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sábado, 27 abril, 2024

Teleconsultas: o futuro da medicina na palma da mão

A aceleração dos processos tecnológicos nos últimos anos trouxe para a saúde a proficiência chamada de telemedicina

Por Ana Paula Marques

Depois de 2020, ano em que se iniciou a pandemia de Covid-19, as rotinas humanas se modificaram.

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As escolas que ainda não haviam investido na educação à distância passaram a adotar o ensino através de telas. Muitas empresas adotaram o home office. E na área da saúde não poderia ter sido diferente.

Com o distanciamento obrigatório durante a pandemia de Covid, a telemedicina foi ganhando protagonismo e se instituindo como uma alternativa eficiente e objetiva para evitar filas e aglomerações, aumento das infecções, esforço e cansaço nos deslocamentos até o médico. Desde então, essa modalidade de atendimento vem crescendo exponencialmente nos serviços de saúde, assim como também evoluem as tecnologias disponíveis no mercado.

Embora o termo telemedicina esteja presente na área da saúde desde os anos 60, no Brasil, a teleconsulta, ou consulta médica não presencial, só foi regulamentada oficialmente para todos os cidadãos em dezembro de 2022. Mas, antes disso, em 2020, o Conselho Federal de Medicina e o Ministério da Saúde já haviam liberado as teleconsultas em regime de urgência, limitando a prática ao atendimento aos pacientes vitimados pela pandemia.

Segundo a pesquisa mais recente sobre o assunto, feita pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) sobre o período de 2019 a 2022, o serviço de teleconsultoria – contato entre profissionais da área para sanar dúvidas – aumentou de 26% para 34% entre enfermeiros e de 26% para 45% entre médicos.

Também na comparação entre 2019 e 2022, as teleconsultas com médicos especialistas passaram de 9% em 2019 para 23% em 2022 e o monitoramento remoto de pacientes feito por enfermeiros cresceu de 16% para 29% nesse mesmo período. Somente no ano de 2022, a teleconsulta foi utilizada por 33% dos médicos e 26% dos enfermeiros em todo o país.

Teleconsultas: o futuro da medicina na palma da mão
Geriatra Roni Mukamal defende que é preciso ainda melhorar as plataformas de telemedicina para integrá-la de vez ao sistema de saúde – Foto: Herlon Ribeiro

Mas ainda é uma proporção pequena, comparada à consulta convencional. Segundo Roni Chaim Mukamal, médico geriatra e escritor da Diretriz Brasileira de Telemedicina em Geriatria, a tendência é de crescimento do modelo remoto de atendimento.

“Com a pandemia, vimos o aumento da procura por esse tipo de atendimento, que ainda é relativamente novo. Mas isso continua em discussão e ainda se precisa criar um grande projeto de incorporação para integrar o sistema de saúde na totalidade, tanto público quanto privado”, defende.

O médico, que também é professor do Departamento de Clínica Médica e coordenador do Serviço de Geriatria e Paliativo do Hucam da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destaca que a tecnologia no sistema ambulatorial e hospitalar deve crescer muito, à medida que se incorporem ainda mais os avanços disponíveis na área.

“Vemos diariamente médicos conseguindo contatar um especialista de fora de sua localidade, para dar apoio a outro médico dentro do hospital. Isso é realmente acesso à tecnologia para a melhora da saúde em geral. Mas é preciso ainda melhorar as plataformas de telemedicina, é preciso se discutir rede, é preciso também se discutir remuneração. São três pontos que necessitam ser debatidos, para haver uma segurança e implementação adequada da telemedicina no contexto geral”, explica.

Esclarecendo conceitos

A telemedicina se refere a toda e qualquer prática médica realizada de forma remota (telelaudos, teleassistência, teleorientação e teleconsultas) e integra a telessaúde, que é o conceito mais amplo, e engloba os diferentes serviços remotos de atendimento, assistência, educação, diagnóstico e pesquisa em saúde. O governo brasileiro adotou a telessaúde como componente da Estratégia de Saúde Digital para o Brasil em 2019 e o sistema faz parte do SUS.

