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quinta-feira, 28 março, 2024

Será mesmo um novo normal?

Será que após esse período desafiador que estamos passando, as pessoas serão profundamente tocadas e mudarão de fato?

Neste período intenso de reclusão, muitas mudanças nos foram impostas para que pudéssemos sobreviver a esse mundo temeroso diante da pandemia do Covid-19. Muitos falam que quando passarmos pela fase mais crítica, nos depararemos com um “novo normal”: as pessoas serão diferentes, assim como as relações entre elas, com a natureza e o mundo no geral, serão alteradas. Mas será mesmo que isso acontecerá?

Será que após esse período desafiador que estamos passando, as pessoas serão profundamente tocadas e mudarão de fato? Ou será que passado algum tempo, quiçá pouquíssimo tempo, as pessoas voltarão à mesma forma que viviam antes ou até mesmo, com intensidades ainda maiores que os afastem da perspectiva positiva que hoje estamos idealizando?

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Penso que no ambiente empresarial algumas coisas de fato vieram para ficar: a relação com a tecnologia e os ambientes digitais, as videoconferências, que certamente provaram que podem gerar uma grande economia de tempo e de recurso, especialmente aquele relacionado às viagens de negócios. Os aspectos educacionais e a forma de se consumir conhecimento, provando que há alternativas para além da presencial que podem se complementar e que se mostraram eficazes. Atividades em home office, que para algumas empresas e para alguns tipos de profissionais, têm se mostrado extremamente eficazes, considerando um alto índice de produtividade e com grandes perspectivas de economias com espaços físicos nas empresas.

Será mesmo um novo normal?

Uma atenção especial à esse ponto, entretanto, quero introduzir: há de se olhar com atenção o benefício desse novo formato, considerando as condições da atividade de cada profissional, bem como condições particulares dele e o “preço que ele está pagando” para conseguir de fato ser produtivo. Para alguns, um benefício enorme, e uma grande satisfação! Para outros, um enorme sacrifício, e um preço que não sabemos ainda o resultado que poderá gerar!

Tenho acompanhado de perto executivos, profissionais dos mais diversos segmentos, relatando neste período uma exaustão extrema, uma intensidade ainda maior de trabalho e vários com bastante dificuldade de manter o equilíbrio emocional, em especial por não conseguirem separar as relações e os espaços pessoais, profissionais, por não conseguirem fazer uma autogestão, exigindo de si mesmo uma intensa produtividade e entrega no trabalho, o que tem impactado até mesmo o pouco tempo de qualidade que antes tinham com seus familiares.

Vejo também, em uma proporção menor, talvez pelo público que lido com maior frequência, profissionais fazendo muito bom uso do home office, conseguindo ter uma relação mais próxima com os filhos, sentindo-se mais produtivos por terem um ambiente que consideram mais confortável e com maior aproveitamento do tempo antes utilizado com deslocamentos, por exemplo. É… As pessoas são mesmo muito diferentes e singulares! Há de se ter um olhar muito particularizado para isso!

Tenho minhas dúvidas se de fato, após um tempo em convívio intenso em casa, se as relações afetivas serão mais preservadas e priorizadas. Nessa mesma ordem, tenho dúvidas se haverá uma consciência maior quanto à preservação da natureza, manutenção das belas ações solidárias e valorização das relações pessoais e profissionais.

Apesar de muito se falar sobre uma nova reflexão quanto a forma de se viver, percebo que se não cuidarmos poderemos perder uma grande oportunidade, talvez única, na nossa geração, de mudar de forma significativa a nossa relação com o mundo. Temo que isso não ocorra, mas ao mesmo tempo tenho esperança, que ao menos para algumas pessoas, elas possam perceber que não precisam ser vítimas e sim protagonistas da sua história e que portanto, podem impactar as pessoas que estão ao seu redor, a sua comunidade e por consequência, a sua colaboração por um mundo melhor.

Que tal então aproveitarmos o momento para fazer uma boa reflexão e nos comprometermos em fazer a nossa parte para construir um mundo onde as pessoas possam valorizar mais a espiritualidade, as suas relações afetivas, a sua relação com a natureza, com o consumo, buscando novas alternativas para sermos produtivos, gerando um grande impacto social e econômico que poderá contribuir para as próximas gerações?

Danielle Quintanilha Merhi é Sócia da UTZ Soluções para Empresas Familiares, é Psicanalista, Especialista em Psicologia Organizacional e Mestre em Administração. Atua com desenvolvimento de CEOs, executivos, herdeiros e dedica-se a assessorar empresas familiares em processos de sucessão, conflito e coesão familiar. Atua em todo País como Professora convidada da Fundação Dom Cabral (FDC), é Vice-Presidente do Conselho Deliberativo da ABRH Brasil. Autora do livro: “Família Empresária: vamos dialogar?”.

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