Dessa vez foi preso o ex-secretário nacional do PT Silvio Pereira e o empresário e dono do “Diário do Grande ABC” Ronan Maria Pinto.
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (1º) a 27ª fase da Operação Lava Jato, denominada de “Carbono 14”, que investiga crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro. A operação inclui dois mandados de prisão temporária – do ex-secretário nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) Silvio Pereira e do empresário e dono do “Diário do Grande ABC” Ronan Maria Pinto; e dois de condução coercitiva – do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e do jornalista e diretor editorial do site “Opera Mundi” Breno Altman, alem de oito mandados de busca e apreensão, totalizando 12 ordens judiciais
Delúbio Soares, que chegou à sede da PF por volta das 8h20 de hoje, já havia sido condenado a 6 anos e 8 meses de prisão, no caso Mensalão, mas desde setembro de 2015 recebeu o direito à prisão domiciliar e, em março deste ano, teve sua pena perdoada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
As medidas estão sendo cumpridas nos municípios paulistas de São Paulo, Carapicuíba, Osasco e Santo André, com diligências também na empresa de ônibus controlada por Ronan, a “Expresso Nova Santo André”, e na empresa DNP eventos, em Osasco. De acordo com o Ministério Público Federal, a operação investiga um suposto esquema de lavagem de capitais, com valor aproximado de R$ 6 milhões, provenientes de gestão fraudulenta no Banco Schahin, sendo esse rombo coberto posteriormente pela Petrobras.
A Procuradoria aponta o envolvimento de Bumlai, empresário amigo do ex-presidente Lula, no esquema. “Constatou-se que José Carlos Bumlai contraiu um empréstimo fraudulento junto ao Banco Schahin em outubro de 2004 no montante de R$ 12 milhões. O mútuo, na realidade, tinha por finalidade a ‘quitação’ de dívidas do Partido dos Trabalhadores (PT) e foi pago por intermédio da contratação fraudulenta da Schahin como operadora do navio sonda Vitória 10.000, pela Petrobras, em 2009, ao custo de US$ 1,6 bilhão”, informou a Procuradoria.
Em outubro do ano passado, o doleiro Alberto Youssef levantou a suspeita de que Breno Altman seja um dos envolvidos em uma operação para calar um chantagista que poderia fazer novas revelações sobre o caso Celso Daniel. E em janeiro deste ano, o lobista Fernando Antonio Guimarães Hourneaux de Moura afirmou que Silvio Pereira recebia R$ 50 mil “em dinheiro vivo” como “um cala boca”, para manter silêncio a respeito de irregularidades, de duas empreiteiras sob investigação, a OAS e a UTC Engenharia.
Também em depoimento à Lava Jato, Bumlai relatou que metade desse valor foi destinado ao PT de Santo André, onde o partido teria sido chantageado por Ronan Maria Pinto, empresário da cidade, que teria pedido R$ 6 milhões para não contar o que sabia sobre o caixa dois do diretório local e a relação desses recursos com o assassinato do então prefeito Celso Daniel (PT), ocorrida em 2002. O empresário afirmou ainda que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “decidiu indicar” seu nome para o cargo de diretor financeiro e de serviços de uma subsidiária da estatal petroleira, a BR Distribuidora, “como reconhecimento da ajuda do declarante [Cerveró]”, por ele “ter viabilizado a contratação da Schahin como operadora da sonda”. Ronan, além de dono do “Diário do Grande ABC”, é proprietário de empresas de ônibus e foi implicado no escândalo de desvio de recursos da Prefeitura de Santo André (SP) que veio à tona logo após o assassinato de Celso Daniel.
“Para fazer os recursos chegarem ao destinatário final, foi arquitetado um esquema de lavagem de capitais, envolvendo Ronan, pessoas ligadas ao Partido dos Trabalhadores e terceiros envolvidos na operacionalização da lavagem do dinheiro proveniente do crime contra o sistema financeiro nacional”, diz a nota do Ministério Público.
A Procuradoria aponta que há evidências de que o PT atuou junto ao Schahin pela liberação do empréstimo. “Em suma, há provas que apontam para o fato de que a operacionalização do esquema se deu, inicialmente, por intermédio da transferência dos valores de Bumlai para o Frigorifico Bertin, que, por sua vez, repassou a quantia de aproximadamente R$ 6 milhões a um empresário do Rio de Janeiro envolvido no esquema.” O empresário do Rio, ainda segundo a Procuradoria, fez transferências diretas para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan, além de outras pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo empresário –entre eles, o então dono do “Diário do Grande ABC”, de quem Ronan comprava o periódico. Os investigadores suspeitam que uma parte das ações do jornal foi comprada com dinheiro proveniente do Schahin, por meio de contratos simulados.
No dia 10 de abril de 2014, foi publicado um vídeo (confira ao final da matéria) em que a deputada federal, por São paulo, Mara Gabrilli interpela Gilberto Carvalho sobre o caso Celso Daniel e acusa ‘o homem do carro preto’ de repassar a José Dirceu o dinheiro extorquido de empresários, citando o nome de Ronan Maria Pinto.
De acordo com as investigações da PF, uma das empresas de ônibus de Ronan recebeu R$ 2,9 milhões de uma firma de “agenciamento”, a Remar. A operação guarda relação com um depoimento prestado em 2012 pelo pivô do escândalo do mensalão, o publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza, segundo o qual houve uma operação política em 2002 com o objetivo de comprar o silêncio de Ronan Pinto (foto ao lado) sobre denúncias de irregularidades na Prefeitura de Santo André.
Na época do seu assassinato, em janeiro de 2002, Celso Daniel era coordenador da pré-campanha de Lula à Presidência e revelações sobre irregularidades na prefeitura poderiam impactar a campanha do petista.