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quarta-feira, 1 maio, 2024

Saiba como aplicar a educação financeira na infância

Especialistas dão dicas sobre como introduzir de forma prática e lúdica a educação financeira na rotina das crianças

Por Amanda Amaral 

Qual o melhor momento para falar sobre economia e investimentos com as crianças? Especialistas ressaltam a necessidade de o assunto ser introduzido na rotina das famílias, alertam sobre o exemplo dentro de casa e explicam como a educação financeira pode transformar o futuro dos pequenos.

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A partir da alfabetização, que ocorre entre os 5 e 6 anos de idade, já é possível abordar a educação financeira com os filhos, segundo o membro do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças do Espírito Santo (Ibef-ES) University e sócio-proprietário da Wise UP Vitória, Ricardo Fadini.

Pensando em como abordar o tema com seus filhos, o empresário acabou criando o método Graninha Kids em parceria com seus amigos, em 2017. O objetivo é ensinar educação financeira e empreendedora para os pequenos de forma prática e lúdica.

“Não queríamos dar mesada só por dar. Por isso, a utilizamos como ferramenta para que a criança aprenda a administrar o dinheiro e crie uma consciência financeira, quando ela entrar na faculdade, isso será normal para ela. A tendência é que elas se tornem adultos financeiramente mais saudáveis”, explica Ricardo Fadini.

Divisão da mesada 

A mesada é dividida em quatro potinhos, de acordo com o Graninha Kids. O primeiro deles é chamado de Galinha dos Ovos de Ouro – no qual a criança guarda uma parte do que recebe como uma poupança. O segundo é o Caixinha de Natal, nele o dinheiro é depositado visando a uma aquisição futura.

“Criança tem ansiedade, mas você vai explicando sobre planejamento, e sobre quanto tempo vai demorar para que ela alcance seu objetivo. Também abordamos empreendedorismo, com a venda de brinquedos que estão parados para aumentar os recursos do potinho. Ou seja, a criança vai entender que ela precisa se planejar para conseguir o que quer”, comenta o empresário.

educação financeira
O empresário Ricardo Fadini criou metodologia para educação financeira a partir da experiência com os filhos. Foto: Arquivo pessoal

Já no pote Carteira da Diversão o dinheiro é de uso livre e com o potinho Doação, é necessário reservar recursos para ajudar o próximo. O primeiro módulo do livro e do curso é destinado aos adultos, que ao participarem do projeto ganham dois potes extras, o das necessidades básicas e o da capacitação.

“A gente criou uma linguagem para que os pais ensinem seus filhos dentro de casa, mas com qualidade de tempo, que tirem um momento da semana para falar disso. O exemplo é muito importante. Se os pais são ‘gastadores’, por exemplo, a tendência é gerar crenças negativas nos filhos. A ideia é ensinar aos pais como melhorar para que os filhos cresçam com uma mentalidade financeira diferente”, afirma Ricardo Fadini.

Em um país como o Brasil, a educação financeira na infância vale para todas as crianças? De acordo com o empresário o tema pode ser abordado por todas as famílias: “para a população carente é desafiador, mas que comece com R$ 1,00, pois na verdade a quantidade de grana pouco importa, mas sim o hábito, a criança entender. Tem gente que vai dar R$ 10,00 ao mês, outros R$ 10,00 por semana”. 

Diferentes realidades 

O integrante do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon-ES), Ricardo Paixão, explica que o país não possui tradição com o tema devido às suas características socioeconômicas. “A renda média do brasileiro é muito baixa, o recurso que as famílias têm são para se manterem vivas. Há ainda uma parcela da população que atua na informalidade. Na dinâmica dessas pessoas, o objetivo maior é o consumo de itens básicos”, explicou.

Ricardo Paixão é responsável pelo Projeto Corecon-ES nas Escolas, e ministra palestras para alunos do ensino médio. A iniciativa já esteve em instituições públicas e particulares de diversos municípios capixabas, seja no interior ou na Grande Vitória. “Há uma diversidade muito grande de alunos. De classe média, que recebem mesada, outros de um universo muito carente. Há os que já se tornaram menores aprendizes ou estagiários, recebem salário e não querem mais gastar com besteira, já falam comigo que querem investir para ajudar a mãe”, exemplifica.

educação financeira
O economista Ricardo Paixão fala de educação financeira com estudantes do ensino médio. Foto: Divulgação

No projeto, são abordados assuntos como: controle do orçamento; planejamento financeiro; consumo por impulso; como economizar; mercado financeiro, entre outros assuntos. “Pensando na importância do planejamento, mesmo para quem ganha pouco, decidimos criar o projeto para falar com os adolescentes, que atuam como vetores e levam as informações para suas famílias”, conclui. 

Ricardo Paixão destaca que uma das características da economia brasileira é se apoiar no consumo das famílias. “Se as famílias estão consumindo, há melhora na expectativa de investimentos por parte dos empresários, o que gera emprego e renda. Mas, se elas estão endividadas, não há essa alavanca. As dívidas são geradas nas compras por impulso, na falta de planejamento, e a educação financeira é uma ferramenta importante para coibir o endividamento desnecessário de uma parcela significativa da nossa sociedade”, analisou.

Novas gerações 

O Ibef-ES Social tem como foco levar educação financeira para comunidades carentes. De acordo com a diretora de Projetos Sociais do Ibef-ES e criadora do Método SprintMoney, a especialista em Finanças Sara Maiza, é muito importante falar de finanças na infância.

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A especialista Sara Maiza dá dicas sobre atividades lúdicas para a área de finanças. Foto: Divulgação

“Todas as nossas crenças, comportamentos, hoje são decorrentes de tudo que a gente viveu até próximo aos 14 anos. A forma como a criança dá significado ao dinheiro vai impactar na mentalidade e na relação dela com o dinheiro na fase adulta”, destaca. Sara Maiza lembra que jogos como o Banco Imobiliário, por exemplo, estimulam a criança a entender como o dinheiro se movimenta. “Para crianças quanto mais divertido e leve for, melhor, nós utilizamos jogos para alcançar as crianças, distribuímos porquinhos, que são na verdade cofres para eles pouparem dinheiro”, disse. Para a especialista, o fato de a educação financeira ainda não ter tanto destaque no âmbito familiar e escolar também é cultural. “É uma questão de gerações. Nossos avós não aprenderam sobre isso, e nosso pais também não. Agora, as escolas já estudam inserir educação financeira no programa justamente para incentivar o debate. As pessoas acreditam que finanças seja o mesmo que matemática, e não é. Por isso, mais de 70% da população está endividada. Primeiro, temos que conscientizar os adultos, acredito que estamos justamente nessa fase, para depois alcançar as crianças”, comenta.

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