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sexta-feira, 3 maio, 2024

Novo governo argentino pode impactar a economia capixaba?

Especialistas analisam como deve ser a relação comercial do Brasil com a Argentina com o novo presidente a partir de dezembro

Marco Antonio Antolini

Terceiro maior parceiro comercial do Brasil, a Argentina vai ter um novo governo a partir do dia 10 de dezembro. Eleito no domingo (19/11) pelo partido A Liberdade Avança, Javier Milei venceu o pleito com propostas consideradas radicais, como a dolarização da economia, privatização de estatais e o fechamento do Banco Central.  “Não vim guiar cordeiros, vim despertar leões”, afirmou após a vitória.

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Em meio às expectativas do futuro governo dos “hermanos”, inclusive com declarações acirradas entre Milei e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dúvidas e expectativas surgiram na relação que será estabelecida entre os dois países, e consequentemente, com reflexos no Espírito Santo, uma vez que os acordos comerciais entre Brasil e Argentina exercem influência no estado.  

Este ano, por exemplo, de janeiro a outubro, saindo dos portos do Espírito Santo, foram exportados 2,28 milhões de toneladas para a Argentina. Já a importação representou 283,25 mil toneladas.

Para a maioria dos especialistas ouvidos pela reportagem da ES Brasil, a questão política entre os presidentes, em princípio, não deve atrapalhar a relação comercial das duas nações. No entanto, de acordo com outros economistas, o Brasil e o Espírito Santo podem sim enfrentar problemas, porém será necessário esperar as medidas que serão adotadas por Javier Mieli para saber se haverá impactos positivos ou negativos.

Autonomia

O economista Vaner Corrêa Simões Júnior não acredita em mudanças significativas. “As relações comerciais, sobretudo as relações internacionais, sempre transcendem às questões pessoais e ideológicas. São trocas entre nações, entre os setores privados das nações, são trocas entre as forças produtivas de uma nação com a outra.   Eu penso que a Argentina é um grande parceiro comercial e eles precisam muito da gente. Na verdade, os dois países precisam um do outro”, avaliou.

Para o especialista, Javier Milei sabe que, na hora em que colocar a faixa presidencial, não poderá ter certos comportamentos adotadas durante o processo eleitoral. “A campanha é o momento político. A política existe para isso, ter liberdade máxima, mas depois as pessoas voltam à vida normal.”

Porém, Vaner Corrêa faz uma ressalva em relação à questão ideológica. “Um governo de direita e outro de esquerda, se deixar por conta das lideranças partidárias, o conflito tenda a se acirrar, mas eu acredito na questão institucional dos dois países, que têm longa data de relação. As diplomacias vão saber metabolizar esses conflitos”, afirmou.

O diretor-presidente do Instituto Jones do Santos Neves, Pablo Silva Lira, afirmou que será necessário observar, com o tempo, se as declarações do presidente eleito da Argentina vão ser implementadas em sua totalidade. Ele afirmou que elas podem sim impactar negativamente a economia do Espírito Santo e do Brasil.

“Ele falou sobre um possível distanciamento com o Brasil e com a China.  E o Espírito Santo como é um dos estados com maior grau de abertura da economia brasileira, está bem conectado com o comércio exterior. Se a Argentina der uma guinada de rumo nas suas relações comerciais, pode gerar um impacto, tanto para o Brasil quanto para o nosso estado”, afirmou.

Para ele, é necessário esperar. “Paciência para ver como vão se comportar a economia e as medidas que serão adotadas pelo novo presidente. A gente sabe que, historicamente, a Argentina depende muito do Brasil. Os dois países têm um trânsito no comércio exterior importante.  Se houver uma ruptura, a Argentina tende a sofrer um impacto forte na própria economia”, concluiu.

Pragmatismo

O economista Arlindo Villaschi acredita que do ponto de vista comercial a tendência é ter poucas mudanças entre os dois países, que não devem afetar o Espírito Santo. “Os empresários são muito pragmáticos nos seus negócios, portanto, do ponto de vista comercial não deve alterar muito não”.

