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sexta-feira, 26 abril, 2024

Rochas: hora de buscar novos mercados

Rochas: hora de buscar novos mercados

Tomando distância do desequilíbrio econômico após a crise internacional de 2008, o setor de rochas ornamentais capixaba caminha a passos ainda mais largos rumo à recomposição e recolocação no mercado externo e interno, recuperando o crescimento de sua cadeia produtiva. De janeiro a abril deste ano, o Espírito Santo exportou US$ 198,3 milhões em rochas ornamentais, montante 73% superior ao de igual período do ano passado.

Os dados são do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas) e indicam ainda que, no primeiro quadrimestre, 71% das divisas geradas pelo país com a exportação de rochas tiveram origem nas operações do Espírito Santo. Os números são sinal de que as rochas ornamentais, aos poucos, resgatam o peso que tradicionalmente tiveram na economia capixaba.

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O crescimento também é realidade com relação às importações de rochas brutas e processadas. De janeiro a abril de 2010, elas representavam 5% do valor das exportações. Em 2011, no mesmo período, representaram 7,2%. De acordo com a superintendente do Centrorochas, Olívia Tirello, foram importadas 7.308 toneladas de rochas brutas, no valor total de US$ 4.049.244, ao preço médio de US$ 554,08 por tonelada.

“O aumento das importações de rochas brutas em relação ao mesmo período de 2010 foi de 34,32% em valor monetário e 18,6% em peso. Só de rochas processadas, foram importadas 24.740 toneladas, ao preço total de US$ 15.729.360 – média de US$ 635,53 por tonelada. O aumento das importações de rochas processadas em relação a 2010 foi de 49,93% em valor e 36,75% em peso”, comemora Olivia Tirello.

O setor de rochas representa 7% do PIB capixaba e tem uma função social muito importante, porque suas atividades estão presentes em todas as cidades do Estado, distribuindo renda, gerando empregos e desenvolvendo regiões como o norte e noroeste do Espírito Santo, justamente as de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Mas o setor tem importância muito significativa também para a região sul, onde está instalado o maior parque industrial de rochas ornamentais do Brasil e o maior polo brasileiro do segmento.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Rochas (Abirochas), estima-se que a produção brasileira de rochas ornamentais tenha evoluído de 7,6 milhões de toneladas em 2009 para 8,9 milhões de toneladas em 2010 (+17,1%). Desse total, também estimativamente, três milhões de toneladas foram destinadas ao atendimento do mercado externo e 5,9 milhões de toneladas ao mercado interno.

Os dados no ano passado foram animadores. Segundo o Centrorochas, no período de janeiro a dezembro de 2010 o total das exportações capixabas apresentou uma variação positiva de 39,41% em relação ao período de janeiro a dezembro de 2009. O valor capixaba exportado atingiu mais de US$ 683 milhões, equivalentes a 1,419 milhão de toneladas de rochas.

Desafios a vencer
Apesar do otimismo, o setor ainda enfrenta entraves, de acordo com especialistas da área. Entre eles, está a variação do câmbio, com a baixa do dólar, fato que sinaliza que a lucratividade das empresas exportadoras e não-exportadoras pode ser impactada negativamente. O setor exportador brasileiro de rochas fechou o mês de abril de 2011 com um valor de exportações de US$ 89 milhões, representando uma variação positiva de 8,54% se comparado ao valor exportado em abril de 2010. “Houve variação positiva nos preços médios de todos os produtos exportados em relação a igual período de 2010, mas, no cálculo geral, a variação foi negativa (de -2,71%). O volume exportado teve acréscimo de 11,56% em relação a abril de 2010, puxado pelas exportações de blocos”, enumera a superintendente do Centrorochas.

Nos últimos três anos, o setor de rochas atravessou duas crises que vêm alterando significativamente importantes aspectos gerenciais que, até então, não eram observados com a necessária atenção pela maioria das empresas. A crise do mercado imobiliário americano e a crise financeira internacional causaram grande retração no comércio internacional de rochas ornamentais e impulsionaram mudanças quanto à forma de organização das empresas exportadoras e importadoras em relação à produção, gestão administrativa, financeira e comercial. Reorganizar-se foi a saída, a fim de manter competitividade e até mesmo garantir a sobrevivência no mercado. Segundo o superintendente do Centro Tecnológico do Mármore e Granito (Cetemag), Herman Kruger Figueira, as empresas estão tendo que adequar essas variáveis a fim de garantir resultados positivos e sua manutenção no mercado.

Nesse ínterim, a variação cambial tem, na opinião de Herman, deixado instável a operacionalização das empresas. “Para uma exportadora, é muito mais confortável operar numa faixa em que US$ 1 chegou a valer em torno de R$ 3, e não a um R$ 1,60, como agora. Numa condição como aquela, de dólar alto, a empresa opera com uma margem de erro maior, mas, no entanto, com riscos menores”, ressalta.

