“Decisões dos agentes econômicos têm preço. Quando acertadas revertem-se em renda. Erradas, em pobreza”
Por Arilda Teixeira
O título deste artigo é parte da frase dita pelo personagem do livro Fogo Morto, de José Lins do Rego, referindo-se à decadência da propriedade de um Coronel latifundiário do sertão nordestino.
Traz a melancolia da lembrança do poder (autoritário) perdido ao longo do tempo; dos rastros de estagnação gerados pelo modelo de atividade econômica adotado – escravocrata; e da ideologia política praticada – autoritária.
A fala sugere a melancolia sentida diante um fracasso, reconhecido como resultado de escolhas feitas. Os padrões de economia e de política adotados, condenaram as regiões de latifúndios ao atraso econômico e social; e seus líderes à perda de poder político e econômico, por resistirem às mudanças que precisavam serem feitas para acompanhar rumos da economia e as demandas da sociedade.
Decisões dos agentes econômicos têm preço. Quando acertadas revertem-se em renda. Erradas, em pobreza. Assim, o processo de escolha dos líderes deve orientar-se por parâmetros técnicos que considerem os custos e benefícios das escolhas. Aderir aos parâmetros de decisão de grupos de interesses individuais, de viés ideológico, político ou econômico; bloqueia o crescimento e atrai desigualdade social.
Radicalismo nunca deve ser parâmetro para decisão. Seja de Estado, ou da sociedade. Ele separa, ao invés de agregar. Propaga incerteza que afugenta o animal Spirits dos investidores, ao invés de atraí-lo. Afasta a economia da rota do crescimento.
O poder econômico omitindo-se de enfrentar e combater a ingerência negativa do viés ideológico de grupos de pressão política, facilitará dominância dos interesses desses grupos, em detrimento aos da sociedade como um todo – é o que se vê no Brasil de hoje – sobram decisões políticas e econômicas anacrônicas.
As atitudes do Poder Executivo, influenciadas pelas opiniões de seu grupo de apoiadores, ideologicamente enviesados, são ameaças ao crescimento. Mesmo assim, seu Chefe age como se a economia brasileira se resumisse aos interesses dos apoiadores do Planalto Central.
Subestima a importância da integração da economia mundial através das cadeias produtivas; e da necessidade de o Brasil participar delas. Se as atitudes do Poder Executivo prejudicarem a inserção do Brasil na cadeia produtiva mundial, o País se tornará um pária nos mercados internacionais; e sua economia ficará “de fogo morto”.
Assim, guardadas as devidas proporções, é possível associar a melancolia do Coronel deparando-se com seu engenho “de fogo morto”, pobre, depois de impor suas verdades àqueles que lhes cercaram por anos. Ao apegar-se à sua opinião como inconteste, não enxergou alternativas. Faliu por negar-se a aceitar a diversidade de opções.
Como os atuais representantes dos poderes Executivo e Legislativo brasileiro. Pela direção que seguem, não demoraremos ouvir que a economia brasileira “tá de fogo morto”.
Há investidores interessados em investir – o influxo de Investimento Direto no País continua positivo; e capital privado nacional disponível para ser empregado no setor produtivo doméstico. Mas falta estabilidade que acorde o animals Spirits. O mercado brasileiro é uma incógnita para seus pares. Falta-lhe previsibilidade para que seus agentes econômicos se disponham a acender o Fogo.
Arilda Teixeira é economista e professora da Fucape Business School