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domingo, 28 abril, 2024

A luta das mulheres por direitos trabalhistas

Mês da Mulher: Elas são maioria na arquitetura e destaque na advocacia

Por Rafael Goulart

Em 1910, a alemã Clara Zetkin, propôs, durante uma conferência na Dinamarca, que criassem o Dia da Mulher. Na época, mulheres de todo o mundo industrializado começavam a se organizar para juntas pleitear direitos básicos e tratamento justo. Nos Estados Unidos, devido às péssimas condições de trabalho, com jornadas de 14h e salários menores que dos homens, várias cidades vivenciaram antes de 1910 manifestações femininas.

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Clara não chegou a propor uma data específica, porém, sete anos depois, um evento que mudaria para sempre a história da humanidade aconteceria na Rússia: a marcha das operárias por melhores condições de trabalho que acabou por incendiar todo o império do Czar Nicolau II até sua queda, no evento conhecido como A Revolução Russa.

A data passou a ser comemorada espontaneamente pelas trabalhadoras no dia 8 de março, dia em que as mulheres iniciaram a marcha que implodiria a monarquia russa. Porém, foi só na década de 70 é que a Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou o Dia Internacional da Mulher.

Apesar de muitas conquistas desde o início do século passado, as mulheres continuam a brigar por igualdade no trabalho já que ainda há muita diferença salarial e de ascensão devido ao gênero. Fato evidente por exemplo no mercado de arquitetura onde Elas são a maioria no geral, porém ainda com menor participação nos altos cargos e um salário em média R$1.700,00 menor que o dos homens.

“Apesar das mulheres serem numericamente maioria na profissão, isso não se reflete, necessariamente, em condições de equidade entre homens e mulheres, estas diferenças se acentuam ainda mais quando há o recorte racial”, explicou o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES), Heliomar Venâncio.

Na advocacia, a situação é a mesma, a maioria é de mulheres mas ainda encontram dificuldades em alcançar cargos de gerência. Segundo dados da OAB-ES (dados não atualizados), mais de 53% da advocacia é exercida por mulheres no Espírito Santo.

“Então em quantidade já somos mais, mas o mais importante na minha visão é a quantidade de advogadas que prosperam em todos os seus objetivos, que sejam líderes dos seus escritórios, sócias de grandes bancas, que tenham sucesso em todos os seus sonhos através da advocacia. Analisando estes cortes, ainda estamos bem abaixo de onde os homens já chegaram. Mas vamos chegar.”, comentou a diretora da Associação Brasileira de Advogados (ABA) no Espírito Santo, Erica Neves.

De acordo com Sistema de Inteligência Geográfica do Conselho de Arquitetura, 73% dos profissionais de arquitetura são mulheres, porém ainda são minoria nos cargos de liderança. O 1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo revelou que 43% dos arquitetos homens foram promovidos enquanto apenas 38% das mulheres conseguiram promoção.

Ou seja, os homens são promovidos a cargos de gerência com maior frequência do que mulheres. Outro dado relevante é a diferença salarial entre arquitetas e arquitetos, que pode chegar à diferença de R$ 1.700 reais entre homens e mulheres. Além do fato de que mulheres enfrentam, de forma mais comum, situações de assédio no exercício da sua função.

Melhorar

Como os dados mostram, apesar da inclusão em profissões que um dia já foram de difícil ou impossível acesso para Elas, é fato, diante dos números, que muito precisa melhorar. As mulheres conseguiram empregos além do chão de fábrica, literalmente, mas parece ainda não recebem a mesma valorização que os homens.

“Alguns relatos de dificuldades ainda são muito comuns entre as arquitetas, por exemplo, a dificuldade de estar no canteiro de obras, onde outro profissional da construção civil ainda tem dificuldade de reconhecer a autoridade e competência técnica delas para gerir uma obra, lidar com cálculos estruturais, especificações técnicas, entre outros”, exemplificou o presidente do Conselho de Arquitetura, Heliomar Venâncio.

De acordo com ele, a maior concentração feminina na arquitetura está na área de projetos de arquitetura, em especial, arquitetura de interiores, fato que ele atribui ao senso comum de que a parte de execução da obra é uma atividade masculina.

“A evolução social como um todo influencia muito nisso, pois somos suscetíveis ao mercado e à sociedade, então se preconceitos caem na visão deles frente às advogadas, temos mais chances de prosperarmos”, comentou a diretora da ABA/ES, Erika Neves.

Entrevista

Confira a entrevista completa com o presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES), Heliomar Venâncio.

A luta das mulheres por direitos trabalhistas
Heliomar Venâncio, presidente do Conselho de Arquitetura. Foto – Acervo Pessoal

ES Brasil – Qual área tem maior participação feminina?

Heliomar Venâncio – A área de projetos de arquitetura, em especial, arquitetura de interiores.

A que você atribui essa maior participação?

No Espírito Santo o mercado de arquitetura de interiores é predominante, portanto, é o que absorve a maioria dos profissionais. Em 2023, 73%* dos profissionais de arquitetura são mulheres, então, naturalmente há essa predominância na atuação. Entretanto, este não é o único fator, há que se considerar questões de gênero, onde as arquitetas ainda são reconhecidas muito mais como profissionais responsáveis pelo design, do pela execução de uma obra, em virtude do senso comum que vê esta atividade como uma coisa masculina *Fonte: Sistema de Inteligência Geográfica do CAU (IGEO)

A participação e inclusão feminina já é satisfatória dentro da arquitetura?

