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sábado, 27 abril, 2024

O crescimento da nova geração da melhor idade

Associar atividade física e alimentação equilibrada é a melhor arma para a longevidade, mas levar a vida com liberdade para escolher fazer o que mais se gosta depois dos 60 anos também é importante

Por Sannie Rocha

Talvez não exista um slogan mais propício para definir a atual terceira idade do que “velha ficava a sua avó”. Foi-se o tempo que a rotina do idoso era limitada a agulhas de tricô e crochê ou a passar um dia inteiro vagando pela casa vestido em pijama.

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A nova velha geração quer mais do que isso e hoje faz ginástica, plástica, lipoaspiração, usa produtos estéticos, arruma-se, tem projetos de vida, desejos, ama, namora, trabalha, mesmo depois de aposentar… Ufa!

Exemplos dessa nova geração da melhor idade não faltam. Sebastiana Teixeira Lima, 69 anos, é um deles. Viúva há quatro anos, mãe de três filhos e avó de quatro netos, ela tem uma vida muito ativa, bem diferente do que via nas avós da sua época.

“Faço caminhadas diárias no calçadão da praia, hidroterapia, participo de obras sociais na igreja, faço artesanato, trabalhos manuais, viajo, cuido da casa, dos netos e namoro. Tenho muitos projetos que ainda quero colocar em prática”, conta ela, lembrando que seu próximo passo será fazer um curso de informática.

Atualmente a terceira idade conta com mais de 22 milhões de pessoas em todo o país, sendo mais de 250 mil no Espírito Santo, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Instituto Jones dos Santos Neves. Por ser tão ativa e numerosa, essa também é uma população bastante exigente, algo que está obrigando prestadores de serviço e poder público a repensarem estratégias para atender às novas características, necessidades e demandas desse público.

E será preciso se preparar ainda mais, porque a projeção divulgada pelo IBGE no ano passado mostra que os números só tendem a aumentar, chegando a prever mais de 41 milhões de idosos no Brasil e 862 mil no Espírito Santo até 2030.

Isso porque a expectativa de vida estimada do brasileiro, atualmente de 74,8 anos, subirá gradativamente a cada ano chegando a 78,6 anos até lá, sendo que no Espírito Santo será ainda maior, 81,2 anos, perdendo apenas para Santa Catarina.

Mas o que está fazendo os brasileiros viverem mais tempo? Qualidade de vida, quebra de barreiras e preconceitos são a resposta, segundo o geriatra Raphael Rocha Ferreira. A associação alimentação equilibrada e prática regular de atividade física ainda é a principal arma para a longevidade.

“A melhor dica de longevidade está em alimentação balanceada, atividade física e consulta periódica ao médico de confiança” Raphael Rocha Ferreira, geriatra

“O meu grande desafio com essa idade é a velocidade de atualização das coisas. Preciso ficar sempre atualizado e buscar novas informações, para não ficar para trás. A facilidade é que minha ampla experiência e minhas vivências me trazem confiança e variedade de contatos” Pedro Gonçalves Pinto, 62 anos, aposentado e empresário

“Essas duas coisas, e consultar um médico de confiança regularmente, contribuem bastante para o aumento da qualidade de vida. Existem pessoas que procuram cedo um geriatra para acompanhamento, às vezes apenas porque querem fazer prevenção de doenças que têm histórico familiar, mas algumas vezes porque desejam prolongar os anos de vida”, explica o médico.

E não é só o fator expectativa de vida o interesse dos novos idosos; a estética faz parte dessa longevidade, e nesse ramo as mulheres ainda são maioria. “Vale lembrar que a atividade física e a qualidade da alimentação também contribuem com a beleza. As pessoas ficam mais bonitas quando estão ativas e quando estão se amando, se cuidando”, acrescentou o geriatra.

Mesmo com toda expectativa e uma vida mais ativa, os dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad), também realizada pelo IBGE, demonstram que 75,5% da população idosa brasileira tem algum tipo de doença crônica, como hipertensão e diabetes, ou as crônicodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

Por essa razão, a consulta ao geriatra é tão importante, por ser o acesso a uma especialidade que acompanha a prevenção e o tratamento das patologias ligadas ao envelhecimento humano.

A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) já se preocupa com as estimativas traçadas pelo IBGE de aumento da população idosa do Brasil, pois hoje só existem 1.295 geriatras e gerontólogos, o que não é suficiente para atender à atual demanda, sendo necessário qualificar muitos profissionais para dar conta dos 41 milhões de idosos estimados para 2030.

Aposentadoria x trabalho

A qualidade de vida do idoso está ligada à aposentadoria? Sim e não. Segundo o médico Raphael Rocha, não há problema em se manter trabalhando, porque é muito importante se sentir útil nessa fase; no entanto é preciso cuidado.

“As atividades não devem ser muito estressantes e não devem impedir o lazer. O mais importante é ter liberdade para fazer o que se quer”, destaca o geriatra. Essa liberdade é hoje a alegria do casal Gerson e Maria Thereza Oggioni, que tem 81 e 77 anos, respectivamente.

Desde que se aposentaram há 12 anos e deixaram de trabalhar na empresa de perfumaria com os filhos, eles fazem o que querem e a seu tempo.

