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sábado, 27 abril, 2024

A Demagogia em Declínio: Um Paradoxo da Era da Desinformação

Por José Antonio Bof Buffon

Quando foi a última vez que você ouviu ou termo “demagogia”? Houve tempos em que o uso desta palavra denotava ofensa gravíssima e causava estragos à reputação de certas pessoas, notadamente em políticos. Era recorrente atribuir o termo demagogia aos políticos que empunhavam bandeiras populares e faziam alusões a projetos inexequíveis e ofereciam, em campanha, resultados inalcançáveis.

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No vasto cenário da disseminação de informações distorcidas e manipuladas, a demagogia, paradoxalmente, parece ter caído em desuso. Anteriormente uma palavra que evocava imagens de líderes carismáticos que ofereciam ilusões e apelavam às emoções e preconceitos populares para obter apoio, o termo demagogia parece ter perdido sua relevância nos últimos anos. Esta aparente contradição revela-se como um fenômeno intrigante no contexto das fake news e da disseminação de desinformação.

A demagogia, em sua essência, refere-se à prática de líderes políticos explorarem as emoções e preconceitos da população para ganhar apoio popular, muitas vezes sem considerar princípios éticos ou verdades objetivas, sobretudo a promessa de projetos inviáveis e a busca de resultados inexequíveis. No entanto, em meio à era das fake news, onde a manipulação da informação se tornou uma arma poderosa, o termo demagogia parece ter sido ofuscado por uma variedade de expressões mais contemporâneas, como “pós-verdade” e “desinformação deliberada” – eufemismos para mentira, calúnia e difamação e promessas descabidas.

Uma explicação para o declínio do uso do termo demagogia pode residir na natureza evolutiva da linguagem e na necessidade de descrever fenômenos emergentes. À medida que a sociedade se adapta às novas formas de comunicação, termos mais específicos podem surgir para descrever nuances distintas da manipulação da informação. A demagogia, que uma vez encapsulou a ideia de líderes carismáticos e persuasivos, pode ter se tornado insuficiente para descrever as complexidades contemporâneas da desinformação.

No entanto, o desuso da palavra demagogia não implica uma ausência dessa prática. Pelo contrário, a manipulação emocional e a exploração de preconceitos ainda estão presentes, mas agora muitas vezes disfarçadas por narrativas mais elaboradas e métodos tecnologicamente avançados. A demagogia pode ter evoluído para formas mais sutis e sofisticadas, tornando-se menos identificável pelos termos tradicionais. O limite entre realidade e fantasia, entre verdade e mentira, se tornou impreciso.

A ascensão das fake news e a disseminação rápida de informações falsas nas redes sociais contribuíram para essa mudança no discurso. O foco agora está em desacreditar fontes confiáveis, distorcer fatos e criar narrativas convenientes, muitas vezes embaladas de forma a apelar às emoções do público. Nesse contexto, a demagogia tradicional pode parecer antiquada e inadequada para descrever as táticas modernas de manipulação.

Em última análise, a aparente contradição entre a ascensão das fake news e o desuso do termo demagogia revela uma transformação na paisagem da desinformação. À medida que a tecnologia e as estratégias de manipulação evoluem, a linguagem utilizada para descrever esses fenômenos também muda. No entanto, é imperativo que a sociedade continue a reconhecer e combater essas práticas, independentemente dos rótulos utilizados.

Em um mundo onde a verdade muitas vezes compete com narrativas convenientes, é crucial desenvolver uma alfabetização midiática robusta e promover o pensamento crítico. O desuso da palavra demagogia não diminui a importância de identificar e resistir à manipulação emocional, exploração de preconceitos e a ilusão por projetos e políticas inexequíveis. Ao abordar essas questões de maneira informada e vigilante, a sociedade pode aspirar a preservar a integridade do discurso público e fortalecer as bases da democracia.

José Antonio Bof Buffon é economista.

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