Não. Apesar das mulheres serem numericamente maioria na profissão, isso não se reflete, necessariamente, em condições de equidade entre homens e mulheres, estas diferenças se acentuam ainda mais quando há o recorte racial.
De acordo com o 1º Diagnóstico de Gênero na Arquitetura e Urbanismo, realizado pela Comissão Temporária de Equidade de Gênero do CAU/BR, as mulheres são maioria dentro dos escritórios de arquitetura, mas a maioria das pessoas em posição de decisão, os superiores, são homens. Ou seja, os homens são promovidos a cargos de gerência com maior frequência do que mulheres (43% dos arquitetos foram promovidos, enquanto 38% das mulheres informaram promoção em posições de gerência).
Outro dado relevante é a diferença salarial entre arquitetas e arquitetos, que pode chegar à diferença de R$ 1.700 reais entre homens e mulheres. Além do fato de que mulheres enfrentam, de forma mais comum, situações de assédio no exercício da sua função.

O que precisa ser feito para melhorar?

Empresas devem respeitar a igualdade salarial entre pessoas ocupando as mesmas funções. Além de assegurar diretos básicos, como licença-maternidade.
As instituições públicas e de classe devem investir em campanhas de conscientização para a sociedade sobre o respeito à dignidade das profissionais, além de criarem instâncias de denúncias e suporte para as profissionais que passarem por situações de assédio, tanto moral quanto sexual.

Quais dificuldades as mulheres ainda encontram na arquitetura?

Alguns relatos de dificuldades ainda são muito comuns entre as arquitetas, por exemplo, a dificuldade de estar no canteiro de obras, onde outro profissional da construção civil ainda tem dificuldade de reconhecer a autoridade e competência técnica delas para gerir uma obra, lidar com cálculos estruturais, especificações técnicas, entre outros. Esta é uma área ainda muito masculina, onde segue forte o imaginário de que obra “é coisa de homem”.
Outra dificuldade relatada é o senso comum de que as profissionais se reduzem a decoradoras, que é uma profissão legitima e reconhecida, mas que representa uma parte pequena das atribuições das arquitetas.
Sem contar o que já foi citado anteriormente, como a diferença salarial, maior dificuldade para ocupar cargos gerenciais, a dificuldade de aceitação da autoridade em posições hierárquicas superiores, entre outros.

Entrevista

Confira a entrevista completa com a Erica Neves, que é diretora da Associação Brasileira de Advogados (ABA) no Espírito Santo.

A luta das mulheres por direitos trabalhistas
Erica Neves, diretora da Associação de

ES BRASIL – Qual área tem maior participação feminina?

Erica Neves – Este senso não é feito, então não temos como afirmar isso. Temos maravilhosas advogadas em todas as áreas, desde criminalistas a tributaristas, mas vejo que hoje ainda temos uma concentração muito grande na área do Direito das Famílias e Cível, e ultimamente em Previdenciário.

A que você atribui essa maior participação?

De forma geral e em todas as profissões, cada dia que passa, nós mulheres ignoramos quaisquer preconceitos sociais e morais e quaisquer limitantes que existem, conseguindo superar dificuldades que esta postura social nos trazia, para fazer o que queremos. Na advocacia é a mesma coisa. As lutas de todas que passaram nos trazem ambientes melhores e maior respeito e visibilidade. Então todo o ambiente social melhora mostrando que podemos atuar em todas as áreas e teremos prosperidade se tivermos competência, não sendo o gênero um empecilho.

A participação e inclusão feminina já é satisfatória dentro da advocacia?

Tudo é uma evolução e eu entendo que a quantidade maior em número não serve para mensurar ou avaliar se temos proporcionalmente melhores oportunidades de termos êxito, ou seja, quantidade não garante às mulheres mais êxito profissional. Toda a evolução da visão que o mercado tem das advogadas, das habilidades que vamos desenvolvendo, das qualificações cada dia mais acessíveis, elas trazem cada dia mais advogadas para o topo do êxito profissional. Então em quantidade já somos mais, mas o mais importante na minha visão é a quantidade de advogadas que prosperam em todos os seus objetivos, que sejam líderes dos seus escritórios, sócias de grandes bancas, que tenham sucesso em todos os seus sonhos através da advocacia. Analisando estes cortes, ainda estamos bem abaixo de onde os homens já chegaram. Mas vamos chegar.

O que precisa ser feito para melhorar?

A evolução social como um todo influencia muito nisso, pois somos suscetíveis ao mercado e à sociedade, então se preconceitos caem na visão deles frente às advogadas, temos mais chances de prosperarmos. Para contribuir com estas mudanças, temos a OAB que em primeiro lugar tem que ter uma atuação institucional constante para que no seu próprio sistema as mulheres conduzam qualquer espaço de poder para evoluir como lideranças, pois este fator essencial ainda é muito tímido e restrito ao que nos permitem aparecer e isso me incomoda muito, e ainda, manter o combate dos abusos e assédios de todos os tipos que ainda sofremos no exercício da nossa profissão. Seja nos escritórios ou no sistema judicial. Muitas mulheres até desistem de advogar ou mudam de área em razão disso, e infelizmente, a nossa instituição ainda é muito tímida no combate nas reações.

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