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sexta-feira, 3 maio, 2024

Day trade: “vício” em lucrar que se torna prejuízo

Com mais tempo em casa, muitas pessoas têm tentado a sorte com operações financeiras que prometem altos ganhos com pouco dinheiro para iniciar

Você certamente já uviu falar sobre Day trade. Esta atividade trata-se de uma negociação utilizada em mercados financeiros, que tem por objetivo a obtenção de lucro com a oscilação de preço, ao longo do dia, de ativos financeiros.

Apesar de não se tratar de uma modalidade nova, o day trade tem ganhado mais destaque, recentemente, em virtude de uma avalanche de informações e promessas de ganho fácil, que chega à população de forma geral, via YouTube e outras ferramentas populares.

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De acordo com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mais de 300 mil pessoas fizeram ao menos uma operação desse tipo em 2020 – um crescimento de 50% na comparação com 2019. E este também tem sido um período em que as buscas por “day trade” dispararam no Google e a “profissão day trader” entrou em uma lista do LinkedIn como uma das grandes carreiras do futuro. Uma situação compreensível também se for levado em conta que as pessoas estão passando mais tempo em casa e disponíveis para aprender novas atividades.

Alerta

Mas, esse movimento do day trade atrai algumas pessoas, pois muita gente está ganhando dinheiro com essa atividade. Só que não são os day traders. Quem lucra mais é quem realiza os cursos, “ensinando” como ficar rico da noite para o dia. O assessor de investimentos, Pedro Secchin, da Golden Investimentos, explica que algumas corretoras podem operar com o valor até 25 vezes maior (do oferecido originalmente). “Na prática, é igual operar com dinheiro emprestado. Isso é chamado de alavancagem. O único jeito de ganhar dinheiro nesta modalidade de investimento é conseguindo prever o futuro, já que nem mesmo a experiência no setor ou estudos aprofundados podem ajudar”, resume.

Um estudo da FGV feito em 2019 – a partir de uma base de dados com 19.696 pessoas que fizeram day trade em operações com mini-índice entre 2013 e 2015 – concluiu que 92% dos traders pessoa física desistem de operar antes de um ano. Entre os 1.558 traders que permaneceram na ativa por mais de um ano, 91% tiveram prejuízo e 9% conseguiram algum lucro. Somente 0,06% – só 13 das 19,6 mil pessoas – teve um retorno acima de R$ 300 por dia. Em um mês com 22 dias úteis, isso daria um salário de R$ 6,6 mil. É isso que a carreira de trader pode render, mas para apenas seis pessoas a cada 10 mil que tentam a sorte.

“Em muitos casos, a pessoa entra neste processo, buscando uma independência financeira, mas acaba acumulando perdas repetidamente com um cenário completamente diferente. Algumas param quando se deparam com os prejuízos, já iniciais, enquanto outros insistem na tentativa de recuperar o valor perdido, mas acabam ‘se afundando’ ainda mais em dívidas. Por isso, muitos especialistas fazem uma analogia com o uso da cocaína, pois a proposta é sedutora e o desfecho, em grande parte dos casos, é um dos piores possíveis com perda de patrimônio e laços familiares, em muitos casos”, compara.

No caso da cocaína, o que vicia é a dopamina, que ajuda a driblar o sistema, que geralmente é ativado quando você faz algo bacana para a sua sobrevivência – como, exercícios ou se alimentar. Isso faz com que o organismo produza doses cavalares de dopamina sem que você tenha feito nada de útil para sua sobrevivência ou reprodução. “Com day trade é a mesma coisa. Ver uma parte da sua quantia render muito mais do que em outras operações, em poucas horas ou até minutos, é um dopaminérgico poderoso. Por isso, muita gente acaba se arriscando mais e fazendo qualquer aposta em busca desta sensação e dos lucros novamente”, comenta.

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