Quem nele votou com a expectativa de um novo Lula, se frustrou. E quem nele votou com a expectativa de ter o mesmo Lula, se realizou
Por Antonio Marcus Carvalho Machado
Após a vitória de Lula, fui consultado e expressei minhas opiniões sobre o novo governo. Seria um Lula diferente, renovado? Ou seria aquele mesmo de outras gestões? Com muito respeito à personalidade política que ele é, eu disse que seria mais do mesmo. Até muito mais do mesmo. Qual seja, um Lula com atitudes que lhe são bem peculiares, com mais ênfase ainda. Alguns exemplos:
- Intervencionismo nas gestão das estatais e instituições públicas ao seu alcance. Recomendações para tomada de decisões, orientações de natureza administrativa e até críticas abertas via meios de comunicação. Isso ocorreu de fato ou em tentativas.
- Retorno dos próceres do PT. Mercadante, Dilma, Celso Lafer, José Dirceu, Guido Mantega (tentativa), Haddad e outros companheiros históricos locupletaram-se em diretorias de estatais ou em recém-criados ministérios.
- Busca pelo protagonismo global. Atropelando o Itamaraty e o corpo de diplomatas, tão logo tomou posse tratou de organizar viagens internacionais e de se manifestar abertamente sobre questões polêmicas em um ambiente internacional em plena convulsão bélica e buscando uma reconfiguração geopolítica. Muitas vezes com opiniões próprias.
- Aumento do gasto público. Renovou sua própria convicção de que certos gastos públicos (no caso várias formas de transferência de renda, criação de ministérios, viagens e afins) são investimentos, contrariando a ciência financeira e comprometendo o equilíbrio fiscal. A relação dívida/PIB tende à 80%.
Bem, passados quase dois anos de governo, o tempo mostrou que eu estava certo. Mas era fácil acertar pois o atual presidente tem uma personalidade muito forte e a exerceria como sempre fez. Democraticamente eleito, ele teria, como tem, a prerrogativa de assim proceder, desde que sempre respeitando normas e leis estabelecidas. Nesse caso, existem Instituições de direito que podem e devem acompanhar sua trajetória e orientá-lo. Na percepção popular, cabe ao eleitor avaliar e decidir por sua aprovação ou não. Quem nele votou com a expectativa de um novo Lula, se frustrou. E quem nele votou com a expectativa de ter o mesmo Lula, se realizou.
No campo econômico, o atual governo voltou às suas premissas de atuação na demanda agregada (consumo das famílias, investimento das empresas, gastos do governo e saldo das relações comerciais externas) descartando as do governo anterior que tinha foco no suply side economics, a oferta agregada. Após dois anos de governo, ainda não se tem uma política econômica clara e objetiva, mas se tem uma piora do desequilíbrio fiscal, um aumento de gastos governamentais e uma perigosa e indesejada tendência de crescimento, ainda que gradual, da espiral inflacionária.
No momento em que mais se precisa de um líder exemplar para resolver gargalos estruturantes, o presidente tem baixa taxa de favorabilidade popular e baixa efetividade na coordenação política, haja vista o tímido desempenho do Partido dos Trabalhadores nas eleições recentes. O som do vazio ecoa na incerteza.
Antonio Marcus Carvalho Machado é economista (Ufes) e mestre em Administração (UFMG)