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quarta-feira, 24 abril, 2024

E agora, a situação do Brasil vai melhorar?

Especialistas apontam que não basta mudar o comando do país. É preciso realizar as reformas estruturais e institucionais para reequilibrar as contas e retomar a confiança de investidores

*Por Luciene Araújo

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O cenário negativo colocado pelos analistas de economia a partir de 2013 e que começou a ser percebido com clareza pela população em 2015, diante da alta de indicadores como conta de energia, inflação, dólar e gasolina, fortaleceu o discurso em defesa do impeachment.

E quanto mais o brasileiro, e por sua vez o capixaba também, foi sentindo no bolso a crise econômica, o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República passou a ser defendido nas ruas como condição primordial para se cogitar qualquer possibilidade de restabelecer a estabilidade no cenário político e garantir a adoção de medidas necessárias à retomada da economia.

Dilma, que havia conquistado 59% de aprovação ao fim do primeiro mandato, o maior índice alcançado por um governo desde o início da redemocratização, atingiu 88% de rejeição, o que a colocou como a presidente mais impopular da História, desde quando essa medição passou a ser feita pelo Datafolha, em 1987. Uma posição que cabia a Fernando Collor, que obteve 68% de reprovação em setembro de 1992, pouco antes de ser afastado da Presidência da república.

E ela perdeu o mandato em 31 de agosto. Mas, qual foi o real impacto dessas mudanças políticas na economia do país? O quanto a seca e a paralisação da Samarco agravam o quadro de crise no Espírito Santo? O que tem pesado mais no bolso do capixaba?

Doutora em Economia, Arilda Teixeira, da Fucape, afirma que ainda é cedo para arriscar qualquer previsão. “A economia está em recessão, com inflação alta e o Estado brasileiro está diante de um desequilíbrio fiscal grave e de solução difícil. Do ponto de vista político, o parlamento não tem demonstrado preocupação com as questões de interesse do país – segue com as negociatas fisiológicas e inescrupulosas que só fazem aumentar o peso do Estado para a economia”, critica.

Na contramão das avaliações mais otimistas de que a economia brasileira já apresenta sinais de melhoras, Arilda defende que apenas o ritmo da desaceleração da atividade econômica diminuiu. “Ou seja, estamos caindo mais devagar. Podemos dizer que começaram os sinais de que é possível sair do buraco. Os indicadores da atividade econômica são melhores agora, no final do 1º semestre de 2016, do que eram no início de 2015. Mas a retomada do crescimento ainda é mais perspectiva do que evidência”.

E para ela, essa pequena melhora não tem ligação direta com o impeachment. “É uma tênue reação, reflexo da perda do fôlego da própria recessão, e não do aumento do fôlego do crescimento. O impeachment interessava à elite industrial, mas ele não será suficiente para gerar expectativas positivas, que levem ao aumento dos investimentos e toda a cadeia de negócios que esse processo geraria, caso não haja mudanças concretas nos rumos da política fiscal, no marco regulatório e na segurança jurídica do país”, disse.

Neste momento não há evidências suficientes que permitam esperar a retomada do crescimento para este ano ou em 2017. “Nenhuma medida concreta para retirar os obstáculos ao crescimento econômico foi adotada. Por enquanto, o que se ouve é só proselitismo”, explica a economista.

Outra crítica que a economista faz às articulações políticas na esfera federal se relaciona ao fato de o Congresso aprovar o decreto que agora permite ao presidente editar créditos suplementares sem autorização dos parlamentares, uma semana após “derrubarem” a presidente por esse mesmo motivo. “Uma demonstração de total desrespeito aos cidadãos/contribuintes. É um vexame”, enfatiza.  Arilda acredita que as reações contra Temer devem se agravar, na proporção que forem anunciadas medidas austeras acerca do quadro econômico, especialmente as reformas trabalhistas e tributárias.  “A menos que os três poderes da República deem uma demonstração de respeito ao cidadão/contribuinte e comecem as mudanças cortando os seus excessos de gastos, inadmissíveis para um país cujo salário mínimo é R$ 880,00 e a renda média do trabalhador assalariado do setor privado (maioria absoluta da população) não chega a R$ 2.000,00”, aponta.

Segundo ela, uma reforma que reduza o tamanho do Estado e o torne mais eficiente na prestação dos serviços públicos é “seguramente“ a melhor opção para o país. “Duvido que alguém não aprovasse essa medida. E também duvido que seria necessária qualquer outra para que a economia brasileira resgatasse a sua credibilidade, atraísse os investimentos, retomasse o crescimento econômico e a geração de empregos”, detalha.

