A Ucrânia enfrenta problemas crônicos de corrupção desde muito antes da invasão
A um mês de completar um ano da invasão da Ucrânia pela Rússia, vários altos funcionários ucranianos foram exonerados nesta terça-feira, 24, incluindo um importante assessor do presidente Volodmir Zelenski e governadores de várias regiões ucranianas, acusados de corrupção no Exército. A medida marcou a maior mudança no governo de Zelenski desde o início da guerra, 11 meses atrás.
Membros de ministérios e pelo menos cinco governadores regionais foram demitidos ou deixaram seus cargos. O governo da Ucrânia, que anunciou as destituições no aplicativo de mensagens sociais Telegram, não forneceu detalhes sobre o motivo dos desligamentos, mas eles aconteceram após relatos de que os militares da Ucrânia concordaram em pagar preços inflacionados por alimentos destinados às tropas do país.
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Embora não haja provas de que as demissões se relacionam à apropriação indevida de assistência militar ocidental, as demissões parecem refletir o objetivo de Zelenski de tranquilizar os países aliados da Ucrânia – que estão enviando bilhões de dólares em ajuda militar – de que seu governo mostrará tolerância zero para a corrupção, enquanto se prepara para uma possível nova ofensiva de Moscou.
Desde o começo da guerra, as críticas por corrupção do governo tem sido abafadas pela necessidade de união contra os russos. A mudança vem justamente quando a Otan, a aliança militar do Ocidente, debate os prós e os contras de escalar sua ajuda militar a Kiev com o envio de tanques de guerra alemães para o conflito.
Houve duas baixas mais sérias por acusações de corrupção: o vice-ministro da Defesa, Viacheslav Chapovalov, foi acusado de inflacionar preços de comida para tropas, e o vice-ministro das Regiões, Vasil Lozinski, admitiu ter recebido US$ 400 mil (R$ 2,1 milhões) em suborno.
Caíram também o procurador-geral adjunto, Oleskii Simonenko, que tirou férias na Espanha com a família recentemente, e vice-ministros do Desenvolvimento, da Comunidade, da Economia e da Política Social, todos por má gestão e suspeitas de corrupção
Além de Kirilo Timoshenko, vice-chefe do gabinete presidencial, que supervisionava a política regional e trabalhou na campanha eleitoral de Zelenski, cinco governadores regionais e quatro vice-ministros perderam seus cargos. Eles incluem os governadores da região de Dnipropetrovsk, Valentin Reznichenko; da região de Zaporizhia, Oleksandr Starukh; da região de Sumi, Dmitro Zhivitski; da região de Kherson, Yaroslav Yanushevich; e da capital, Kiev, Oleksii Kuleba.
Mais cedo na terça-feira, o Ministério da Defesa da Ucrânia disse que Viacheslav Shapovalov, o vice-ministro de Defesa, “pediu para ser demitido” após as denúncias. O ministério disse em comunicado que liberar Shapovalov de suas funções “preservará a confiança” dos ucranianos e dos parceiros internacionais do país.
Timoshenko era bem conhecido nacional e internacionalmente, frequentemente encarregado de fornecer atualizações sobre a guerra. Mas os jornalistas ucranianos levantaram questões sobre seu estilo de vida luxuoso e o possível uso de recursos do governo.
Em particular, ele foi criticado por andar em uma SUV cara que a General Motors havia doado para uso em missões humanitárias.
A Ucrânia enfrenta problemas crônicos de corrupção desde muito antes da invasão. Mas, para muitos ucranianos, o sentimento de luta comum e unidade durante a guerra torna particularmente revoltante a ideia de que altos funcionários podem prejudicar o esforço coletivo do país para seu próprio benefício, especialmente se a corrupção envolver os militares.
No fim de semana, um jornal ucraniano noticiou que o Ministério da Defesa comprou alimentos a preços inflacionados, incluindo ovos a três vezes o seu custo. O ministro da Defesa, Oleksii Reznikov, chamou as alegações de “tolice absoluta” e produto de “informações distorcidas”.
Em sua declaração na terça-feira, o ministério enfatizou que as “acusações expressas são infundadas e sem fundamento”, mas chamou o pedido de demissão de Shapovalov de “um ato digno nas tradições da política europeia e democrática, uma demonstração de que os interesses da defesa são superiores a quaisquer cargos ou cadeiras.”
O fato de Shapovalov ter demorado três dias para deixar o cargo levanta sérias questões sobre o compromisso do Ministério da Defesa em erradicar a corrupção, disse Vitaliy Shabunin, diretor de operações do Centro de Ação Anticorrupção, uma organização não governamental com sede em Kiev.
“Um novo contrato social surgiu durante a guerra entre a sociedade civil, os jornalistas e o governo: não iremos criticá-lo como fazíamos antes da guerra, mas sua reação a qualquer escândalo e ineficácia deve ser o mais dura possível”, disse Shabunin. “A posição do ministro da Defesa quebrou este acordo.” (Com agências internacionais).
Com informações Agência Estado