Mais de 7,5 milhões de toneladas de minério de ferro foram produzidas até novembro de 2022. Expectativa do setor é de alta nas exportações em 2023
O cenário de siderurgia e mineração neste ano não foi tão bem o esperado. O mundo atravessou adversidades que em tese deveriam ter derrubado o preço das commodities.
Mas isso não aconteceu: “2022 foi o ano para derrubar analista”, aponta André Mota, analista de mercado da XP Investimentos.
A invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro, jogou o preço do petróleo nas alturas e encareceu a energia para um mundo que já sofria com inflação elevada. “Isso fez que com as políticas expansionistas fossem cortadas e um ciclo de aumento de juros, como não se via desde a crise de 2008, fosse iniciado globalmente”, afirmou Mota.
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Aliado a isso, a China oscilou bastante em razão de uma crise hídrica, de sua política de Covid zero e de mudanças de postura do presidente Xi Jinping em relação ao mercado, além da crise imobiliária, que se intensificou.
“Mesmo assim, os preços do minério de ferro e do aço realmente não oscilaram tanto, e a provável explicação é que praticamente não há aumento de oferta das commodities no mundo. Em tempos passados, o excedente da China era exportado. Neste ano, sem energia e com políticas de redução de carbono, vários fornos eram desligados quando a demanda por lá caía. Mesmo com todos os ventos contrários, a demanda foi suficiente para garantir preços que permitiram principalmente à Vale e à Gerdau, menos endividadas e mais diversificadas, atravessarem o ano com volatilidade, mas com resultados bons. Já a Usiminas sofreu com problemas operacionais próprios, como uma falha em sua coqueria e a necessidade de uma reforma grande em um de seus altos-fornos”, detalhou o especialista.
O diretor do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, enfatizou que o setor no Estado ainda “sofre os impactos dos desastres de Mariana, ocorrido em 2015, que interrompeu as atividades da Samarco, retomadas somente no ano passado, e de Brumadinho, em 2019”. E reitera que as medidas restritivas na China, incluindo o fechamento de indústrias, diminuiu a demanda por minério de ferro, prejudicando o valor do produto. “Tanto a queda de mercado na China quanto o receio global de uma recessão nos próximos anos são fatores que impactam as indústrias capixabas desse
setor”, disse Pablo.
Resultados
Os números finais deste ano deverão ser conhecidos somente no início de fevereiro de 2023. Mas os dados mais recentes apontam que, pelo Espírito Santo, no terceiro trimestre, foram exportadas 4.269,32 toneladas de minério de ferro e seus concentrados.
No acumulado do ano, são 11.895,69 toneladas, o que resultou em um aumento de 5,69% sobre igual período de 2021.
O saldo mineral nacional (diferença entre exportações e importações) é de 51% do saldo Brasil no terceiro trimestre de 2022, representando um volume de US$ 13,4 bilhões. Em relação ao segundo trimestre, houve baixa de 56,4% em dólar, de acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram).
As exportações minerais para a China, principal comprador do Brasil, tiveram retração de 43,6% em valor, no confronto com o terceiro trimestre de 2021, e expansão de 2,9% em toneladas.
Já no comparativo com o segundo trimestre deste ano, elevaram-se 34,3% em toneladas e 6,9% em valor.
O preço do minério de ferro, principal produto do setor exportado pelo Brasil, apresentou redução de 37,3% no terceiro trimestre de 2022 diante de igual período do ano passado e variação negativa de 25,8% em relação ao segundo trimestre deste ano.
O recuo em valor atingiu 44,7% no terceiro trimestre perante o mesmo intervalo de 2021. Houve contração também em valor de 3,2% em relação ao segundo trimestre de 2022. Em termos de toneladas, foi registrado aumento de 1,5% e de 23,3%, respectivamente. As exportações de minério de ferro corresponderam a 70,5% das exportações brasileiras em dólar.
Em tonelagem, a redução nas importações minerais feitas pelo Brasil atingiu 20,5% em relação ao terceiro trimestre do ano passado e 23,3% diante do segundo trimestre deste ano.
Samarco
Mais de 7,5 milhões de toneladas de pelotas e finos de minério de ferro foram produzidas pela Samarco de janeiro até novembro deste ano, uma alta de 5,6% sobre o mesmo período do ano passado. Foram embarcados 77 navios.