No atual cenário, como sublinha, a realidade tem sido bem diferente: o dólar não tem excedido a casa dos R$ 2 e as margens e riscos para o empresário de rochas têm sido mais complexas de se administrar dentro de um cenário produtivo cujas variáveis são extremamente sensíveis e podem levar a prejuízos na casa de milhões, se não forem gerenciadas corretamente.

Destaca-se também como inibidora da competitividade brasileira a elevação dos custos com a logística, que onera despesas com serviços. Em função disso, há um coro que vem ecoando por todo o país, engrossado pelo empresariado do Espírito Santo – em especial, aquele ligado à área de mármore e granito -, de que é preciso uma atuação rápida e em parceria dos governos estaduais e federal, no sentido de atender às reais necessidades dos empresários que asseguram riquezas para o país.

Do ponto de vista do cenário capixaba, segundo a superintendente do Centrorochas-ES, essa atuação exige investimento, estadual e federal, em soluções imediatas para os gargalos do setor. “O crescimento das exportações depende de um porto bem estruturado, de estradas pavimentadas e em condições de tráfego de caminhões, de mais vagões nas ferrovias, de um aeroporto que atenda à demanda internacional, pois as estruturas existentes hoje são insuficientes para atender toda a demanda do produto extraído”, assegura.

Olívia Tirello sinaliza que hoje os empresários capixabas estão trabalhando de uma forma mais cuidadosa e de olho na economia americana. Mas a expectativa é de que, no fechamento de 2011, haja um crescimento nas exportações na ordem de 10%. Esse percentual poderá ser atingido, revela a superintendente, pois as empresas do setor estão em busca de novos mercados – um deles, que é o principal alvo atual, está no Oriente Médio, onde a expansão, com crescimento da construção civil, tem gerado grande demanda. “Mas grande parte da produção de rochas ainda tem tido como endereço a China, o que tem sido positivo”, pondera.

Substituição inesperada
E como o mercado de consumo se renova a cada ano, no setor de rochas ornamentais não tem sido diferente. Aliás, a renovação é crescente, fator que tem ajudado as empresas a redirecionarem seus produtos, inclusive para o mercado interno, garantindo a produtividade. Não obstante, segmentos concorrentes também têm aumentado seu market share, como é o caso da cerâmica, madeira sintética, madeira reflorestada, carpete, alumínio, vidro e rocha sintética, entre outros.

A constatação é do presidente da Cetemag, Herman Kruger. Ele destacou que esses concorrentes potencializaram agressivamente a colocação de seus produtos no mercado, principalmente na construção civil. “Eles têm intensificado a utilização de seus produtos e as suas campanhas de marketing junto a fornecedores, consumidores finais e canais de distribuição, mobilizando recursos e ferramentas. É preciso haver uma mobilização por parte das empresas capixabas, Governo do Estado e instituições do setor de rochas para que sejam efetivadas iniciativas similares, de modo a garantir espaço no mercado”, destaca Herman.

A presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas e de Material Elétrico do Estado do Espírito Santo (Sindifer), Jacqueline Simões, revela um dado preocupante, que demonstra como as rochas ornamentais vêm sendo substituídas. Ela participou recentemente de uma feira de design em Milão e constatou que “nos projetos arquitetônicos, o granito tem sido substituído cada vez mais pelo vidro e outros materiais, em diversos ambientes. Por isso, acredito que é preciso que o empresariado capixaba tenha uma visão mais futurística, ou seja, fique atento para o comércio na cadeia final do produto, para evitar perdas ainda maiores de mercado”.

Algumas ações importantes que envolvem aplicação de tecnologias e técnicas de administração e produção, têm sido desenvolvidas para o segmento de rochas pelas principais instituições do setor, com o objetivo de dar suporte e garantir a fatia de mercado das rochas do Espírito Santo.

Desde 2008, o Cetemag, com o apoio da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e do Sindicato das Indústrias de Rochas Ornamentais, Cal e Calcário do Espírito Santo (Sindirochas), está trabalhando em prol de resultados mais efetivos, buscando entender a dinâmica dos mercados de rochas nacional e internacional. É o caso, por exemplo, da sistemática produtiva empregada em países como Itália, Espanha e Portugal. “As empresas produtoras de rochas dessas regiões atuam em conjunto com seus governos, instituições e centros tecnológicos. Essa interação proporciona resultados positivos e mais precisos, gerando maior segurança em relação ao desenvolvimento de suas cadeias produtivas locais”, analisa o presidente do Cetemag.