Mas ele alerta que as divergências políticas podem limitar o crescimento dos dois países. “No mundo político haverá, sem dúvida nenhuma, conflitos naturais entre dois governos que têm posições ideológicas bastantes distintas.  Isso é lamentável, pois vamos perder oportunidades no sentido mais amplo, pois Brasil e Argentina jogando juntos, no cenário internacional, é muito melhor para os dois, para a América Latina, para o Mercosul.”

Ele criticou a posição de Javier Milei:  “Você vai ter um retrogrado da dimensão desse novo presidente argentino puxando para trás porque acredita nas forças de mercado como se elas fossem um altar dos deuses”, finalizou. 

Defesa

Já o economista Antônio Marcus Machado saiu em defesa do presidente eleito da Argentina e vê boas perspectivas para o Brasil e o Espírito Santo no governo de Javier Milei. “São quase 70 anos de Peronismo, mesma tratativa da questão econômica e social na Argentina, e isso nunca ajudou o Brasil em nada. Então, eu creio que uma nova visão de economia mais liberal, de busca de parceira com os Estados Unidos e outras nações, pode melhorar.”

E explicou: “O que não pode permanecer é como se encontra atualmente na Argentina, com uma inflação de 150%. Nesse nível de inflação, como é que eles vão comprar da gente? Como é que vai fazer negócio com a gente? É uma economia insustentável. Então vale a pena tentar uma coisa diferente”.

Para ele, a mudança é necessária. “Tenho certeza que caso dê certo essa política liberal da economia do país vizinho, vai ser bom para o Brasil, pois é melhor comercializar com o parceiro comercial que tem uma boa economia, um líder genuíno, diferente, inovador, do que que conviver com a mesmice”.

Antônio Marcus afirmou que nessa lógica, o Espírito Santo também poderá ser beneficiado, caso o novo governo da Argentina consiga debelar a crise econômica que o país enfrenta. “O nosso estado tem uma vocação de comércio exterior muito forte, muito grande, nós também dependemos do trigo da Argentina. Então para o Espírito Santo pode ser muito bom”, afirmou.

Base política

O cientista político Fernando Pignaton ressaltou que nenhum país consegue substituir as relações econômicas de maneira rápida e a tendência e não haver mudanças significativas na Argentina em relação ao Brasil. Ele analisou o panorâmico político após a eleição.

  “As mudanças na economia vão depender muito da base política que Javier Milei conseguir montar e não está fácil para ele montar essa base para ter estabilidade.  Ele não tem o apoio da maioria dos governadores. Vai ter dificuldade para montar a maioria dentro do Congresso, e para montar essa maioria, está tendo que recorrer ao Mauricio Macri (ex-presidente da Argentina) e o Macri tem ligação com os setores econômicos, que não vão aceitar uma substituição dos negócios pacificamente”, afirmou.

Espírito Santo – Argentina

Este ano, de acordo com informações do Instituto Jones do Santos Neves, de janeiro a outubro, saindo dos portos do Espírito Santo, foram exportados 2,28 milhões de toneladas para a Argentina e foram importadas do país vizinho 283,25 mil toneladas. Somente este comércio movimentou, no mesmo período, US$ 451,86 milhões exportados e US$ 877,69 milhões importados. 

Entre os principais produtos exportados para a Argentina em 2023 estão minérios de ferro (74,57%), produtos semimanufaturados de ferro e aço não ligado (9,50%), café em grãos (8,84%) e rochas ornamentais trabalhadas (1,67%). Já em relação à importação, destacaram-se veículos, partes e acessórios (79,70%), produtos da indústria de moagem (12%), laticínios (3,42%) e cereais – trigos e misturas de trigo com centeio (1,53%).

Balança Comercial Brasil – Argentina

Janeiro a outubro de 2023

Exportações – US$ 14.901,4 milhões

Importações – US$ 10.152,8 milhões

Superávit – US$ 4.748,6

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