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terça-feira, 30 abril, 2024

“Metas, lucros e… Felicidade!”

"Metas, lucros e... Felicidade!"

Falar sobre felicidade no ambiente corporativo? Sim! Afinal, funcionário feliz produz mais e melhor. Investir em felicidade no mundo dos negócios é, além de outras coisas, economicamente relevante para as empresas

Uma pesquisa realizada pela consultoria de recursos humanos Right Management com trabalhadores brasileiros, em 2011, revelou algo que tem sido negligenciado por muitas corporações: o índice de descontentamento do funcionário com o seu trabalho. Entre os 5.685 entrevistados, 48% responderam ‘não’ à pergunta: “Você é feliz no seu trabalho atual ou na sua última ocupação?”. Desses, 51% são mulheres e 53% dos que responderam são graduados.

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Um outro levantamento, da Towers Watson em 16 países e divulgado em julho do ano passado, mostrou que no Brasil a perda anual pelo baixo engajamento dos funcionários chega a US$ 42 bilhões. Cerca de 30% dos empregados, segundo a pesquisa, encaixam-se no chamado “presenteísmo” – quando o colaborador está presente fisicamente na empresa, mas com a cabeça, ou a “alma”, bem longe. E o desengajamento é responsável pela perda, de pelo menos, 14 dias de trabalho por ano.

Mesmo timidamente, as pesquisas retratam, em números, o que é comum perceber no dia a dia: empregados desmotivados, infelizes e produzindo muito pouco, aquém da capacidade e potencial. Mostra disso são as campanhas nas redes sociais, nas quais a chegada da sexta-feira (ou seja, do final de semana e da provável folga do trabalho) é comemorada, já a da segunda-feira, detestada.

E não são necessários cálculos complexos para prever que a insatisfação do empregado vai doer no bolso do empregador no final do mês. Nem tanto por uma conscientização, mais, porém, por motivo de sobrevivência, discutir felicidade no trabalho torna-se, assim, uma pauta obrigatória no mundo empresarial.

Foi dessa necessidade que surgiu o livro “Felicidade S.A. – Por que a satisfação com o trabalho é a utopia possível para o século 21”, do jornalista Alexandre Teixeira. Ele somou sua experiência em liderança e gestão de pessoas a um curso que fez em São Paulo, em que pôde refletir sobre o que gosta de fazer e de que forma poderia usar suas habilidades profissionais a serviço de uma causa, em prol da sociedade. Ele defende, no livro, que “novas descobertas na neurociência, na psicologia e na economia tornam absolutamente claro o elo entre uma força de trabalho feliz e contente e resultados melhores para a atividade empresarial”.

Tudo por dinheiro?

É antiga a discussão sobre o peso do dinheiro na felicidade do homem. Há um dito popular que afirma que “se dinheiro não traz felicidade, ao menos, ajuda a comprá-la”. É instantâneo o contentamento de alguém que recebe uma promoção, aumento em seu salário ou ainda um ganho inesperado de determinada quantia. No entanto, psicólogos e economistas já encontraram evidências de que a correlação entre dinheiro e felicidade é fraca.

E a corrida para comprar felicidade, pela via do consumo, está na origem da epidemia de infelicidade dos últimos anos, segundo Teixeira descreve em seu livro. Para ele, o primeiro paradigma a ser quebrado quando se quer investir, realmente, em um ambiente satisfatório de trabalho é o da “monocultura financeira”.

“É a visão de mundo segundo a qual todos nós estamos dispostos a trabalhar cada vez mais, para ganhar cada vez mais dinheiro e consumir cada vez mais. Entre muitos outros efeitos colaterais, esse paradigma leva as empresas a conceberem sistemas de ‘atração e retenção’ de profissionais quase inteiramente baseados em recompensas financeiras. É essa visão de mundo que transforma trabalhadores em máquinas de bater metas e ganhar bônus. Quem decide investir em satisfação precisa começar com um esforço de autoconhecimento. Isso vale para pessoas físicas (empregados) e pessoas jurídicas (empregadores). Quem faz isso normalmente chega à conclusão de que tem um pacote de motivações para trabalhar, do qual o dinheiro é apenas um componente”, disse Teixeira.

