arábica e cerca de 50 mil produzindo conilon. Além disso, é notória a evolução tecnológica pela qual a cafeicultura capixaba vem passando nos últimos anos, no entanto, é preciso ir além.
Atualmente, grande parte dos consumidores requer mais conceito do que produto em si, ou seja, a qualidade é importante, mas a forma de produzir vai assumindo um papel maior na decisão de compra. As práticas do ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) vêm ocupando espaço de destaque no Agro e seus negócios associados. A permanência no mercado de produtos agrícolas somente será certa para quem desenvolver ações focadas na proteção dos recursos naturais, na redução das desigualdades e no estabelecimento de políticas públicas voltadas para diversidade, além da mitigação de atos comportamentais inadequados nos modelos de negócios.
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Foi com base nessas tendências que o Governo do Estado estruturou o Programa de Desenvolvimento Sustentável da Cafeicultura do Espírito Santo, sem dúvidas o mais ousado, contemporâneo e abrangente do Brasil. A construção envolveu todas as organizações e os elos da cadeia produtiva do café, desde a semente até a xícara, contando com apoio estratégico do Sebrae, que compartilhou com a Secretaria de Estado da Agricultura e o Incaper a liderança do processo.
Como não poderia ser diferente, dentre os cinco eixos do Programa estão os três do ESG (ambiental, social e governança) aos quais se somam os eixos de tecnologia e agregação de valor, fundamentais para que seja possível atingir o propósito estabelecido: Ser uma das principais origens de cafés no Mundo em diversidade e qualidade com sustentabilidade, sendo reconhecido como referência em produtividade e bem-estar das famílias produtoras.
Para isso, considerando a pujança da atividade, as metas obrigatoriamente teriam que ser ousadas, para os próximos 10 anos. Mas, temos plena confiança que, em face do amplo arranjo de parcerias e a convergência de atuação de diversas instituições, conseguiremos batê-las. Em resumo, na produtividade a meta é elevar a média para 35 sacas por hectare no arábica e 60, no conilon. No quesito qualidade, chegar a 4 milhões de sacas de cafés superiores e na sustentabilidade, que é a principal meta, chegar a 20 mil propriedades no conilon e outras 15 mil no arábica, com adequação socioambiental completa.
São novos rumos para a cafeicultura capixaba, que já começa a colher os frutos do planejamento e da confiança da comunidade internacional no arranjo estruturado no ES. Como exemplo, citamos a comitiva que nos visitou recentemente, articulada em estreita parceria com o Conselho de Exportadores de Café do Brasil – Cecafé. Representações da Organização Internacional do Café, da União Europeia, do Departamento de Agricultura do Governo Americano (USDA) e da Associação da Indústria do Café dos Estados Unidos (NCA), além da direção do Cecafé, vieram constatar a evolução da sustentabilidade e da qualidade da produção de cafés do Estado, fazendo ressoar essa mensagem nos principais mercados consumidores do grão.
Somos pequenos na extensão territorial, mas gigantes na capacidade de produzir, de atuar coletivamente (que o digam nossas cooperativas cafeeiras) e de construir sólidas parcerias, razão pela qual estamos dando nossa contribuição para o futuro da cafeicultura mundial. Tudo isso num contexto maior, que é o de melhorar a qualidade de vida das famílias rurais capixabas.
Enio Bergoli é Secretário de Agricultura do Espírito Santo, Eng. Agrônomo e pós-graduado em Adm. Rural. Foi Presidente do Incaper entre 2003 e 2008. É servidor do Incaper desde 1986.