Conta aí: a cada duas horas, uma mulher é vítima de assassinato no Brasil. Ou seja, se são 16 horas agora, oito já foram mortas. São 12, todos os dias.
Todos os dias, uma dúzia de mulheres são assassinadas brutalmente. Muitas delas são atacadas por um marido, namorado, parceiro ou ex. Um homem que não aceita qualquer gesto que lhe pareça insubmissão. Assassinadas, em boa parte das vezes, por esboçarem alguma reação à opressão masculina.
Tatiane Spitzner, a advogada, foi mais uma que perdemos. Ela gritou, pediu ajuda. Mas era briga de marido e mulher, né… E é assim, com ninguém metendo a colher, que esse tipo de tragédia se desenha. Luiz Felipe, seu marido, o professor de Biologia “fortão”, é mais um desses que se acham no direito de agredir e tirar a vida de uma mulher. Não foi anabolizante, gente. Não foi doença mental, não foi momento de descontrole. Foi violência bárbara contra a mulher. Crime.
Alguns vão dizer, de certa forma culpabilizando a vítima: mas por que não se separou antes? Então, lembra da médica capixaba? Ela se separou, ele não aceitou. Foi assassinada covardemente, ao sair de mais um dia de trabalho, sem chance de defesa. Não pôde sequer tentar uma nova vida, longe de seu algoz.
A separação, em vários casos, apenas aumenta o ódio e a violência. Porque esse tipo de homem se acha dono, sabe? Não aceita perder. Não é uma relação simples de se desfazer. É complexa.
Julgamentos simplistas não cabem aqui. O que se chama de feminicídio é o ápice do machismo brutal que ainda encontra espaço nas entranhas da sociedade. Muitos homens o perpetuam e algumas mulheres também contribuem. E não se pode esquecer das outras violências todas a que a mulher, muitas vezes veladamente, é submetida no dia a dia: não somente as físicas, mas as emocionais e simbólicas.
Às vezes, está lá, sorrindo nas redes sociais. Mas as dores que carrega, vítima desse comportamento masculino destrutivo e opressor, só ela sabe.