Para o jornalista, autonomia, curiosidade intelectual, idealismo, criatividade, equilíbrio entre vida profissional e vida pessoal são ingredientes que as pessoas colocam em sua receita pessoal de felicidade no trabalho, além do dinheiro. Pois, supridas as necessidades básicas, a recompensa financeira não servirá mais de motivadora para a satisfação – não são raros os casos em que funcionários abrem mão de um bom salário e vão trabalhar em empresas onde receberão bem menos –, o que faz com que o mundo empresarial busque novas alternativas para manter o funcionário engajado à instituição.

Para o conferencista Usiel Carneiro, há mais coisas a serem buscadas além do pagamento no final do mês. “Pessoas buscam significado, querem encontrar o seu lugar na vida, realizar algo que lhes pareça singular, que expresse mais de si mesmas. Nossa natureza é muito rica em possibilidades e achar que dinheiro resolve a questão é simplificar demais algo tão belo como o ser humano”, afirmou.

Afinal, o que buscamos?

No final de 2011, a jornalista Caroline Tardin, 35 anos, tomou uma importante decisão em sua vida profissional. Depois de 12 anos em uma mesma empresa, decidiu pedir demissão e ir trabalhar em uma instituição menor, para ganhar menos, mas em troca de “qualidade de vida”.
“Trabalhava até muito tarde, inclusive finais de semana e feriados, e o prejuízo pessoal era grande. A família e os amigos sempre ficavam em segundo plano. Além disso, sentia necessidade de viver novas experiências profissionais. Estava infeliz”, disse Caroline.

A morte do seu pai, naquele mesmo ano, foi o estopim para que ela tivesse coragem para mudar de vida. “Foi neste momento que realmente entendi o quanto o tempo é algo precioso. Senti isso na alma, pois fiquei com a amarga sensação de ter curtido muito pouco o meu pai. Queria poder ficar mais com minha família, com meu marido, com meus amigos, queria cuidar de mim, mudar de vida. Então, decidi pedir demissão.”
Na contramão de algumas empresas e de muitos funcionários, Caroline não se arrepende. “Hoje, tenho um salário menor, mas alcancei o que buscava: ter mais tempo para me dedicar às pessoas que amo. Também voltei a fazer exercícios, a estudar inglês e a cuidar mais da minha vida espiritual. Estou feliz com as mudanças na minha vida”.

Jornadas de trabalho intermináveis, nada de reconhecimento, falta de diálogo, desconhecimento ou falta de identificação com os valores e metas da empresa, desconfiança com relação ao futuro do emprego, desequilíbrio entre capacitação e desafio e problemas com a liderança são os principais fatores da desmotivação no mundo empresarial, segundo o gerente de Comunicação, Responsabilidade Social e Relações Institucionais da ArcelorMittal, Sidemberg Rodrigues. Ele, que também é escritor – autor do livro “Espiritual e Sustentável” – e palestrante, destaca, entre os motivos, dois principais: a relação entre capacidade x desafio e a chefia.

“Se não há equilíbrio entre capacitação e desafio isso vai gerar desmotivação. Ter potencial e ser desafiado pouco é ruim. Mas também é ruim ser desafiado além da sua capacidade. Outra questão é a chefia, chego a dizer que a liderança é um fator decisivo para a felicidade no trabalho”, afirmou Sidemberg.

Para ele, o gestor precisa ser inspirador e enxergar o “ecomapa” do funcionário. “O gestor precisa ter uma visão holística sobre o funcionário, saber que o que ele passa do lado de fora da empresa vai interferir no lado de dentro. Precisa identificar quando o funcionário está em um posto equivocado, por não se identificar, e recolocá-lo. O chefe precisa ser inspirador e não transformar a gestão em um lugar horrível para os funcionários.”

Através de um estilo de gestão “espiritual” – não tem ligação com a religião, mas com o fato de olhar para o todo do indivíduo, para situações que ultrapassam os muros da empresa – estatísticas foram mudadas, como a redução no rodízio de funcionários, no número de absenteísmo (faltas ao serviço) e na criação de um ambiente de trabalho favorável.

