Cultura e história do lugar serão representados no mural da artista plástica, contemplada em edital da Prefeitura Municipal de Viana
Por Mariah Friedrich
A artista plástica Kotha Moreno foi contemplada em um edital da Prefeitura Municipal de Viana para pintar um grande mural que represente a ancestralidade e cultura do lugar onde a paulista escolheu para fixar residência e fazer de berçário para o desenvolvimento da sua arte.
O projeto selecionado foi elaborado pela artista após uma visita ao distrito de Araçatiba, um reduto da história capixaba com uma comunidade quilombola que já foi fazenda e refúgio para negros escravizados. Ela relata que ficou impressionada com a energia que sentiu ali e percebeu a força de uma identidade local pouco conhecida e valorizada.
O processo de elaboração da arte para Araçatiba começou com uma série de conversas com os moradores para entender sobre o dia a dia e a cultura daquela comunidade.
“Eu perguntei para eles o que sabiam sobre os ancestrais dele e na maioria dos casos era o mínimo do mínimo, acompanhado por um receio de se identificar com uma pessoa negra, de uma religião de matriz africana, e eu queria mostrar a riqueza que vi ali. Se pesquisar, ir atrás, ler, você descobre que, como artista, pode se aventurar em muitas histórias e colocar nos muros, fazendo com que o povo tenha orgulho dos seus ancestrais, da sua história e cultura. Então esse é o meu objetivo”, conclui Kotha Moreno.
O mural começará a ser pintado em janeiro de 2024 e vai retratar Mãe Petronilha, parteira e guardiã do congo nascida em 30 de abril de 1900. A matriarca que trouxe a vida muitas crianças do bairro, inclusive congueiros, também ensinou muitos companheiros a tocar os tambores e alimentou o povo com os cultivos que plantava.
Além dessa importante ancestral, a artista escolheu representar a capoeira e a Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, um patrimônio tombado remanescente da antiga Fazenda Araçatiba. A arte também vai estampar canecas e camisetas que serão presenteadas às crianças que fazem parte do grupo de capoeira da comunidade.
Com isso, ela espera também contribuir para quebrar barreiras e tornar a história do povo capixaba mais conhecida. “A minha intenção em todos os trabalhos é valorizar a identidade negra, para que as pessoas se sintam representadas. Uma criança que passa e se reconheça, veja sua família”, expressou a artista.
Sobre a artista
Kotha Moreno é artista plástica, nascida e criada na cidade de São Paulo, que se encantou pelo Espírito Santo após visitar o Estado pela primeira vez em 2020. No final daquele ano, recebeu um convite profissional para participar de um projeto pontual em Vila Velha, a sua porta de entrada. Um pouco mais tarde, recebeu um convite para participar de um projeto mural em Vitória, o que a fez estabelecer residência em Viana, onde encontrou “A Kasa do Sol”, apelido carinhoso que deu à residência onde mora até os dias atuais.
Em São Paulo, Kotha desenvolveu uma técnica de pintura em azulejos e telhas de cerâmica, transformando as peças de demolição em verdadeiras obras de arte. Frequentou aulas na Escola de Artes em São Paulo para o aprimoramento da sua técnica, porém, a maior parte de sua formação é autodidata.
Desde que se radicou no Espírito Santo, sua trajetória vem ganhando reconhecimento e notoriedade. Kotha interagiu com diversos artistas locais com quem pôde aprender muito sobre a arte em muros e, trocar experiências profissionais valiosas que intensificaram o seu processo de integração com a cultura e os costumes locais.
Falando sobre a cultura local, Kotha tem debruçado seus estudos sobre os traços históricos da vida do povo capixaba. Tais estudos lhe forneceram um rico e farto material que, pouco a pouco, tem conquistado relevância nas temáticas de suas obras.
Kotha atuou em trabalhos na Quadra de Escola de Samba da Unidos da Piedade, na Escadaria Ranulpho Gianordoli, no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo e, também na Escadaria do Rosário.
Aos poucos as histórias de Viana, Vila Velha, Araçatiba e Vitória, vêm sendo retratadas através das cores fortes e vibrantes da artista paulistana. A obra realizada aos pés do Convento da Penha, primeira de sua autoria no Estado, rendeu-lhe uma Moção de Aplausos concedida pela Câmara dos Vereadores de Vila Velha.
