O mal uso e o consequente empobrecimento do solo é um processo que historicamente faz com que os agricultores busquem novas e férteis terras
Por Luiz Fernando Schettino e José Geraldo Silva
Os solos são elementos fundamentais para a manutenção da vida e para inúmeras atividades socioeconômicas, especialmente: produção de alimentos; energias renováveis – os biocombustíveis; e conservação das águas em bacias hidrográficas. A sua utilização racional associada à preservação das florestas minimiza os efeitos da erosão, ajudando a manter a qualidade e quantidade de água disponível.
Além disso, solos bem cuidados sofrem menos erosão e, com isso, ajudam a conter o avanço da desertificação de muitas áreas em todo o País. Erosão e desertificação são sinônimos de redução da biodiversidade e de áreas produtivas, de diminuição da água e sua qualidade; e também pressionam preços dos alimentos, além de terem efeitos climáticos negativos.
A formação dos solos é uma resultante da ação de um processo de transformação das rochas ao longo do tempo, tecnicamente chamado de intemperismo, pela ação de processos físicos, químicos e biológicos, tais como: temperatura, umidade, chuvas, ventos e de microrganismos. Processo pelo qual, depois de milhares de anos, é possível que se forme um solo com boas características, dependendo do material de origem das rochas e do clima, tanto para a manutenção dos ecossistemas, como para permitir a maior biodiversidade possível; e, ou para os usos socioeconômicos que permitem.
Em função do processo lento como são formados os solos, uma vez impactados, demandam também longo tempo para se refazerem naturalmente, quando isto é possível de ocorrer. Sendo que, muitas vezes, torna-se quase impossível recuperá-los naturalmente, em casos de degradação extrema. E para recuperar, nesses casos, é necessário o uso de muitos insumos, tecnologias e mão de obra com custos muito elevados.
O mal uso e o consequente empobrecimento do solo é um processo que historicamente faz com que os agricultores busquem novas e férteis terras para suas atividades. E essa expansão da fronteira agropecuária, como é chamado esse movimento, é que tem levado a mais e mais desmatamentos e migração para a região amazônica e de cerrados, principalmente.
Repetindo no País, o que ocorreu no Espírito Santo nas décadas de 1950 a 1970, especialmente quando, em busca de novas terras, houve migração da região Centro-Sul para as regiões Norte e Noroeste do Estado, principalmente.
Erosão e desertificação são fenômenos correlacionados e que têm impactos significativos tanto nos aspectos ambientais, quanto socioeconômicos, exigindo investimentos elevados em insumos e tecnologias, pessoal qualificado, ações educativas e trabalhos de longo prazo para recuperar os solos e, consequentemente, as águas e a biodiversidade afetadas.
Desse modo, a gestão sustentável da terra é essencial para combater os processos de degradação dos recursos naturais, evitando a erosão, a desertificação e, com isso, possibilitar: a manutenção da cobertura florestal, conservação solos e a existência de água em quantidade e qualidade, para manter os ecossistemas funcionando, as atividades produtivas e a vida humana com saúde e qualidade de vida.
Luiz Fernando Schettino é Engenheiro Florestal, Mestre e Doutor em Ciência Florestal, Advogado, Escritor e ex-Secretário Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos.
José Geraldo Ferreira da Silva é Mestre e Doutor em Engenharia Agrícola, professor do Mestrado no Centro Universitário Vale do Cricaré e pesquisador voluntário no Incaper.