Alguns modelos institucionais e empresariais observados são aplicáveis à realidade capixaba, e alguns projetos e parcerias estão sendo construídos ou já estão em execução por parte das instituições do setor. Tanto o Sindirochas quanto o Cetemag têm incentivado o avanço de projetos nesse sentido. E vários empresários do setor estão apoiando essas iniciativas, por entenderem que num cenário pós-crise, em que a regulamentação fiscal e ambiental tem se intensificado e o câmbio se mantido baixo, entre outras variáveis, será mais viável aumentar a competitividade basicamente agregando valor a seus produtos, investindo em tecnologias e na eficiência.

O reflexo chega ao maquinário
A fabricação de máquinas, equipamentos e insumos para o arranjo produtivo de rochas também é forte no Espírito Santo, que concentra cerca de 70% da produção nacional. A presidente do Sindifer, Jacqueline Simões, lembra que o setor de maquinário em geral no Brasil ainda se mantém complicado, ou seja, longe de sair totalmente da crise instalada em 2008. Ela acrescenta que, com o dólar baixo, os produtos importados ficam mais baratos, enquanto os custos dos produtos nacionais permanecem os mesmos, comprometendo a competitividade nacional.

A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), segundo ela, está fazendo algumas investidas junto ao Governo Federal no sentido de tomar medidas que venham a proteger a indústria nacional fabricante de máquinas.

“Somente com alguma proteção é que poderemos desenvolver novas tecnologias e nos mantermos competitivos. Um exemplo de tecnologia é o tear multifio, que acelera a produção e diminui os custos de beneficiamento da rocha, incrementando a competitividade. Mas, se não for criado um mecanismo para proteger as nossas indústrias, esse equipamento não será desenvolvido no Brasil”, salienta.

Produtos diferenciados expostos em feiras
Com uma variedade de cerca de 200 tipos de rochas ornamentais, com cores, tons, padrões e elementos dos mais variados, dentre eles os identificados como exóticos, o Espírito Santo atrai a atenção e o interesse de compradores de todo o mundo e responde por cerca de 65% das exportações de rochas brasileiras e mais de 84% das exportações nacionais de manufaturados de mármores e granitos (chapas e revestimentos), segundo informou o Sindirochas.

Tudo isso será mostrado durante a realização da Cachoeiro Stone Fair 2011, feira anual realizada desde 1989 pelo Sindirochas, Cetemag e Milanez & Milaneze e que acontecerá entre os dias 23 e 26 de agosto, no Parque de Exposições Carlos Caiado Barbosa, em Cachoeiro de Itapemirim. A feira movimenta o mercado do principal arranjo produtivo de Cachoeiro e isso traz reflexos para a economia como um todo.

Segundo a diretora da empresa Milanez & Milaneze, Cecília Milaneze, a feira já atraiu 200 expositores, entre os quais algumas empresas estreantes no evento, que apresentarão as novidades do mercado, com destaque para as pedras, os insumos e os maquinários de última geração. Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo são presenças confirmadas na Cachoeiro Stone Fair 2011. Dentre as estreantes, estão a portuguesa Airemármores, de mármores e calcários; a italiana Dellas, de insumos; a Brickekt Comércio de Ferragens e Bazar, de fixação de pedras; a Metalix Importação e Exportação e a SarziComex, que atuam na área de comércio exterior.

O aquecimento do mercado brasileiro foi o que atraiu o empresário Licínio Cordeiro, da Airemármores, para a edição 2011 da feira. “O Brasil está em franco crescimento e os empresários estão mostrando interesse nos nossos calcários e mármores. Acredito na expansão por conta dos jogos Olímpicos e da Copa do Mundo e já estamos exportando para o Brasil, para pequenos e grandes projetos”, disse.

A Cachoeiro Stone Fair apresenta-se como mais um esforço dos empresários do setor de rochas ornamentais, que desde o início, unidos em suas atividades, vêm se reinventando e superando problemas a cada estágio de seu desenvolvimento. Para o superintendente do Sindirochas, Romildo Tavares, a realidade é que são vários os gargalos do setor de rochas, desde a falta de regulamentação específica até a concorrência internacional, passando pelos impasses ambientais e a falta de mão de obra qualificada.

Mas ele destaca que o fato é que o empresariado do arranjo produtivo de rochas já provou que, quando quer, tem capacidade de se unir e resolver seus problemas. Foi assim durante a crise americana, que fez com que os empresários passassem a olhar mais para o mercado interno e também buscar mercados até então considerados menos interessantes, como o asiático, o leste-europeu e a própria América Latina. Os empresários capixabas acreditam que o setor pode crescer de maneira equilibrada. Para isso, é necessário compromisso do setor público e privado, cada qual fazendo a sua parte e colaborando para o desenvolvimento linear da atividade, garantindo a competitividade de uma maneira mais justa.

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