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domingo, 5 maio, 2024

Inovação: sem ela, não há solução

Inovação: sem ela, não há solução“Não há maior sinal de loucura do que fazer uma coisa repetidamente e esperar a cada vez um resultado diferente” (Albert Einstein)
Conta a lenda que um sábio, em suas andanças, pediu abrigo em um casebre muito pobre, numa região desolada. Quando perguntou ao dono da casa como eles sobreviviam, escutou como resposta: “O senhor vê aquela vaca? Dela tiramos todo o nosso sustento. Do leite fazemos queijo, e quando sobra, vamos à cidade e trocamos por outros alimentos”. O sábio agradeceu a hospitalidade e, ao partir, jogou a vaquinha num precipício. Anos depois, o sábio decidiu voltar àquele lugar. Ao chegar, avistou um sítio maravilhoso, com muitas árvores, piscina, carro importado, antena parabólica. Ele então perguntou ao dono da casa o que tinha provocado tamanha mudança, e ele respondeu: “Nós tínhamos uma vaquinha, de onde tirávamos nosso sustento. Mas, um dia, ela caiu no precipício e morreu. Para sobreviver, tivemos que desenvolver habilidades que nem sabíamos que tínhamos. E foi assim, buscando novas soluções, que hoje estamos muito melhor que antes”.

Essa anedota anônima, bastante conhecida nos meios empresariais, ilustra bem o papel que a inovação pode ter na trajetória de um grupo, seja uma família, uma empresa ou uma nação e, especialmente, por que é o único caminho possível hoje para os empreendedores capixabas, diante do cenário de graves perdas econômico-financeiras com que se defronta o Estado – desindustrialização de importantes setores, extinção do Fundap e redução brusca do volume de royalties do petróleo.

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Já destacada por diversos especialistas e analistas econômicos, a situação do Espírito Santo caminha para fora da zona de conforto vivida durante o “círculo virtuoso” dos últimos dez anos. A “vaquinha” capixaba se dirige para o precipício a passos largos e, assim como a família da historinha acima, o Estado, seus gestores e empreendedores precisam rapidamente mudar seus modelos mentais para descobrir “habilidades que nem sabíamos que tínhamos” e, assim, garantirmos uma situação melhor que antes – ou, pelo menos, igual. É preciso, então, lutar pelos direitos, mas assegurar iniciativas inovadoras, para não ficar na dependência somente daqueles dois instrumentos de sobrevivência.

A inovação para a sustentabilidade de qualquer organização depende do modelo mental de seus administradores e equipes. Para além da tecnologia, exige inovação de mentalidade. E o primeiro passo para a mudança é reconhecer que o que se sabe não é o suficiente, que há coisas novas e importantes a descobrir, que existe um patamar superior onde moram ideias e atitudes inovadoras. A dependência, por si só, já ocasiona limitação – aos negócios e à visão. Por isso, nem sempre é ruim que a vaca caia no precipício.

O setor empresarial capixaba está cercado de desafios e em nada contribui para o sucesso acreditar na falácia de que “os outros é que devem mudar”, e não as próprias cabeças que requerem a mudança. As empresas estão inovando, mas tanto elas quanto o próprio governo deixam a desejar quando o assunto são os temas mais urgentes da realidade capixaba. Há um ambiente de negócios extremamente competitivo, e o empresariado da terra se posiciona num cenário de crise e de ações de Governo mais pontuais do que planejadas estrategicamente.
Desta opinião compartilha o economista Guilherme Pereira. “Certamente são indesejadas e inadequadas ao pacto federativo às ameaças recentes às finanças capixabas. Mas não deve haver dúvidas de que elas representam também um chamamento para a reflexão de toda a sociedade sobre novas trajetórias do nosso crescimento”, disse.
“Da mesma forma, cabe registrar que a diversificação produtiva fundada na inovação ocupará lugar de destaque, ou mesmo determinante, nas oportunidades atuais do desenvolvimento capixaba”, destacou Guilherme Pereira que, além de doutor em Ciências Econômicas e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, é o atual secretário de Estado de Economia e Planejamento.

