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quinta-feira, 28 março, 2024

ESG: Entenda o conceito e sua relevância no mercado

Como empresas que aplicam o ESG têm melhor percepção no mercado de capitais e vantagens para obter crédito

Por Amanda Amaral

Redução da poluição ambiental, diversidade e equidade no ambiente de trabalho e transparência das gestões. Essas são pautas cada vez mais discutidas pela sociedade que, por meio das redes sociais, tem encontrado espaço para levantar debates que considera relevantes.

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Mas qual a reação do empresariado diante desse cenário? A ES Brasil entrevistou com exclusividade o diretor de Finanças, Estratégia & Riscos e Tecnologia da Informação da ArcelorMittal e presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES), Paulo Wanick.

Na entrevista, o executivo falou sobre o conceito de ESG, que na sigla em inglês significa Environmental, Social and Governance e, na tradução, Meio Ambiente, Social e Governança. Paulo Wanick acredita que não há mais muros que justifiquem a falta de transparência e ressaltou que os três pilares do conceito podem ser aplicados tanto pelo pipoqueiro da esquina quanto por uma grande indústria. Ele falou ainda sobre as vantagens da aplicação do ESG diante do mercado de capitais.

Quando o conceito se consolidou no Brasil e passou de fato a ser aplicado pelas empresas?

Esse conceito não é novo. Ele vem de longa data, princi­palmente quando, lá atrás, próximo à Eco 92, começou-se a falar do Triple Bottom Line, que é um modelo de gestão que se baseava em três pilares: o econômico, o social e o ambiental. Desse tripé de ­importâncias para as organizações, inclui-se aí o governamental. O ESG na verdade é um conceito ampliado de gestão, que também abrange o conceito de sustentabilidade econômica, que é associado ao meio ambiente e ao social.

Então é um conceito antigo, que vem se consolidando, se aprimorando e se desenvolvendo nas organizações globais e na sociedade. Com essas três letras, a importância do conceito ficou mais latente, com o advento também de um movimento da própria sociedade, que deseja um mundo mais sustentável. Ele não surgiu do nada. Além disso, existem alguns biólogos que ampliam esse conceito, com base no antigo Triple Bottom Line, que trazia mais outros três temas, que são: o cultural, o ­institucional ou político – ou seja, as relações institucionais entre os agentes – e, finalmente, o espiritual – aquilo que tinha a ver com os valores da religiosidade das pessoas, associado também aos seus desejos mais íntimos de felicidade. Mas isso tudo está ­associado no ESG, que hoje é o mais consolidado ao longo dos anos.

Dentre os pilares do ESG, qual se configura como o principal desafio para as empresas?

Se você pegar uma indústria, em que são realizadas transformações, por exemplo, isso gera resíduos, gera sobra, gera excessos. Então, o fator ambiental para uma indústria é muito relevante. Não que o social não seja importante, haja vista a necessidade de estabelecer suas bases em um local eventualmente populoso e também de manter sua mão de obra interna em níveis de dignidade.

A letra S representa ainda a questão da diversidade e inclusão, que exige uma política inclusiva, plural, democrática, republicana. A indústria tem ainda que ter toda uma estrutura para uma governança corporativa adequada, que se sustente basicamente quatro vertentes: a transparência; a equidade; a prestação de contas; e as boas práticas de gestão do negócio, a responsabilidade corporativa. Esses são os grandes desafios. Mas também é preciso entender de que tipo são essas empresas e qual sua abrangência.

Existem práticas que vão impactar mais para umas do que para outras conforme o tipo de empresa. É isso?

Exatamente. Se você pegar um e-commerce, ele não tem grandes desafios ambientais. Mas existe o apelo da gestão de governança e do social, pois de qualquer forma ele está inserido na sociedade. Todas as organizações precisam ter um apelo social muito forte e também uma necessidade de ­governança que independe de ser virtual ou startup.

É que algumas não têm tanta implicação com relação a um impacto ambiental mas, ainda assim, é claro que precisam se preocupar. Até porque, em níveis menores, elas têm a parte de cabeamento, computadores, gasto de energia. Porém, não é a mesma ­preocupação de uma indústria, que tem uma base de ativos muito maior e maior necessidade de aplicação de controles ambientais.

Como a pandemia da Covid-19 influenciou a pauta do ESG?

É inegável que a pandemia trouxe um olhar diferente para tudo o que a gente faz. Mas com relação ao social, ficou ainda mais evidente. As pessoas passaram a ter uma preocupação e atenção com relação à qualidade de vida anda maior. Todo mundo começou a pensar que talvez trabalhar em casa tivesse seus benefícios e, em certo grau também, além da prática de home office, as organizações de uma maneira geral tiveram uma preocupação muito grande com a saúde das pessoas.

