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quinta-feira, 18 abril, 2024

Dietas da moda: não caia nessa armadilha

A promessa é encantadora, mas os resultados costumam ser decepcionantes

Passa ano e entra ano, as dietas da moda se mantêm em alta. Provavelmente você já ouviu falar de algumas delas, como a low carb, a paleolítica, a cetogênica, a que prega o jejum intermitente, a da sopa, a dos pontos, a do grupo sanguíneo… São tantas. 00Entretanto, será que é possível seguir um estilo de vida saudável aderindo a essas restrições? Nosso time de especialistas tem certeza da resposta: não!

A endocrinologista Keila Motta revela ser muito comum esta cena: um paciente entra no consultório e já vai pedindo o regime que viu em uma revista ou aquele que o colega de trabalho vem fazendo e apresentando resultados rápidos. “A grande preocupação com as dietas da moda é que as pessoas não ficam atentas aos riscos que aquele caminho pode conduzir na busca de uma resposta imediata para a resolução do problema com o peso”, ressaltou Keila.

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Muitas vezes, acrescenta, os pacientes chegam à consulta com informações incompletas, já propondo prescrições que eles próprios avaliam ser melhores para si, incluindo a solicitação de medicação para ajudar no processo de emagrecimento.

“Por exemplo, eles ouvem falar ou leem na internet que a dieta cetogênica emagrece. Por isso, já vão à consulta pedindo a prescrição dela.
Mas é importante lembrar que a cetogênica é apenas uma das estratégicas nutricionais e que um processo de emagrecimento não é tão simples. Precisamos fazer exames, traçar o perfil imunológico e definir toda uma avaliação de rotina e de atividade, para apontar, de maneira individualizada, qual a estratégia que responderá melhor às necessidades individuais”, orientou.

Para a médica, em uma sociedade imediatista como a nossa, que cobra resultados rápidos, muitas vezes a qualquer custo, o maior desafio é fazer com que o paciente compreenda que, do mesmo modo que uma pessoa não engorda de um dia para o outro, o processo de emagrecimento também não ocorrerá no tempo prometido por um regime em alta nas rodas de conversa.

“Precisamos tratar a questão de forma interdisciplinar. Com a orientação de vários profissionais aliados ao comprometimento e com a responsabilidade do paciente, pode-se traçar uma estratégia de execução, de ação, de mudança de hábito para chegar ao melhor resultado. Nesse contexto, uma orientação nutricional que caiu no conhecimento popular como ‘dieta da moda’ pode fazer sentido, porém jamais sem o acompanhamento dos profissionais da área da saúde”, explicou a endocrinologista.

Milagre?

A nutricionista do programa Melhor da Vida Flávia Rossi é outra profissional que convive com pacientes solicitando a dieta X ou Y em seu consultório. A promessa de emagrecimento rápido e de forma milagrosa é muito atraente e faz sucesso entre os interessados em perder peso. Porém, a outra via desse mito é que a maior parte desses modelos de alimentação é extremamente restritiva, desbalanceada e padronizada, podendo causar carências nutricionais significativas e um grande desequilíbrio orgânico.

Flávia reforça, assim como Keila, que há muitos pontos a ser considerados antes de se cogitar experimentar uma linha ou outra. “As dietas que viram da moda são feitas geralmente sem acompanhamento e são muito restritivas. Não levam em conta o estado de saúde, o hábito alimentar e o estilo de vida do indivíduo. Pior, não têm preocupação em promover educação nutricional e ignoram os históricos de alergias e intolerâncias, as preferências por determinados alimentos ou o índice glicêmico”, enumera.

Com tantos pontos negativos, chega a ser óbvio dizer que muitos que tentam executá-las não obtêm o resultado desejado. “Muitas vezes a pessoa segue um conceito restritivo, mas aquilo talvez não seja específico para ela, podendo provocar alguns efeitos colaterais que vão desde o ‘efeito sanfona’, pois não consegue acompanhar a manutenção do peso perdido, a problemas mais sérios, como deficiências nutricionais e até distúrbios alimentares”, adverte.

Para que a batalha pela perda de peso não vire frustação, a nutricionista destaca a importância da interdisciplinaridade no tratamento e da busca por profissionais realmente competentes nessa tarefa, “fatores decisivos para o sucesso”. “Temos que envolver todos nesse processo: família, médicos, profissionais de educação física, psiquiatra e psicólogo. Tudo depende do quadro da pessoa. Falando especificamente da minha área, é muito importante o acompanhamento da perda de peso, visando a planejar o programa alimentar, porque sempre são respeitados os aspectos de sua individualidade, como história clínica, familiar e social, exames laboratoriais, preferências, aversões e intolerâncias alimentares, doenças associadas, interações medicamentosas, nível de atividade física e questões psicológicas”, descreve.

Quando tudo começa na mente

Digamos que você fez um esforço enorme, pesquisou na internet, leu revistas, ouviu seu colega de trabalho ou um artista falando como aquela dieta trouxe mudanças de vida. Aquilo realmente levou sua motivação às alturas! Animado, você compra tudo o que precisa e começa a seguir à risca o passo a passo descrito. Que maravilha: o resultado desejado foi alcançado! Só que, pouquíssimo tempo depois, tudo vai por água abaixo. O peso que achou que havia eliminado da sua vida volta às vezes trazendo “coleguinhas”, e você acaba ficando mais gordo do que estava antes de todo esse sacrifício. Mas por que isso ocorre?

A psicóloga do programa Melhor da Vida Marden Mahmud joga luz sobre uma questão bem pertinente: o envolvimento emocional cultivado ao longo dos anos com os alimentos. Um chocolatinho para espantar a melancolia, um belo prato de macarronada no fim de um dia muito trabalhoso e estressante… Esse comportamento, associado à falta de atividade física, pode tornar-se muito mais sério do que pensamos, levando a cenários como o de obesidade e outras doenças.

“A maioria das dietas, por si, sem acompanhamento, não combate as razões pelas quais as pessoas estão insatisfeitas com o seu corpo, seja em situações em que é necessário perder apenas poucos quilos, seja em quadros mais evoluídos em que a obesidade já é uma realidade e precisa ser tratada. O fator é simples: as razões emocionais e psicológicas pelas quais as pessoas evoluíram para ter sobrepeso não foram tratadas”, assinala Marden.

Nesse aspecto, é essencial estabelecer um novo modo de se “pensar” a comida, para que os resultados sejam reais e duradouros. “Fórmulas de emagrecimento milagrosas não dão conta da vida de uma pessoa. Um processo terapêutico colaborará com os outros profissionais para melhorar a relação do indivíduo com suas emoções e com a comida. Muitas vezes as pessoas não percebem que estão descontando no seu hábito alimentar as questões que não vêm conseguindo resolver em outras áreas da vida. É preciso ter clareza e autoconhecimento para mudar os comportamentos que despertam esse quadro.”

Obesidade

Os efeitos nefastos das dietas da moda são mais terrivelmente sentidos nos pacientes obesos, já que a taxa de sobrepeso desse grupo alcança níveis patológicos. Os poucos quilos que eventualmente podem ser perdidos com esses modelos em voga de cardápio não dão conta de tudo que precisa ser observado.

Keila Motta ressalta que é preciso combater a obesidade com seriedade. “A doença [obesidade] é uma facilitadora para outras, porque a grande quantidade de gordura no corpo proporciona um processo inflamatório que é a porta de entrada para muitas outras patologias. Então, mais do que falar em ‘emagrecer’, é necessário falar em ‘qualidade de vida’. Não existe um obeso saudável”, conclui a endocrinologista.

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