Inovação requer ambiente propício
Segundo Pereira, os especialistas consideram a inovação como a introdução de novos produtos ou processos de produção no mercado. Pelo lado empresarial, o objetivo sempre será o de melhorar a competitividade da empresa ou facilitar a instalação de novas empresas voltadas para o atendimento de demandas cada vez mais sofisticadas da população, hoje, muito mais exigente em termos de qualidade e custo.
A seu ver, sob a ótica da população, a expectativa é a de melhoria da qualidade de vida. Gerar novos produtos requer, segundo Guilherme Pereira, um grande esforço de reflexão, de experimentação, enfim de incorporação de conhecimento às atividades produtivas. “Vejam, por exemplo, o caso do café. Já temos notícias de que o chamado café de qualidade alcança preços quatro ou mais vezes superiores ao do café plantado, tratado e colhido de forma tradicional. Aquele que pode incorporar novas tecnologias tem o benefício de aumentar o lucro e ampliar suas perspectivas de mercado”, aponta.
Neste cenário, a concepção de um novo produto se torna atividade crucial para o desenvolvimento. Seja ela originária do tecnologista com longos anos de formação em universidades ou de profissionais com grande capacidade de gerar novas ideias e empreender.
Para o economista, esses são os empreendedores que alavancam o desenvolvimento de uma região ou país. Em sua opinião, eles necessitam de um ambiente favorável para as suas atividades. “A construção desse ambiente é uma responsabilidade conjunta, segmento empresarial e formuladores das políticas governamentais que devem gerar facilidades para que se tenha infraestrutura de formação de pessoal, de laboratórios para ensaios e de financiamento adequado. Também é importante que as instituições públicas estimulem as iniciativas inovadoras e compartilhem o risco tecnológico”, ressalta.

Inovação, saída estratégica para os negócios
O diretor executivo do Instituto de Desenvolvimento Industrial do Espírito Santo (Ideies), Dória Porto, lembrou que estamos na ‘Era do Conhecimento’ e num um mercado global com alta concorrência. “Nesse ambiente, não há como as empresas se desenvolverem se não inovarem. É o único caminho e ainda pouco adotado no Brasil, embora sejamos um povo reconhecidamente criativo”, analisa Porto.
Inovação tem que ser entendida como estratégia. Caminho e característica ambiental da empresa, avalia Iomar Cunha dos Santos, da Gerência de Inovação do Sistema Federação das Indústrias do Espírito Santo – Findes. “A empresa que optar por esse caminho certamente obterá as melhores respostas em médio prazo e poderá estar sempre competitiva. Agora, a opção por não inovar também pode ser uma estratégia, e não necessariamente alija a empresa do mercado; apenas a limita a alguns nichos e, consequentemente, suas expansões e lucros”, pondera.

Mas, para a economia do Espírito Santo, no momento há caminhos que precisam ser seguidos para fortalecer a indústria capixaba. Isso porque, além das commodities, o perfil atual da indústria estadual é muito dependente de produtos de baixo valor agregado e conteúdo tecnológico.

Segundo o diretor executivo do Ideies, pode-se mudar esse perfil com a vinda de empresas que carregam maior conteúdo tecnológico como, por exemplo, a indústria automobilística, a prometida fábrica de fertilizantes e o desenvolvimento do setor de Tecnologia da Informação, além de empresas com produtos com maior valor agregado, como os da linha branca (geladeira, fogão, lavadoras etc.)

Tradicionalmente o arranjo produtivo (AP) que mais irradia inovação de fácil e rápida medição no Estado é o de tecnologias da informação e comunicação (as chamadas TIC). Caso o arranjo produtivo de metalmecânica consiga se inserir em larga escala, principalmente para fornecimento aos grandes projetos instalados no Espírito Santo – notadamente, na área de petróleo e gás -, certamente será o que mais irá gerar valor agregado. Na agroindústria, com o apoio do Incaper, o Espírito Santo já registra algumas ilhas de excelência.

“É notório que a nanotecnologia e a biotecnologia são apontadas como as principais apostas, como as novas fronteiras para a supremacia tecnológica no médio prazo (além de serem áreas transversais, isto é, influenciam positivamente o desenvolvimento de vários outros segmentos). No caso do ES e considerando nossas vocações e perfil, os setores de móveis, vestuário, rochas e alimentos precisam intensificar a inovação aberta (soluções envolvendo a participação do consumidor, fornecedor, academia e comunidade) principalmente para novos modelos de negócio e desenvolvimento de produtos”, sublinha Iomar Cunha dos Santos.

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