Pesquisa nacional revelou desafios como a necessidade de recuperação de preços dos produtos e ampliação do hábito de leitura do brasileiro
Por Mariah Friedrich
O mercado editorial brasileiro tem enfrentado uma série de desafios e mudanças nas últimas décadas, e as editoras estão tentando reverter a situação. O artigo “Os Fatores de Transformação do Mercado Editorial Brasileiro”, elaborado pela Nielsen BookData, Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro (CBL), destaca essas tentativas para se posicionar no mercado, elevando preços e recuperando o valor do livro, historicamente encolhido.
Diante desse cenário, editoras capixabas como a Pedregulho, que há mais de uma década movimenta o cenário literário do Estado, têm adotado estratégias para manter a sustentabilidade empresarial. Segundo a editora, escritora e idealizadora da Pedregulho, Marília Carreiro, a elevação dos custos de produção é um desafio enfrentado a partir de ações como a pré-venda com tiragem mínima para a impressão das obras.
“Essa abordagem permite equilibrar a introdução de novos títulos com a manutenção das necessidades empresariais da editora e proporciona uma visão antecipada da demanda, permitindo alocar recursos de forma mais eficiente. Como os projetos têm uma quantidade limitada de exemplares, saber exatamente quantos livros serão impressos ajuda a evitar prejuízos”, explica.
Além de evitar prejuízos, a proprietária da Editora Pedregulho destaca que a visibilidade e o reconhecimento gerados pela pré-venda permitem que os livros se difundam, alcançando um público maior e fortalecendo as autorias.
De acordo com o estudo desenvolvido pela Nielsen BookData, Sindicato Nacional de Editores de Livros (SNEL) e Câmara Brasileira do Livro (CBL), embora as editoras estejam tentando recuperar os preços – que, em termos reais, são 30% menores do que em 2006 – os consumidores ainda consideram os valores altos.
Para mitigar as perdas, as editoras têm aumentado o preço médio dos livros e investido no conteúdo digital, que registrou um crescimento real de 158% em cinco anos, representando 8% do faturamento total das editoras em 2023.
Na Pedregulho, além da estratégia de pré-venda, Marília Carreiro relata que tem buscado otimizar o processo de impressão para lidar com a realidade de reajustes nos custos de serviços e materiais e papéis, concentrando-se em tiragens mínimas que atendam à demanda prevista, evitando desperdícios/prejuízos.
“A pré-venda desempenha um papel crucial ao proporcionar uma visão clara da quantidade necessária, o que ajuda a mitigar os efeitos do aumento nos custos dos insumos, como o papel. Dessa forma, a editora consegue manter os preços dos livros competitivos e garantir a continuidade dos lançamentos, mesmo em um cenário de aumento dos custos de produção”, descreve Marília Carreiro.
Outro ponto crucial abordado no relatório é a crescente busca por modelos de negócios digitais, que têm se mostrado essenciais para a adaptação do setor. O estudo ressalta que o mercado editorial brasileiro sofreu perdas significativas desde 2015, impactado por fatores como a crise econômica, a pandemia e o fechamento de grandes redes de livrarias.
No período de 18 anos, o faturamento das editoras com vendas ao mercado privado caiu 43%, e o número de exemplares vendidos diminuiu 39% em 12 anos, passando de 284 milhões em 2011 para 172 milhões em 2023.
Em relação à evolução dos canais de venda, a pesquisa indica que as livrarias virtuais, como a Amazon, ganharam destaque, especialmente para as editoras de Obras Gerais e CTP, representando 51% das vendas para essas editoras. No entanto, as livrarias físicas ainda desempenham um papel importante, principalmente para editoras de livros Didáticos e Religiosos.
Resgate do hábito da leitura
O Diretor-tesoureiro do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Renato Fleischner, afirma que o principal desafio é elevar o hábito de leitura do brasileiro. “Hoje a média de leitura do brasileiro é extremamente baixa, como indicado na pesquisa retratos da leitura”, comenta.
Para remediar este quadro, o SNEL tem apoiado as ações propostas no Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), que em linhas gerais, “prevê o investimento em bibliotecas públicas com a ampliação das obras disponíveis”, explica Renato Fleischner.
Segundo o representante do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), o Plano pretende fomentar o hábito da leitura por meio da democratização do acesso ao livro, dinamizar a formação de mediadores para atuar nas escolas, valorização do livro como bem cultural e apoiar o desenvolvimento da economia do livro.
“O livro está diretamente associado a qualquer iniciativa que estimule a melhoria do nível educacional da população brasileira”, conclui o Diretor-tesoureiro do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), Renato Fleischner.