As diferentes gerações que viveram o ano de 2020 jamais imaginaram que poderia ocorrer uma pandemia com tão fortes impactos em suas vidas
Por Haroldo Corrêa Rocha
Todas as atividades humanas foram afetadas, mas a educação foi, talvez, a mais delas. As escolas tiveram suas atividades presenciais paralisadas em todo o Brasil, impactando cerca de 48 milhões de estudantes da educação básica. O impacto foi profundo, pois as crianças e jovens necessitam da escola presencial, tanto para o desenvolvimento de competências cognitivas, como de competências socioemocionais.
Na convivência presencial fora do núcleo familiar é que melhor se desenvolve a capacidade de relacionamento, a afetividade, a tolerância com os diferentes e a auto-regulação emocional.
A paralisação das atividades presenciais afetou os três principais grupos envolvidos na educação: estudantes, professores e pais/responsáveis. As aulas presenciais foram substituídas por aulas remotas. As escolas passaram a funcionar utilizando a mediação tecnológica. Este novo modelo de escola foi implementado em todo o país e em todos os ciclos educacionais, mas teve resultados diferenciados nos diferentes territórios e ciclos. Os estudantes da educação básica, cujas vidas estão sujeitas a alta vulnerabilidade, tiveram maior dificuldade de se conectar a acompanhar as atividades educativas. Assim, pode-se dizer que a pandemia aprofundou as desigualdades educacionais.
Há um contingente significativo de crianças e jovens, entre 20 e 50%, dependendo da região, que não dispõe de equipamentos e de conectividade. Os sistemas educacionais públicos já empreendiam esforços de conexão das escolas e a partir de agora precisam garantir equipamentos e conectividade para todos os estudantes, especialmente os mais pobres. Neste aspecto tivemos um avanço que foi o entendimento de que o acesso dos estudantes à internet será uma alavanca fundamental para ampliar os níveis de aprendizagem nos próximos anos.
Não foi fácil implementar a escola virtual, mas ficam importantes legados que terão forte impacto transformador na educação ao longo do século XXI.
Antes da pandemia, segundo pesquisa do Instituto Península, apenas 12% dos professores tinham vivido a experiência das aulas remotas e ao final de 2020 todos já operam a escola digital.
E, o mais importante, 94% dos professores acreditam que a tecnologia entrou na educação de forma irreversível, será um facilitador do trabalho docente e possibilitará a melhoria da aprendizagem dos estudantes.
Os estudantes, por sua vez, em sua grande maioria, já utilizavam o celular para entretenimento e comunicação pelas redes sociais. Com a pandemia, o celular passou a ser o dispositivo mais utilizado para participar das aulas remotas, seja pelos Centros de Mídias ou por aplicativos de videoconferência. Esta nova experiência desenvolvida pelos estudantes será de grande valia para potencializar a aprendizagem.
A pandemia criou as condições objetivas para que os pais vivenciassem mais de perto as dificuldades dos seus filhos no processo de aprendizagem, o que os levou a reconhecer mais o trabalho dos professores. Pesquisa do Data Folha indica que 51% dos responsáveis por alunos dizem participar mais da educação dos estudantes e 71% valorizam mais o professor. A visão dos pais sobre a escola se tornou muito mais positiva, o que daqui para a frente poderá reforçar a parceria entre escola e famílias.
O ano de 2020 foi um marco na história da educação e seus aprendizados permitem afirmar que a partir de agora a educação básica brasileira vai trilhar novos caminhos para garantir maiores níveis de aprendizagem a todas as crianças e jovens do nosso país. A luta continua, mas agora com novas alavancas a impulsionar a aprendizagem. Que venha 2021!
Haroldo Corrêa Rocha é Secretário Executivo de Educação do Estado de São Paulo e Ex-Secretário de Estado de Educação do Espírito Santo