Assim, a telemedicina é o meio utilizado para oferecer um atendimento melhor a pacientes que necessitam de exames, laudos, diagnósticos e orientações à distância. Inclui práticas específicas relacionadas a demandas médicas, como os telelaudos, telediagnósticos e teleorientação. Faz parte da telemedicina, também, o intercâmbio de informações entre os especialistas, para a busca de segunda opinião qualificada. Muito além de consultas, a telessaúde permite viabilizar, por exemplo, o ensino a distância de profissionais da área e até mesmo a troca de informações entre especialistas durante uma cirurgia ou outro procedimento complexo.

Teleconsulta, modalidade recém-regulamentada da telemedicina, é o termo usado para se referir ao atendimento médico remoto, seja ele efetuado por ligação telefônica tradicional ou por meio de chamadas de vídeo via computadores e celulares. Qualquer que seja o meio escolhido, seu objetivo é tornar as consultas médicas mais acessíveis, eficientes e objetivas, além de propiciarem um maior conforto ao paciente, que não precisará ir a uma unidade de saúde para receber orientações ou diagnósticos, pedidos de exames, receitas de medicamentos e acompanhamentos médicos.

Como o atendimento remoto é feito cada vez mais utilizando-se a internet, a procura por teleconsultas aumenta também a partir do número crescente de pessoas conectadas. Segundo dados publicados em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 79,9% dos brasileiros possuem acesso à internet, fixa ou móvel. Ou seja, 166 milhões de brasileiros já estão online, aumentando a demanda e o alcance das consultas remotas.

Como funcionam

Teleconsultas: o futuro da medicina na palma da mão
Foto: Freepik

Os atendimentos pela saúde pública via telemedicina funcionam a partir de números liberados pelo governo de cada estado.

No Espírito Santo, por exemplo, foi regulamentado neste ano o atendimento na modalidade de “teleinterconsulta”, que atende serviços ambulatoriais, ou seja, somente casos não urgentes.

Mas o atendimento é feito primeiramente de forma presencial por um médico da atenção primária, que irá identificar se há necessidade ou não de que o paciente seja encaminhado a um especialista. Nesse caso, uma nova consulta será agendada.

O paciente voltará ao consultório do médico da atenção primária e a consulta será então realizada por chamada de vídeo com o médico especialista.

No estado capixaba, as receitas médicas também podem ser encaminhadas ao paciente pela internet. A receita médica eletrônica é enviada por mensagem no WhatsApp, e pode ser acessada por meio de um código QR. E, por meio de um sistema liberado pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) do Espírito Santo, o médico pode fazer solicitações de medicamentos.

Já para o atendimento privado, basta ligar para o seu médico ou para o número de sua rede médica de confiança, marcar uma consulta ou esperar o atendimento em chamada.

O morador de Vila Velha (ES), José Carlos dos Santos, de 33 anos, já se consultou por telefone duas vezes no setor privado. Como trabalha de segunda a sexta em horário comercial, não tinha muito tempo para ir ao médico.

“A consulta online me ajudou muito, pelo fato de ser em um horário alternativo, às 21h, dentro da minha disponibilidade.

Foi bem rápido e objetivo. E, além disso, não precisei me locomover para outro lugar, o que me deixou mais tranquilo”, disse.

José Carlos acredita que, em um centro médico convencional, com atendimento presencial, ele não conseguiria realizar a consulta e já sair com o resultado dos exames que precisava. “Sempre que possível, irei realizar consultas online, só não realizaria para consultar especialidades específicas, que precisam de contato humano”, esclarece.

Segundos dados da Secretaria de Saúde do Estado do Espírito Santo, um dos serviços mais procurados realizados remotamente em Vila Velha é o de neuropediatria, oferecido pelo Hospital Infantil e Maternidade Alzir Bernardino Alves (Himaba), que já atendeu 2.457 crianças online em 2022 e 2023.