“Mantemos alimentação equilibrada, fazemos ginástica juntos, dançamos forró no baile da terceira idade. Meu marido lê muito, eu costuro, faço bordado com fita em toalhas e vendo. Fazemos também o trabalho da casa juntos. Acredito que isso é o que nos mantém com a mente e o corpo saudáveis”, conta dona Maria Thereza.

O caminho contrário tem feito Pedro Gonçalves Pinto, de 62 anos. Em 2008 ele resolveu fazer o Empretec, curso de formação de empreendedores do Serviço de Apoio a Micro e Pequenas Empresas do Espírito Santo (Sebrae-ES) e ao se aposentar decidiu montar uma empresa do ramo de eletrônica industrial e doméstica.

O negócio deu certo, e hoje ele está buscando credenciamento junto ao Instituto de Pesos e Medidas de Minas Gerais (Ipem-MG) para fornecer seus serviços à Samarco Mineração.

“O meu grande desafio com essa idade é a velocidade de atualização das coisas. Preciso estar sempre atualizado e buscar novas informações, para não ficar para trás. Enquanto este é o desafio, a facilidade é que minha ampla experiência e minhas vivências me trazem confiança e variedade de contatos”, pontua.

De acordo com os dados do Sebrae de 2013, existem 3.259.621 microempreendedores individuais no Brasil, sendo que 118.502 têm mais de 61 anos.

No Espírito Santo, 3.032 são idosos, 2.551 com idade entre 61 e 70 anos, e 481 com mais de 70 anos. O número é superior ao de jovens entre 18 e 20 anos que se tornaram empreendedores.

A gestora do Programa Microempreendedor Individual do Sebrae-ES, Renata Braga, acredita que as pessoas estão se aposentando relativamente cedo e sentem a necessidade de voltar ao mercado de trabalho, o que pode explicar o alto número de idosos empreendedores. “Toda pessoa que tem um objetivo ou um sonho deve avaliar a viabilidade desse sonho e buscar orientação. Com capacitação e planejamento, todos podem alcançar o que desejam, independente da idade”, aconselha.

Segundo os dados apresentados pelo Instituto Jones dos Santos Neves, através do Censo 2010 do IBGE, da população total com mais de 65 anos, 46.261 são economicamente ativos; desses 45.542 estão ocupados e 718 pensam em ter alguma atividade econômica.

Adaptação à nova realidade

É comum encontrar nos municípios as academias de idosos preparadas pelas prefeituras. A moda apareceu exatamente por conta da necessidade e desejo dos idosos em participar de atividades físicas regularmente.

É preciso acompanhamento de um profissional de Educação Física treinado no atendimento à terceira idade para orientar cada um dos exercícios de acordo com as necessidades de cada um deles.

“Para realizar qualquer atividade física, é preciso que seja feita uma avaliação cardiovascular detalhada. As atividades mais procuradas são caminhada e hidroginástica, mas eu gosto de indicar a musculação, por conta do baixo impacto articular e a reduzida alteração cardiovascular”, salienta o geriatra Raphael Rocha Ferreira.

Mas a adaptação das cidades, bem como a prestação de serviços aos idosos, vai além de academias. É preciso, segundo o médico, atendimento especializado e adaptado para o idoso, tanto em espaços públicos como no comércio.

“Precisamos de locais com acesso facilitado, atendentes e vendedores com paciência, que estejam qualificados para atender à terceira idade, que dediquem mais tempo para esse trabalho”, concluiu.

Consumo do idoso

O setor de viagens é um dos mais promissores para atender à terceira idade. Por essa razão, o Ministério do Turismo criou o programa Viaja Mais, que já vendeu 599 pacotes turísticos desde que foi lançado, em 2007.

O programa foi reformulado ano passado e voltou com descontos de até 70%. São 22 operadoras cadastradas oferecendo 270 produtos e serviços de viagens para a melhor idade. Os pacotes são vendidos em até 48 vezes pelos bancos do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Na primeira etapa do Viaja Mais, de 2007 a 2010, os pacotes mais demandadoss foram para Natal (RN), Fortaleza (CE), Lins (SP), Caldas Novas (GO) e Serra Gaúcha(RS). Com esses dados é possível se comprovar que a terceira idade está cada vez mais querendo aproveitar seu tempo com ações agradáveis, e viajar é uma delas.

“Sempre viajo. Além do meu namorado morar em Niterói, no Rio de Janeiro, o que contribui para que eu viaje mais é sentir que é algo que renova a alma, me deixa mais leve” conta a pensionista Sebastiana Teixeira Lima.

Também o casal Gerson e Maria Thereza Oggioni não abre mão de um bom passeio junto e viaja duas vezes por mês. Venda Nova do Imigrante foi o destino que mais mexeu com os dois. “São essas coisas que renovam a nossa vida e proporcionam mais e mais chance de viver bem na melhor idade”, conclui Maria Thereza.

Por mais que ainda haja muito para se avançar nas questões ligadas à terceira idade, com o tempo cada vez menor que as famílias têm para se dedicar aos idosos, os especialistas e até os próprios vovôs e vovós garantem que as possibilidades de consumo e lazer aumentaram e estão entre as vantagens da velhice, que cresce cada dia mais no Brasil.

Esta matéria foi publicada originalmente na edição 105 da revista ES Brasil, de abril de 2014. As pessoas ouvidas e/ou citadas podem não estar mais nas situações, cargos e instituições que ocupavam na época, assim como suas opiniões e os fatos narrados referem-se às circunstâncias e ao contexto de então.

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