Isso se tornou uma preocupação geral. As empresas passaram a ter protocolos de saúde ainda mais contundentes, mais robustos. E eu acho que grande parte deles não vai acabar: cuidados adicionais de higiene, cuidados adicionais para processos de vacinação e controles preventivos.

As pessoas começaram a perceber também que, em caso de se sentirem doentes, podem adotar procedimentos mais prudentes, usando máscara, mesmo sem obrigatoriedade, mas para o cuidado com o próximo. Claro que as empresas, principalmente as grandes empresas, tinham seus protocolos de saúde e segurança do trabalho. Mas a pandemia trouxe ainda mais exigências, trouxe protocolos adicionais. Muitos vão continuar.

ESG: Entenda o conceito e sua relevância no mercado
“Não dá para divulgar algo que não é colocado em prática. Não existem mais muros e cercas, a internet de uma maneira geral trouxe uma transparência direta, automática”

Essa forma de gestão é factível para as empresas brasileiras, considerando que 95% ou mais delas são de pequeno e médio porte?

O conceito em si é aplicável desde o pipoqueiro da esquina até as maiores organizações. Ele não tem nada proibitivo ou algo que não seja aplicável. Todas as entidades, com ou sem fins lucrativos, têm total aderência e aplicabilidade aos conceitos de ESG. É claro que cada uma delas vai conseguir aplicar aquilo que for de fato aplicável para elas. Uma padaria não vai conseguir empregar um SAP ou um ERP, um sistema integrado corporativo. Não existe essa necessidade e nem pujança de operação. A aplicação de certas práticas vai ao encontro do tamanho das operações e da complexidade do que elas produzem.

Como o ESG pode influenciar a percepção real do mercado sobre o valor de uma empresa?

O ESG é um conjunto de boas práticas, de bons projetos, de ações, ou seja, passa do campo da preocupação. São projetos que levam as empresas a ter uma melhor performance, a ter seus produtos com uma maior aceitação no mercado, a ter maior atratividade de mão de obra e uma licença para operar devidamente aceita e bem vista pela sociedade. Então é obvio que os resultados vão refletir isso. Ela vai ter uma percepção no mercado de capitais, no mercado de investimentos, maior. Consequentemente, vai se tornando cada vez mais valorizada.

Dentro das práticas de governança corporativa, uma delas é a questão da transparência. É ter práticas em que você oportuniza à sociedade entender e acompanhar sua gestão. Se você conduz práticas de gestão cada vez mais adequadas, o que acontece com o seu crédito? A empresa que possui boas práticas, que é transparente, que presta contas, quer suas informações financeiras publicadas, quer um conselho atuante, passar por fiscalização e auditorias.

Tudo isso passa pelo entendimento de uma empresa que tem um negócio saudável, viável. O ESG pode sim, e muito, influenciar a percepção de mercado, e não só isso; pode, de fato, influenciar o resultado das empresas. Consequentemente, com melhores resultados, maior é o acesso ao mercado de capitais e ao mercado de crédito, podendo obter aí juros menos onerosos.

O que uma empresa deve levar em consideração para criar uma política de governança clara e objetiva?

Essa pergunta parece simples, mas não é. Eu vou tentar responder da melhor forma possível. Existe uma expressão que se chama walk the talk, que é praticar o que você fala. Aquilo que você torna público tem que ser o que você tem como prática real. Há quem faça marketing, publicidade, mas não adota as políticas de fato, como o ESG pede.

Ou colocam uma luz em cima de uma questão que nem é tão relevante, só porque acham que aquilo é uma prática diferenciada. É preciso mostrar no dia a dia o que nós fazemos. Não dá para divulgar algo que não é colocado em prática. Não existem mais muros e cercas, a internet de uma maneira geral trouxe uma transparência direta, automática.
Faz bem as pessoas conhecerem o que você faz, mas também faz bem entender que se aquela determinada prática não está tão boa assim, você precisa se aprimorar. Ninguém nasce completo.

O mundo vai se desenvolvendo, tecnologias vão surgindo e soluções empresariais vão se modernizando. É uma melhoria continua. Essas melhorias têm a ver com dar transparência e a sociedade entender que você está no caminho certo, e com isso ir te dando liberdade de atuar cada vez mais. Quanto maiores forem as regras, melhor para aquele que faz certo.

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