O cientista político e professor da Universidade de Vila Velha, Vitor de Ângelo, também avalia que as reações contra Temer podem se agravar à proporção que sejam anunciadas medidas econômicas austeras. “Especialmente porque os partidos de oposição tendem a fazer oposição justamente mobilizando partes da sociedade insatisfeitas com medidas do novo governo em torno desses ajustes, dentro de uma perspectiva crítica a eles”, afirma.

Ele entende que a apatia que se abateu sobre a maioria do povo brasileiro após o impeachment não significa que as pessoas não saibam que a corrupção continua, nem que se sintam satisfeitas com os políticos hoje no poder. “Não sei dizer se de fato, se em algum momento, a população teve forças para lutar contra a corrupção. Contra o PT, certamente. Nesse sentido, a identificação da corrupção com o partido serviu de ânimo a várias manifestações. Saindo o PT, as mobilizações perderam força. Não significa que as pessoas não sabem que a corrupção continua, nem que estejam satisfeitas com os políticos que aí estão. Porém, já não se mobilizam. Isso nos diz muito sobre as lideranças dos grupos que organizaram as manifestações de 2015/2016, sobre a atuação da mídia no sentido de impor uma agenda para a crítica de seus leitores, entre outros fatores”, enfatiza.

E agora, a situação do Brasil vai melhorar?

Vitor faz uma crítica à postura de agentes políticos. “Os mesmos que, indignados com a corrupção do governo do PT, votaram pelo afastamento de Dilma Rousseff, também estão envolvidos em casos tão ou mais graves, ou mesmo em tentativas de limitar a investigação da Lava Jato. Isso diz muito sobre as motivações desses atores políticos”. E também discorda do comportamento do brasileiro nas mídias sociais. “Não há um amadurecimento político do país. Pelo contrário, penso que estamos cada vez mais trabalhando com boatos, estereótipos, imagens, pré-conceitos. As redes sociais têm ajudado muito nesse fortalecimento de posições políticas já assumidas de antemão, ao invés de auxiliar na ampliação do debate político”, alertou.

Mas o especialista também avalia que o cenário político começa a se definir e que há um apontamento de retomada do desenvolvimento da atividade econômica, mesmo com toda a suspensão em torno do PMDB e do governo instalado.

“Na verdade, a economia já vinha dando sinais de melhoras no final do governo Dilma. Afinal, chegamos tão ao fundo do poço que as medidas tomadas em 2015 pelo governo, apesar da resistência das oposições ao PT, surtiram os efeitos que vemos agora. Porém, Dilma não sobreviveu para capitalizar politicamente essa retomada que, diga-se, é um crescimento ainda dentro de um contexto negativo. Isso é, a crise é menos pior do que ontem. Porém, não deixou de ser uma crise”, detalha.

Ele destaca dois fatores internacionais que podem afetar de forma negativa o Brasil. “Do ponto de vista econômico, uma desaceleração ainda maior da economia chinesa; já do ponto de vista político, uma desconfiança em relação às instituições políticas brasileiras. Este segundo ponto é menos provável que o primeiro, hoje”, esclarece o cientista político.

Melhorias

O sociólogo Simon Schwartzman, presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), do Rio de Janeiro, afirma que as expectativas para geração de emprego e renda não são das melhores. “No momento, como sabemos, o desemprego é muito alto, e, mesmo que a economia volte a crescer, a expectativa é que os indicadores de emprego sejam os últimos a iniciar uma ascensão. A pobreza, sem dúvida, aumentou com a recessão econômica. Em médio prazo, a situação só deve melhorar efetivamente se o país conseguir criar uma economia mais aberta e mais competitiva, e melhorar a qualificação da população, aumentando assim a produtividade”, explica Schwartzman.