Operando com 26% da capacidade produtiva, a empresa investiu mais de R$ 1,1 bilhão no mesmo período para sustentação das operações, continuidade das obras de descaracterização da barragem e cava do Germano, entre outras ações. Até outubro, foram mais de R$ 915 milhões em tributos da própria empresa e aqueles gerados na aquisição de bens, materiais e serviços de fornecedores. Até o final de 2022, os impostos devem somar R$ 1,1 bilhão, incluindo a projeção dos dois últimos meses.
Para 2023, a empresa planeja produzir de 8 milhões a 9 milhões de toneladas (+10%), com investimentos de R$ 1,6 bilhão, sendo R$ 721 milhões para as obras de descaracterização, em estágio avançado. A retomada total da capacidade produtiva está prevista para ocorrer de forma gradual e segura até 2028.
“Neste segundo ano de nossa retomada, concretizamos a estabilidade operacional da empresa, superando as expectativas de performance, alcançando mais eficiência e custo operacional competitivo. Ao mesmo tempo, consolidamos nosso retorno ao mercado e nossas relações com clientes estratégicos. Queremos, em 2023, evoluir ainda mais para seguirmos com o nosso propósito de fazer uma mineração diferente, mais segura e sustentável”, destacou o presidente da Samarco, Rodrigo Vilela.
ArcelorMittal
A siderúrgica registrou lucro líquido de US$ 933 milhões no terceiro trimestre deste ano, uma queda de 79,7% em relação aos US$ 4,62 bilhões de igual período do ano passado (3T21). As vendas da empresa alcançaram US$ 18,98 bilhões no trimestre, um recuo de 6% na comparação ao 3T21, quando apurou US$ 20,23 bilhões. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) baixou para US$ 2,66 bilhões – no mesmo período de 2021, havia obtido US$ 6,06 bilhões.
Os resultados foram afetados pela piora nas condições de mercado, marcada por menos embarques e custos mais altos com energia. Houve influência de preços médios mais baixos do aço e de menores volumes negociados, sobretudo com a menor demanda na Europa, os preços da energia e a perspectiva econômica ainda incerta para a indústria no curto prazo.
No Espírito Santo, a ArcelorMittal Tubarão responde por cerca de 13% do Produto Interno Bruto (PIB) local. Em outubro deste ano, a companhia anunciou que haverá renovação em seus equipamentos. Além da compra de novas pontes rolantes, os investimentos incluem reforma de caldeira e gasômetro, um novo forno panela e uma linha de laminado a frio e galvanizado.
As obras de alguns desses projetos deverão ser iniciadas já no primeiro semestre de 2023. “A siderúrgica tem perspectiva de adquirir serviços e produtos de fornecedores do Espírito Santo voltados à fabricação de estruturas complexas, manutenção mecânica em fornos de reaquecimento, alpinismo industrial, manutenção em transportadores de correia e linha férrea e revestimento de placa de lingotamento contínuo, entre outros”, apontou em nota.
A ArcelorMittal prevê ainda investir R$ 1,2 bilhão na execução de projetos normativos para melhoria da produção e controle ambiental na planta de Tubarão.
Vale
No terceiro trimestre deste ano, a Vale obteve lucro líquido de US$ 4,44 bilhões, um crescimento de 7,5% em relação ao segundo trimestre, mas uma queda de 19,2% na análise com o terceiro trimestre de 2021, quando os ganhos foram de US$ 5,5 bilhões.
As vendas de finos e pelotas de minério de ferro aumentaram para 77,6 milhões de toneladas nesse período. A produção de minério de ferro atingiu 89,7 milhões de toneladas métricas, 21% a mais que o volume do trimestre anterior e um avanço de 1,1% em relação a igual período de 2021. Já a produção de pelotas totalizou 8,2 milhões de toneladas.
Entre os grandes projetos em execução neste ano no Estado, destaca-se o investimento da Vale para reduzir a emissão de poluentes e melhorar a qualidade do ar. Somadas todas as ações vinculadas ao Termo de Compromisso Ambiental (TCA) da companhia, o recurso aplicado deverá chegar a R$ 4,6 bilhões.