“A visão espiritual diz que é preciso estar bem com você mesmo, bem com o outro e bem com o meio. Não posso esperar que um pai que esteja com um filho nas drogas chegue para trabalhar bem. Ele vai trazer esse problema para o trabalho e a empresa precisa estar preparada para lidar com isso, pois a empresa é uma célula envolvida no tecido social”, afirmou Sidemberg.

“Além disso, uma empresa com boa reputação atrai funcionários. Em nosso último processo seletivo para trainee, foram 20 mil candidatos para 100 vagas”, ressaltou o gerente. De acordo com pesquisadores e especialistas, nas 100 melhores empresas para trabalhar, as palavras que os funcionários mais relacionam a suas companhias são “pessoas”, “família” e “tempo”. “Pagamento” ocupa apenas a 81ª. posição.

O caminho para a felicidade

Ainda que muitos percebam que algo não vai bem em seu escritório, a tendência da maioria é se acomodar e levar com a barriga até que a situação chegue a um ponto em que se torna insustentável tanto para empregador como para empregado. “A maioria acaba acomodando-se demais e prefere administrar sua própria insatisfação, o que é péssimo para a empresa. Mas, certamente, os melhores talentos da empresa podem ser aqueles que saem”, disse Usiel.

No entanto, há outras saídas que não seja a debandada geral. “Para minimizar o risco, acredito que a organização deve construir um ambiente mais flexível e participativo de seus cooperadores na determinação de suas atividades e postos de trabalho. Devem também ajudar no amadurecimento de talentos por meio de investimentos em capacitação e participação em projetos multidisciplinares. Não é simples, dependendo da natureza do negócio. Mas sempre é possível. Uma empresa bem gerida quanto a seus colaboradores encontrará caminhos e minimizará perdas”, afirmou.

Ele citou algumas alternativas: “As empresas devem investir, não somente em capacitação técnica, mas em capacitação para a vida, em gestão pessoal, relacionamentos interpessoais, espiritualidade, ética. Os funcionarios devem se despertar para o valor de uma relação saudável com seu empregador. Há funcionários mal-intencionados e exploradores, que roubam de seus empregadores em termos de trabalho e compromisso. Uma utopia a ser valorizada e perseguida seria uma organização cujo estilo de gestão permita espaço para valores humanos e familiares, em que a participação de todos seja valorizada e as decisões ocorram de forma transparente”, sugeriu.

Já Sidemberg explicou que há várias formas de se passar uma nova visão para a empresa: “Podemos fazer isso com o jornal da empresa, com campanhas de compaixão e voluntariado, palestras internas, consultorias. É claro que não é uniforme, com todo mundo ao mesmo tempo. E nem é homogêneo, com todo mundo no mesmo nível. Cada pessoa tem o seu tempo para assimilar”.

E além de atitudes práticas, é preciso também tomar algumas precauções. “É preciso estabelecer limites, algo difícil, mas fundamental. É preciso aprender a ser livre e gerir a própria vida de maneira a não comprometer essa liberdade. Por exemplo: há pessoas que alcançam crescimento de renda e elevam ao mesmo nível seus gastos pessoais. Com isso, tornam-se dependentes dessa geração de renda e se sentirão pressionadas a fazer o que for preciso para manter o ganho, sob pena de mão pagar as contas. Isso é uma grande tolice na carreira profissional. Devemos gerenciar nossa vida de modo a podermos dizer os ‘nãos’ necessários às demandas profissionais que invadem nossa vida pessoal. Qualidade de vida é vida equilibrada, em que encontro espaço, tempo, para atender às múltiplas necessidades existenciais. Para alcançar isso, é preciso cuidar bem de nós mesmos, do nosso mundo interior, ter relacionamentos saudáveis e verdadeiros.”

Mais do que uma simples opção, ser feliz como organização é estratégico: minimiza prejuízos e aumenta os ganhos tanto com a produtividade e o lucro quanto com aquilo que não se pode mensurar nas estatísticas, o bem-estar em saber que o trabalho pode ser uma apaixonante missão durante a jornada da vida.

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