Em relação à Educação, Simon defende que o problema não está no montante investido, mas sim na qualidade ruim das políticas públicas, na ineficiência da gestão que produz graves erros de concepção e implementação. “O Brasil gasta mais de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) em Educação, muito acima da maioria dos países. Desde os anos 90, melhoramos muito no acesso, praticamente eliminamos o analfabetismo nas novas gerações, e o acesso à educação em todos os níveis é mais equitativo do que nunca. Tem havido algum progresso na educação inicial, até a 5ª série da educação básica, mas depois disso, estamos estagnados há muito tempo. A pós-graduação expandiu, o volume de pesquisas aumentou, mas a qualidade é muito desigual e as pesquisas não se traduzem em benefícios para o país e para a economia em termos de inovação, com algumas exceções. Agora, os recursos se tornaram escassos, o que não deixa de ser uma oportunidade para avaliar melhor o que fazer com a verba disponível. Não acredito que as dificuldades se devam à falta de prioridade, mas à falta de ideias claras e decisão política de tomar as medidas necessárias para vencer a inércia burocrática e os interesses corporativistas que resistem às inovações que precisam ser feitas”, defende o sociólogo.

Por fim, o sociólogo acredita que Temer irá promover a tão esperada redução do tamanho do Estado, mas levanta dúvida sobre a qualidade da ação. “A questão é o quanto: não me parece que a oposição vá conseguir desestabilizar o governo, e não acredito que os avanços em tornar o Estado mais eficiente e menos custoso vão ser tão significativos quanto deveriam”, afirma.

O mais recente levantamento do Termômetro de Crédito da GoOn, maior consultoria de Gestão de Riscos do Brasil, aponta que o otimismo do mercado de crédito melhorou após o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da Presidência da República. O índice bimestral, que capta a percepção de cerca de 200 empresas, no levantamento de setembro constatou otimismo para as novas concessões e em relação ao nível da inadimplência.

O percentual dos que responderam que a concessão de crédito vai melhorar, que havia passado de 16,9% em janeiro para 34,2% em julho, agora ficou em 41,3%. “Em um processo de retomada, a confiança é o que vem primeiro e, mesmo ainda não colhendo frutos expressivos, a confiança é o primeiro sinal positivo da retomada do crescimento desse mercado”, avalia Eduardo Tambellini, sócio-diretor da GoOn.

Segundo Tambellini, a inadimplência ainda é um desafio para os próximos períodos, tanto que 50% ainda indicam que os percentuais vão se manter nos patamares atuais. Em relação ao período anterior, aumentou 1,4% a perspectiva de queda. “Esse número está ligado ao movimento de compras de fim de ano, quando temos um aumento sazonal da inadimplência”, explica Tambellini.

O desemprego se mantém entre os itens que geram insegurança, com 41,1% dos entrevistados que ainda acreditam que irão ocorrer novos desligamentos. Mas o levantamento apontou que 72% do setor de crédito acreditam em melhora dos indicadores econômicos com o governo de Michel Temer e apenas 2% preveem piora de cenário. “Constatamos que um cenário de expectativas positivas vem se formando. Dessa forma, é importante que cada instituição reveja suas iniciativas de crédito e controle da inadimplência, para que o próximo ano seja de retomada, mas com resultados saudáveis para o mercado de crédito”, finaliza Tambellini.

E agora, a situação do Brasil vai melhorar?

Espírito Santo

Quanto à economia capixaba, a economista Arilda Teixeira destaca que a melhoria dos indicadores locais depende do ritmo da economia brasileira e do comércio internacional. Mas o cenário de crise visto em todo Brasil se torna ainda mais grave no Estado diante das perdas agrícolas provocadas pela seca e a interrupção das atividades da Samarco após o acidente na cidade de Mariana, em Minas Gerais. Estudo realizado pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) indica que houve retração da economia capixaba de -3,9%, no segundo trimestre de 2016, comparado ao primeiro trimestre.

No confronto contra o mesmo período do ano anterior, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 15% e, no acumulado ao longo do ano, comparado ao mesmo período em 2015, a queda foi de -14,6%.

Na comparação entre os segundos trimestres de 2016 e 2015, o recuo da economia se deu em consequência, principalmente, dos resultados negativos da Indústria Extrativa (-36,0%), do Comércio varejista (-14,8%), do setor de Serviços (-6,9%) e da Indústria de Transformação (-3,8%). Os resultados do Estado ficaram abaixo do país em todas as medidas de desempenho. A retração da economia do país, no segundo trimestre de 2016, comparando ao trimestre anterior, foi de -0,6%. No confronto do segundo trimestre com o mesmo período do ano

anterior, o Brasil teve queda de -3,8% do PIB. No acumulado ao longo de 2016, comparado ao mesmo período de 2015, o recuo da economia foi de -4,6%.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo é calculado anualmente pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com os resultados sendo divulgados com uma defasagem temporal de dois anos. A partir de 2009, visando reduzir essa defasagem, o IJSN passou a calcular o Indicador de PIB Trimestral, que reflete a situação econômica no curto prazo, antecedendo o cálculo do PIB anual.

