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terça-feira, 23 abril, 2024

Estresse: como driblar esse mal

Praticar exercícios físicos, manter uma alimentação saudável, viajar, sair com os amigos e familiares são algumas medidas para o tratamento da doença

Por Taís Hirschmann

Atire a primeira pedra quem nunca passou por uma situação de estresse! Embora em nível leve o estresse seja uma reação física e psíquica normal e saudável, no uso comum, a expressão refere-se a um conjunto de sintomas como ansiedade, inquietação, tensão nervosa, irritabilidade, dificuldade de concentração, entre outros.

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O estresse também traz consigo diversos outros sinais, como dor de cabeça, insônia ou sono excessivo, dores musculares, queda de cabelo, abatimento e fadiga. A psicóloga Lucia Regina de Castro Barros alerta que o problema pode ocasionar doenças psicossomáticas: alergias, gastrite, labirintite e distúrbios gastrointestinais.

A médica Christinne Guimarães Feres explica que o estresse acontece em situações adversas, diante de eventos aflitivos. Em princípio, pode funcionar como uma arma em defesa do corpo, estimulando reações de fuga, luta ou adaptação diante das adversidades. Entretanto, torna-se patológico quando persiste, transformando-se em um fator de risco para doenças físicas e mentais.

“O estresse pode ser considerado agudo, quando causado por um acontecimento traumático, perda de ente querido, estupro, perda de um emprego e outros, ou crônico, causado pelos problemas do dia a dia”, afirma Christinne.

Segundo o psiquiatra Milton Andrade Cots Filho, o tratamento do problema depende da intensidade dos sintomas e do quanto eles estão afetando a vida da pessoa, já que o estresse pode ser a porta de entrada para outros transtornos emocionais, como depressão, síndrome do pânico etc.

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“Uma forma de evitar o estresse é não represar as emoções e falar sobre as coisas do dia a dia com as pessoas à sua volta. O melhor descanso é aquele que concilia corpo e mente, e nem sempre dormir é sinônimo de descansar” – Lúcia Regina Barros, psicóloga

Para a psicóloga Lucia Regina, normalmente uma mudança de hábitos se faz necessária quando o objetivo é melhorar as condições do sono. “Praticar exercícios físicos, manter uma alimentação saudável, viajar, sair com os amigos e familiares, pensar antes de agir nas situações mais complicadas e buscar soluções amigáveis para os conflitos são bons exemplos”, frisou.

Em casos mais graves, um especialista poderá prescrever medicações específicas. A psicoterapia é uma forma de tratamento para o estresse, pois o profissional capacitado e não envolvido no conflito poderá ajudar a enxergar possíveis soluções e diminuir o nível do problema. Existem também as chamadas terapias alternativas, que incluem meditação, ioga e florais de Bach entre outras.

Como prevenir a doença?

Para Cots Filho, o estresse não pode ser prevenido, já que, em certo nível, é condição natural do ser humano. Pode, entretanto, ser minimizado ou controlado com alterações da rotina de vida, menor pressão de tempo, atividades físicas e lazer.

Já Lucia Regina defende que a prevenção parte de uma consciência de que o ser humano não é um ser “super”, que seu corpo e mente têm limitações. “Não adianta tentar colocar um bloco de algumas toneladas em cima de uma mesa de madeira, pois ela vai quebrar. Devemos buscar, dentro do possível, fazer o que nos traz prazer, diversificando sempre nossas atividades”, recomenda.

Uma pessoa que sente prazer em trabalhar e se concentra só nisso poderá adoecer se não diversificar suas atividades, administrando o tempo para a prática de exercícios físicos e para momentos com os amigos, com a família e consigo mesma. “Uma forma de evitar o estresse é não represar as emoções e falar sobre as coisas do dia a dia com as pessoas à sua volta. O melhor descanso é aquele que concilia corpo e mente, e nem sempre dormir é sinônimo de descansar”, alerta a psicóloga.

Estresse x diabetes

O estresse tem influência em outras doenças, como a diabetes, por exemplo. O psiquiatra explica que praticamente qualquer patologia humana pode ser desencadeada ou agravada pelo problema. “Acredita-se que ele promova queda na imunidade do indivíduo”, diz Cots.

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“Basicamente o estresse atinge aquelas crianças que são exigidas dos pais como pequenos executivos, com uma série infindável de atividades (estudo de línguas, esporte, balé, etc)” – Milton Cots Filho, psiquiatra

No caso da diabetes, o estresse sozinho não é a causa, mas pode agravar o quadro. “Ele pode servir como gatilho para quem já tem um potencial de desenvolver a diabetes tipo 2, aquela em que o organismo é capaz de produzir insulina, mas tem dificuldade de processá-la”, alerta Lucia Regina. Isso ocorre por causa da liberação de cortisona e adrenalina, que atuam como hormônios de reação.

Já a médica Christinne Feres salienta que o estresse tanto pode desencadear doenças, como pode ser desencadeado por doenças preexistentes. Também é capaz de diminuir a resistência imunológica, e não é raro predispor o aparecimento de sintomas gastrointestinais e doenças cardiovasculares, dentre outras.

Nos indivíduos que têm predisposição à diabetes, quando há uma situação estressante contínua, ocorre de forma persistente a produção/liberação de cortisol e adrenalina (hormônios que aumentam os níveis de glicose no sangue), elevando o risco de desenvolvimento da doença.

