O economista do IBEF-ES, Fabrício Norbim, analisa os motivos da queda do IPCA-15 e o impacto do preço dos alimentos
Por Amanda Amaral
Em agosto, a prévia da inflação oficial no Brasil registrou a menor taxa de sua série histórica iniciada em 1991. Houve queda de 0,73% puxada pela baixa no preço dos combustíveis, mas o índice continuou a indicar alta no grupo de alimentos. Apesar do recuo, o indicador deve voltar a subir em 2022, conforme as previsões do mercado financeiro.
A variação mensal do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) foi divulgada nesta quarta-feira (24) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda de preços no período foi puxada pelos transportes (- 5,24%), que foi influenciado pelos combustíveis (-15,33%). Já os alimentos apresentaram a maior alta do índice no mês (1,12%), frente aos 1,16% de julho.
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Em razão da deflação na prévia, os especialistas do Boletim Focus já estão anunciando para agosto o recuo de 0,19% da inflação oficial, o IPCA. Há um mês, a projeção era alta de 0,13%. Contudo, até dezembro de 2022, a tendência é que o índice volte a subir, segundo o assessor de investimentos e membro do Comitê Qualificado em Economia, Perspectivas e Cenários Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), o economista Fabrício Norbim.
ICMS dos combustíveis
“Via de regra, após uma deflação, esperamos em seguida algo em zero a zero, ou uma pequena inflação, até voltarmos ao patamar de uma inflação mais relevante. O mercado estima que em setembro já não ocorra mais deflação”, analisou.
No final de junho de 2022, foi sancionada a Lei Complementar 194, limitando aos estados a cobrança do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de combustíveis, gás natural, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.
“A lei causou um impacto de curto prazo, mas o mercado prevê que essas medidas podem pressionar o índice a médio e longo prazo, inclusive em 2023, porque existe a questão da não arrecadação do imposto pelos estados, o que precisa ser ajustado. Gosto de fazer uma analogia entre a política de governo e o que fazemos em nossas casas. Se a receita diminui, consequentemente, temos que cortar despesas”, comentou o economista.
Também houve recuo no preço de setores como habitação (-0,37%), energia elétrica residencial (-3,29%) e comunicação (-0,30%).
Inflação nos lares
A deflação alivia os gastos da população? Segundo Fabrício Norbim a coisa não é bem assim. Como o índice é formado por uma cesta variada de produtos, a queda do IPCA-15 pode contribuir para baixar o preço de alguns deles, porém o de outros continua em alta.
“A população sentiu o reflexo com relação aos itens que se destacaram este mês, mas quando olhamos para o setor de alimentação e bebida, os preços continuam subindo, isso porque podem existir fatores externos como a guerra entre a Ucrânia e a Rússia, por exemplo, o que faz elevar o preço de alguns alimentos. Vale lembrar ainda que estamos em um cenário de recuperação econômica em razão da pandemia da Covid-19 com o rearranjo das cadeias produtivas”, pontou.
Entre os produtos que se destacaram em agosto pela inflação estão: leite longa vida (14,21%); frutas (2,99%); queijo (4,18%); e frango em pedaços (3,08%). Também registraram alta, os grupos de despesa saúde e cuidados pessoais (0,81%), despesas pessoais (0,81%), vestuário (0,76%), educação (0,61%) e artigos de residência (0,08%).
Meta da inflação
Além disso, a variação mensal do IPCA-15 contrariou as apostas do mercado financeiro que aguardava deflação em torno de 0,8%. Com o resultado de agosto, o índice acumula taxa de 5,02% nos oito primeiros meses de 2022 e de 9,60% em 12 meses.
A última divulgação do Boletim Focus reduziu de 7,02% para 6,82% a expectativa da inflação no fechamento de 2022, contudo, mesmo abaixo dos dois dígitos, o índice ainda é considerado alto e aquém da meta estipulada para este ano pelo Banco Central (BC), entre 2% e 5%.
“A inflação continua alta e fica difícil de a meta do BC ser atingida este ano. Apesar das baixas no índice, tudo caminha para que ela não feche, já que deveria ficar pelo menos em torno de 4,75%”, explicou Fabrício Norbim.
Taxa básica de juros
As projeções do Boletim Focus desta semana para o Produto Interno Bruto (PIB) passaram de 2% para 2,02%, oitava semana consecutiva de crescimento. Sendo assim, outra expectativa do mercado financeiro é a queda da Taxa Selic, a taxa básica de juros do país, atualmente em 13,75% ao ano.
“O PIB é a soma dos bens e produtos produzidos no país, com o IPCA reduzindo, temos também a possível queda da taxa de juros, o que tende a acelerar a economia e melhorar o PIB”, disse o economista.
Com informações da Agência Brasil.