Dados divulgados pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), no dia 06 de setembro, apontam que a cesta básica de Vitória aumentou 0,07%, em agosto de 2016, passando de R$ 436,24, em julho de 2016, para os atuais R$ 436,53, sendo a 9ª mais cara entre as capitais. O valor representou 53,92% do salário mínimo líquido. O trabalhador com rendimento de um salário mínimo precisou cumprir uma jornada de 109 horas e 8 minutos para comprar os itens da cesta.

Dentre os 13 produtos pesquisados, sete tiveram aumento: tomate (21,71%), banana (10,24%), arroz (6,50%), manteiga (3,78%), café (1,09%), farinha (0,53%) e pão (0,46%). As quedas foram registradas no preço da batata (-11,97%), óleo de soja (-7,12%), carne (-5,05%), leite (-3,79%), açúcar (-1,32%) e feijão (-0,89%). No Brasil, houve aumento no preço da cesta em 18 das 27 capitais brasileiras, de acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, sendo as maiores altas em Florianópolis (3,16%), Maceió (3,11%), Macapá (2,91%) e Curitiba (2,59%). As retrações foram registradas em nove capitais, com destaque para Goiânia (-3,15%) e Aracaju (-2,26%).

Comércio e Indústria

O presidente da Federação  do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES),  José Lino Sepulcri, avalia que o desaquecimento das vendas do comércio capixaba é reflexo de um comportamento cauteloso do consumidor frente ao cenário de crédito restrito, aumento da inflação e redução do emprego e da renda. “Isso é notório nos números que o setor vem apresentando: o comércio varejista do Estado, só neste ano, acumulou saldo negativo de -11,1% até julho, enquanto no Brasil a queda foi de -6,7% (segundo dados da Pesquisa Mensal do Comércio – PMC, do IBGE). A demanda do comércio continua baixa e as expectativas são pautadas nisso. Entretanto, já são um pouco melhores que em 2015”, aponta.

Ele destaca que a Pesquisa de Índice de Confiança do Empresário do Comércio – ICEC, divulgada pela Fecomércio-ES em setembro, aponta um crescimento de 8,8% em relação ao mês de agosto, atingindo 90 pontos. Desde setembro de 2015, o índice não atingia essa pontuação. “Nesse contexto, o índice de investimentos do empresário do comércio, que abrange o nível de estoques, a contratação de funcionários e os investimentos na empresa, cresceu 10% no mês de setembro, sinalizando que a disposição de investir já está um pouco melhor que no ano passado. Dessa forma, as perspectivas para 2017 são de retomada em investimentos e de empregos”, aposta Sepulcri.

O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcos Guerra, defende a produção de maior valor agregado como saída para potencializar os ganhos sociais e econômicos da indústria no Espírito Santo. “Quando o PT chegou ao comando do país, a indústria de transformação representava 19,2% do PIB nacional.  Ao final de 2015, essa participação era de 9,8%. A indústria de maior valor agregado perdeu participação no mercado internacional, e cresceu bastante a indústria de commodities”, explica.

Guerra acredita que a recuperação da economia vai demorar ainda alguns meses, mas, nos próximos anos, haverá crescimento do índice de participação da atividade industrial no PIB do Espírito Santo. “Mesmo sendo um Estado pequeno, somos celeiro de grandes indústrias e temos uma economia voltada para o mercado internacional. Além disso, nos últimos anos, temos recebido uma indústria de maior valor agregado, em segmentos como o de linha branca, automobilístico, motor elétrico e o naval”.

Guerra destaca, também, a importância do setor de mármore e granito. “O Espírito Santo tem tudo para continuar com uma significativa dianteira na participação desse importante mercado, frente à tendência de expansão nos Estados Unidos”, finaliza Guerra.

Afinal, vai melhorar? O caminho para uma resposta positiva, unanimidade entre analistas econômicos e empresários dos mais variados setores, foi destacado recentemente pela secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi, que até julho deste ano respondia pela Secretaria da Fazenda do Espírito Santo.

“Temos um grande desafio no Brasil, que é o de empreender reformas estruturais, capazes de reequilibrar as contas públicas e de fazer o Brasil voltar à trajetória de crescimento”.

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