Como o estresse pode afetar as crianças?

De várias formas. “Basicamente, o estresse atinge aquelas crianças exigidas dos pais como ‘pequenos executivos’, com uma série infindável de atividades (estudo de línguas, esporte, balé, etc.) que, em vez de torná-las mais ‘competitivas’ na vida, promovem, na verdade, um esgotamento físico e emocional da criança, muitas vezes com sérias consequências”, avalia o psiquiatra Milton Cots Filho.

Situações cotidianas que geram para

a criança um ambiente hostil podem promover estresse, em qualquer idade, inclusive em bebês. Problemas familiares, pais estressados que transferem para os filhos suas frustrações, excesso de atividades extraescolares, luto, fome, dentre outros, tiram a oportunidade de lazer (brincadeiras), característica dessa fase.

Para Christinne Feres, o estresse infantil demanda uma abordagem imediata, tão logo surjam os sintomas, para que se evitem consequências posteriores, que podem prejudicar o desenvolvimento social e psíquico até a fase adulta. “Os pais devem estar atentos para, sempre que possível, eliminar os fatores estressantes da vida dos filhos, buscando ajuda profissional, quando necessário”, recomenda a médica.

O estresse pode afetar qualquer pessoa, em qualquer idade. A criança também pode ficar estressada ao discutir com um coleguinha na escola, ou levar uma bronca da professora ou dos pais. Pais estressados costumam transferir suas cobranças para os filhos e acabam formando uma cadeia competitiva que pode gerar estresse em seus filhos.

“Para evitar o estresse infantil, é preciso lembrar que a criança precisa ter tempo para estudar, descansar, mas também brincar, passear, praticar atividades físicas e, principalmente, desfrutar da presença dos pais em momentos de lazer. Tais momentos farão bem a ambos”, lembra a psicóloga Lucia Regina.

Estresse x coração

O psiquiatra Milton Cots Filho alerta para o fato de que o estresse ameaça liberar hormônios prejudiciais ao coração, assim como pode promover uma série de alterações negativas na área cardiológica, como hipertensão arterial e contrição dos vasos.

De acordo com a médica Christinne Feres, atualmente é defendida a tese de que o estresse é um importante fator de risco para o aumento da pressão arterial, doenças cardiovasculares e infarto do miocárdio. Na liberação de adrenalina, produzida normalmente no organismo, há aumento da frequência cardíaca, vasoconstricção (periférica) e elevação da pressão arterial, mas sua produção é potencializada em estados contínuos do problema, oferecendo riscos à saúde cardiovascular.

A doença do século

O estresse tem sido identificado como a doença do século. Com a complexidade cada vez maior da vida moderna, as mais variadas situações, ou um conjunto delas, podem desencadear o problema: emprego novo ou desejar muito ser promovido, querer aprovação social, não ter tempo para o lazer, perder muito tempo no trânsito devido a acidentes e engarrafamentos, preocupação excessiva com contas para pagar, ganhar pouco e gastar muito, acumular dívidas, intensa competição no trabalho e na família, desgaste na relação familiar, perda de um emprego, doenças, medo de assalto, sequestro, estupro, acidente, catástrofe natural, entre muitas outras.

“Como essas situações são, muitas vezes, inevitáveis, o estresse generalizado pode ainda gerar raiva acumulada, favorecendo a falta de amor e de sensibilidade, o que compromete ainda mais a saúde”, alerta Christinne.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), entre os 80% de doenças que mais matam no Brasil e no mundo está o estresse, junto a outras mais prevalentes, como as coronarianas e cerebrovasculares. “Sua incidência na população geral é cada vez maior, e isso ocorre porque o ser humano não está preparado evolucionariamente para a grande quantidade de estímulos, informação, competitividade e exigências da rotina diária. Isso é mais uma razão para que façamos uma reflexão de como estamos levando nossa vida”, avalia o psiquiatra Milton Cots Filho.

Já a psicóloga Lucia Regina Barros defende que o estresse é uma das consequências mais gritantes do descaso das pessoas com a saúde e o bem-estar. “Ao lado da depressão, é sem dúvida uma das doenças do emocional humano que mais têm crescido nos últimos tempos.

O homem moderno adoece principalmente por negligenciar a sua própria vida”, alerta.
Por outro lado, não se pode negar que o estresse é muito útil ao homem, pois ele é uma resposta a um estímulo desfavorável.

“Devemos compreender que ele nos ajuda a evitar o perigo, porque quando estamos próximos de algo que representa ameaça, há em nosso organismo uma liberação de adrenalina, o coração dispara, a respiração fica mais curta os músculos se retesam, nos preparando para uma corrida, da mesma forma que acontecia quando nossos ancestrais fugiam de tigres-dentes-de-sabre”, avalia Lucia Regina.

Hoje, o que está acontecendo é que as pessoas têm todas essas reações por estímulos externos e ficam nessa situação ininterruptamente, ou seja, em constante estado de alerta e isso tem prejudicado sua saúde e bem-estar. Talvez seja um alerta para começar a mudar de vida e buscar o equilíbrio.

Esta matéria é uma republicação exibida na Revista SAMP – abril 2013, produzida pela jornalista Taís Hirschmann e atualizada em 2021. Fatos, comentários e opiniões contidos no texto se referem à época em que a matéria foi originalmente escrita.

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