Já com quase oito anos, a atual etapa da crise econômica atingiu e atingi de forma distinta países. A maneira como cada um buscou superá-la no primeiro momento e nos seus desdobramentos foi e é bastante distinta.
Os Estados Unidos, por exemplo, na administração Bush optou por assegurar a viabilidade e rentabilidade do sistema bancário; na administração Obama, deu ênfase tanto ao segmento automobilístico – em função de sua capacidade de gerar empregos; quanto a setores portadores de futuro. Alocou recursos substanciais em ciência e tecnologia e no apoio a novos empreendimentos intensivos em conhecimento – como energias renováveis, biotecnologia, nanotecnologia.
O Brasil, voltou-se para o mercado interno de consumo, impulsionado pelo Bolsa Família, pela ampliação do acesso ao crédito e por desonerações em segmentos maduros – com destaque para o automobilístico. No que diz respeito ao investimento, optou por estatais e por grandes empresas privadas, principalmente em obras voltadas para os chamados grandes eventos – copa e olimpíadas.
No setor externo, manteve o histórico apoio à exportação de commodities. Com uma estrutura industrial fortemente sob controle de multinacionais, são poucas as possibilidades de no curto prazo a dependência desse tipo de inserção internacional ser superada.
Como a crise mundial está longe de ser superada – por suas profundas raízes na financeirização mundializada e pelos interesses políticos que ela impõe e que dela derivam – os graus de liberdade para políticas econômicas de países são limitados, mas existem. O Brasil, por exemplo, pode aumentar sua preferência pelo mercado interno, priorizando agora investimentos.
Esses investimentos têm de priorizar segmentos onde o País apresenta vantagens comparativas – como energias renováveis, biodiversidade, potencial criativo de sua gente. Devem também focar em áreas onde são historicamente crônicos as dívidas sociais: educação, saúde, transporte público, saneamento, habitação.
Em todas essas áreas há potencial para inovações intensivas em tecnologia mas sem sofisticação. Micro, pequenos e médios empreendimentos (MPMEs) de capital nacional podem nelas prosperar se adequadamente apoiadas por um sistema de crédito, financiamento e de compras governamentais. Mais, podem abrir um novo horizonte para as exportações brasileiras de produtos com maior valor e conhecimento agregados.
Crise vista como oportunidade implica em determinação; determinação política para conciliar ajustes fiscais com a continuidade e ampliação de políticas sociais. Exige também que a forma e o conteúdo de fazer investimentos na produção e na infra-estrutura, sejam modificados para abrir espaços para MPMEs. Além de serem as que mais empregam, essas têm raízes no País e podem contribuir para que ele se posicione melhor no cenário internacional.
Arlindo Villaschi é Professor de Economia e Coordenador do Grupo de Pesquisa em Inovação e Desenvolvimento Capixaba/Ufes