As consultas são realizadas de segunda a sábado, segundo a Secretaria, com o paciente e o responsável em consultório, acompanhados por um profissional da enfermagem, e os médicos atendendo por meio de videoconferência.

A unidade conta com dois consultórios com equipamentos para esse fim.

Crescimento exponencial

Dados da Associação Brasileira de Empresas de Telemedicina e Saúde Digital (Saúde Digital Brasil – SDB), entidade que representa os principais operadores de telemedicina do Brasil, apontam que entre 2020 e 2021, mais de 7,5 milhões de consultas e atendimentos foram realizados, por mais de 52,2 mil médicos, via telemedicina no Brasil. Desse número, 87% foram consultas realizadas pela primeira vez remotamente. A pesquisa da SDB também traz o dado de satisfação do atendimento: 90% dos pacientes classificaram a consulta remota como ótima ou boa.

Mateus Raasch de 23, relata que a consulta com a rede privada realizada de forma online auxiliou muito na hora que mais precisava. “Eu estava passando muito mal e como estava sozinho, não tinha quem me acompanhasse.

Por meio da ligação pude ficar em casa, em repouso, e ainda assim recebi o atendimento médico. Sem contar que não precisei ficar aguardando muito tempo para ser atendido”, disse.

Mateus também diz estar satisfeito com a objetividade das teleconsultas e acha que é uma praticidade que pode tornar a vida de qualquer paciente mais fácil. “A consulta foi positiva, o médico me fez perguntas e me observou. Se fosse um caso de suspeitas maiores ou algo grave, ele disse que me direcionaria para um pronto-atendimento já com um diagnóstico fechado ou suspeito, mas como meu caso era simples, ele já passou um medicamento e me orientou sobre como tomá-lo”, explicou.

Laudos mais acessíveis, diagnósticos mais ágeis

Os avanços da telemedicina são ainda mais visíveis no campo dos procedimentos diagnósticos, como revelou o Painel Abramed – O DNA do Diagnóstico 2021, publicação anual elaborada pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed).

De acordo com dados do estudo, as empresas associadas à Abramed – que representam 56% do mercado de diagnóstico brasileiro na saúde suplementar – foram responsáveis por 532,84 milhões de exames entre julho de 2020 e junho de 2021. Desse total, 91,30 milhões (17,1%) foram acessados online.

Priscilla Franklim Martins, diretora-executiva da Abramed, destaca que as plataformas online para leitura e retirada de exames são facilitadoras no ciclo do cuidado do paciente e proporcionam, por exemplo, que usuários retirem seus resultados em regiões distantes de centros urbanos, reduzindo custos de locomoção.

A importância desse serviço se destaca ainda mais quando se considera que, no Painel Abramed 2019, foi constatado que entre 50% e 70% das condutas médicas são baseadas em exames de diagnóstico, evidenciando sua relevância como elemento no sistema de saúde, já que subsidia as decisões clínicas, fornecendo informações de prevenção, diagnóstico e tratamento.

Vantagens da telemedicina

A telemedicina facilita o acesso aos serviços de saúde, promovendo inclusão e mais eficiência. Confira algumas vantagens:

Acessibilidade
Pacientes têm acesso a serviços médicos de qualidade, independentemente da sua localização geográfica.

Comodidade
Consultas no conforto de casa, sem enfrentar trânsito ou salas de espera lotadas.

Economia
A praticidade da telemedicina também ajuda a economizar tempo e dinheiro dos pacientes.

Aumento das opções
É possível consultar-se com especialistas que, de outra forma, não estariam disponíveis em sua região.

Agilidade
Muitas vezes a telemedicina permite consultas rápidas sem perda da eficiência.

Continuidade do cuidado
A telemedicina também é uma ótima opção para acompanhamento médico de longo prazo.

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