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domingo, 28 abril, 2024

Entenda os motivos de tantos pedidos de recuperação judicial

Mais de 590 empresas solicitaram recurso nos seis primeiros meses do ano.

Por Gustavo Costa

O ano de 2023 vai chegando ao fim e desde já o que chama a atenção de quem analisa a saúde financeira do mercado é o grande número de empresas que tiveram pedidos de recuperação judicial. Entre outras, empresas como Americanas, Oi, 123milhas, Grupo Petrópolis (cervejarias Itaipava, Crystal, Petra), Light, Maxmilhas, Starbucks, Subway, Eataly e ainda as livrarias Saraiva e Cultura foram algumas que terminaram nessa situação.

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Segundo dados de estudo recente do Indicador de Recuperação Judicial e Falências da Serasa Experian, referentes a junho de 2023, mais de 590 empresas solicitaram recurso nos seis primeiros meses do ano. Para se ter uma idéia, é um número 52% maior do que o registrado no mesmo período de 2022, quando 390 empresas pediram recuperação judicial.

Mas afinal, o que pode explicar tantas empresas que antes eram consolidadas a enfrentar situação de recuperação judicial? Faltou gestão? Ou é um fenômeno que deve se tornar cada vez mais comum nesse período de “reindustrialização” pós-pandemia?

O número elevado de pedidos de recuperação judicial precisa ser observado sob um olhar mais amplo, enfatiza a líder do comitê de Economia do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-ES) e doutora em Administração e Ciências Contábeis, Flávia Rapozo. “Vale ressaltar, primeiramente, que o fato tem chamado atenção em virtude do aumento da quantidade de pedidos por parte de empresas de grande porte. Enquanto a proporção de pequenas e médias empresas se mantinha na média, o mercado já tinha várias causas pontuadas que giravam em torno de dificuldades de fluxo de caixa, empreendedorismo por necessidade, elevada carga tributária, falta de conhecimento de gestão, dentre outros”, disse.

De acordo com Rapozo, quando essa proporção mudou, e as grandes empresas começaram a colapsar, gerou um alerta. E isso se deve a uma série de fatores. O primeiro deles, é sim a pandemia. “Ela trouxe diversos efeitos colaterais para a economia. Em muitos casos as empresas enfrentaram restrições de funcionamento e por não poderem abrir suas lojas físicas, viram no mercado online a chance de se manter viva no mercado. Ocorre que isso requer investimentos em tecnologia e processos. Assim, num momento em que as receitas caíram, mas muitos dos custos fixos se mantiveram, ter que investir em novas formas de negócios levou as empresas a tomarem mais crédito no mercado, alavancando o endividamento”.

Outra “vilã” apontada pela doutora é a taxa básica de juros (Selic), que saiu de 2,75% em março de 2021 para 13,75% no mesmo período de 2023. Dessa maneira, o custo da dívida das empresas ficou mais alto, e o crédito ficou mais restrito.

Rapozo explica que os fatores acima fizeram com que ocorresse um descasamento entre a geração de caixa e custo da dívida. “Frisa-se que a gestão de caixa é de vital importância para mercados em que as margens de lucro são menores, como é o caso de algumas empresas de varejo. Essas organizações, geralmente, aumentam seus lucros por meio de uma gestão eficiente de caixa, originado de um Resultado Financeiro Líquido positivo”, falou.

Tecnologia e fraudes também causam impacto

Em seguida, no ponto de vista da representante do Ibef-ES, existem as fraudes e conflitos de agenda; com as empresas sendo vítimas de comportamentos oportunistas de alguns gestores, que visando manutenção do emprego ou de receber seus bônus de curto prazo, usam artifícios para maquiar as demonstrações financeiras. “Levando assim pessoas a investir nas ações que se valorizam não por excelência da operação, mas por mera especulação de mercado. Note que Ações valorizadas sem o devido lastro não se sustentam no longo prazo. O caso emblemático da Americanas traz em seu bojo um contexto de fraudes já anunciadas, as quais estão sendo apuradas por parte das instituições cabíveis. O fato deixa mais uma vez exposta uma preocupação que surgiu por conta do distanciamento entre propriedade e controle, nos quais os sócios delegam a terceiros o poder de decidir sobre a condução dos seus negócios”, explicou ela.  

Por fim, o alto número de pedidos pode ser explicado pelo inevitável incremento tecnológico. Flavia Rapozo lembra que a massificação da inteligência artificial e a necessidade de inovar num mundo globalizado e de concorrências sem fronteiras, forçam todos a se reinventar. “E isso tem custo. A pandemia acelerou o uso da tecnologia implicando inclusive na forma como o trabalho é realizado, quando os arranjos flexíveis, em especial o home office tem sido escolhido por uma parcela da população, fazendo com que os gastos associados a selecionar, contratar, reter, e demitir, se tornem mais altos. A rotatividade (turnover) é um fator preocupante para as empresas brasileiras, porque os gastos com pessoal representam uma parcela importante das despesas operacionais das companhias, e os encargos sobre a folha de pagamento são altos”, finalizou. 

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