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sexta-feira, 26 abril, 2024

E agora? O que acontecerá após a saída de Moro?

Especialistas apontam o cenário que o Brasil enfrentará com a saída do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública

Por Aline Pagotto

O juiz Sérgio Moro anunciou sua saída do Ministério da Justiça e Segurança Pública nesta sexta-feira (24). Durante um pronunciamento, ele explicou o motivo de ter deixado o cargo, principalmente após tomar conhecimento da exoneração do ex-diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, considerado seu braço direito.

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Com a saída de Moro, o cenário político fica “embaralhado”. Em uma de suas falas, ele alega que o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) não deu explicações sobre a exoneração de Valeixo, e que não constava sua assinatura na publicação do Diário Oficial da União de hoje.

Cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, Rodrigo Prando, acredita que essa atitude pode gerar uma grave crise política. “A saída de Sérgio Moro coloca o governo em sua mais grave crise, especialmente por tudo o que o ex-ministro apontou em seu pronunciamento ao se desligar. Para muita gente, a falta da assinatura dele no Diário Oficial configura como crime e provavelmente vai transformar a vida do presidente em algo absolutamente complexo e muito difícil de continuar. Na verdade, nem sei se continuará”, diz ele.

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Sérgio Moro sai do governo após exoneração do ex-superintendente da Polícia Federal, Maurício Valeixo. – Foto: Reprodução

Alguns senadores oposicionistas, como Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PT-PE) disseram que o ex-juiz da Operação Lava Jato, na verdade, apresentou uma “delação premiada”, implicando o presidente em vários crimes. Para Prando, esta seria mais uma forma de enfraquecer o presidente Jair Bolsonaro e sua equipe.

“O próprio Moro jogou dois crimes no “colo” do presidente: um aparentemente simples, que é a falta da assinatura dele, e o outro que é a tentativa de interferência na PF. Os parlamentares têm razão nesse ponto. Agora, o presidente deverá explicar os motivos que o levaram a isso, pois é uma atitude gravíssima. Há quem diga que isso já pode acelerar os pedidos de impeachment que já está nas mãos do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia”, afirmou Prando.

Já o historiador, professor universitário e consultor em Comunicação e Marketing Político, Darlan Campos, destaca que, ao sair, Moro deixou vários desafios ao presidente. “Ele tinha a oportunidade de sair calado, mas preferiu sair deixando problemas e desafios a Jair Bolsonaro, principalmente quando ele deixou clara a intenção do presidente em retirar o ex-diretor da PF, como uma forma de querer saber dos processos. E é sabido que a família Bolsonaro tem uma série de “problemas” que estão sendo investigados e que podem, em algum momento, respingar nela”, ressalta.

Perspectivas

Rodrigo Prando observa, ainda, que com a saída de Sérgio Moro, outros ministros também podem ser demitidos ou demissionários. “Quando alguns ministros que possuem perfil político entendem o que está acontecendo, talvez não queiram permanecer no governo. Nesse sentido, cada vez mais enfraquece o presidente. Temos que olhar agora com muito cuidado para a figura do ministro da Economia, Paulo Guedes, que entrou no governo com um plano de ação na economia de caráter liberal e até por conta da pandemia do novo coronavírus foi obrigado a aceitar uma intervenção do Estado e, mais que isso, distante dele que é o ministro. Isso faz com que ele entre no radar como possível demitido ou demissionário”, avalia ele.

Já Darlan Campos aponta que as trocas ministeriais são comuns em qualquer governo, mas as trocas dos chamados “superministros”, como foi o caso de Luiz Henrique Mandetta e Sérgio Moro, veio em um momento inadequado.

“O problema é que essas trocas têm acontecido em momentos “chaves”. No meio da pandemia, houve a troca do ministro da Saúde, agora a do ministro da Justiça. São problemas trazidos dentro de um cenário de muita instabilidade, o que gera dentro do mercado financeiro, da economia em geral, uma série de produtos a mais para serem administrados.”, pontua o consultou em Marketing Político.

coronavírus
A crise do coronavírus enfraqueceu a economia brasileira. – Foto: EFE/Nathalia Aguilar

O economista Vaner Simões acredita que no plano da economia, que já estava desaquecida em face do espalhamento da crise, o mercado financeiro deu resposta quase que instantânea. “A subida do dólar em função da maior procura pela moeda estrangeira e fuga de capitais provocando queda da bolsa, que é uma situação normal em face da instabilidade política causada pelo pedido de demissão de um ícone como o ministro Moro. Tanto a subida do dólar e a queda da bolsa são comportamentos já esperados pelos agentes econômicos, ou seja, o vetor da instabilidade política sempre causa profunda mobilidade dos recursos”, afirma ele.

Candidatura

Para muitos, a entrada de Moro no ministério é uma prova de que ele está imerso na política. Para Darlan Campos, ele poderá se candidatar à presidência nas próximas eleições. “O ex-ministro tem mostrado desde a época da Lava-Jato o quanto ele entende a importância do jogo político. A vinda dele para o ministério coloca, de fato, nele a vestimenta de político. Com essa taxa de aprovação o coloca, com certeza, como um potencial candidato no campo da Direita na sucessão de Jair Bolsonaro em 2022. Nesse momento, ele vai negar todas essas informações de que será candidato, entretanto haverá uma pressão política de que se coloque na disputa. Isso pode ocorrer em curto, médio prazo”, afirma.

Já Rodrigo Prando frisa que a confiança que a população tem em Sérgio Moro é muito maior que a do presidente e, por isso, Bolsonaro e seus seguidores o consideravam um potencial adversário nas eleições presidenciais. “Com saída dele agora do governo, será disputado por vários partidos e, com certeza, será o jogador principal que pode mexer com o cenário político em 2022”, finaliza ele.

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